O ciclo de prosperidade que se instalou no pais no ano de 2004, virando a página da estabilização monetária adotada no Plano Real, segurou a inflação e provocou até a valorização do real. A conseqüência: as empresas se beneficiaram do cenário de maior previsibilidade, fato histórico e não visto ha muitos anos.
Naturalmente a oferta de crédito deu um salto e o consumo ganhou força. A taxa desemprego caiu pela metade (de 12% para 6%). A renda dos mais pobres avançou em velocidade superior à renda dos mais ricos, derrubando boa parte da desigualdade, embora esta seja elevada ainda. O consumo aumentou, mas o ciclo de prosperidade, segundo os economistas Fábio Giambiagi e Armando Castelar Pinheiro, entre grande corrente, pode estar perto do fim.
Não se pode negar que o rápido crescimento destes últimos oito anos deu-se basicamente em razão das altas acentuadas dos preços dos produtos exportados pelo Brasil, especialmente as commodities de um lado, e do crescente endividamento da família brasileira na aquisição de bens de outro, cujas aquisições impulsionaram o comércio com crescimento de 8,13% entre 2005 e 2011 enquanto que a indústria cresceu apenas 2,4% no mesmo período.
Ou seja: a indústria não acompanhou esse desenvolvimento, não atendeu à expansão e, claro, tornou viva a volta da corrente inflacionária pela falta de produtos.
Mais ainda, vejamos essa perigosa situação: os Bancos brasileiros estão com R$ 10,4 bilhões em prestações não pagas, com 5,90% de índice de inadimplência, considerada alta e perigosa, tudo como reflexo dos excessos praticados pela política governamental em 2010 e 2011. É o famoso ato de gastar mais do que pode ou demanda reprimida.
Pois bem, mesmo estando o consumo nesse patamar de dívidas, o Governo continua nessa política, incentivando e perseverando- a e, na esteira, sem levar em conta o endividamento recente da família brasileira, faz ataque direto à alta cobrança de juros bancários que, baixados — como de fato estão baixando — certamente aprofundará o desequilíbrio do endividamento de consumo.
Esse contraditório quadro ressalta a falta de competitividade dos fabricantes brasileiros que perderam espaço para os produtos importados, sobretudo da China que compra nosso minério de ferro e nos devolve em produtos agregados com preços infinitamente menores do que os aqui produzidos. Ou seja: A China dá vivas à carga tributária trabalhista e fiscal brasileira e à falta de infraestrutura. Não só a China, parece que a Argentina segue esse mesmo caminho….
O Brasil poderia crescer de 5% a 6% se mudasse o foco do consumo para o de acelerar a economia por via da produtividade, afirma Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central.(Estadão de 27/5/12, pag. B7).
Quase toda corrente econômica brasileira pensa em metas possíveis de crescimento do país, desde que feito pela via da aplicação em infraestrutura, rodovias, navegação, ferrovias, aeroportos, transporte e portuária, com taxa de investimento condizente, com menor custo brasil e na melhoria da educação marginalizada.
O quadro estrutural existente foi feito para um outro Brasil e não mais resiste à pressão do crescimento.
É preciso estar menos focado no lado da demanda do que do lado da oferta. Nossa indústria tem que crescer e para tanto a reforma tributária real tem que chegar o mais urgente possível, assim como a esperada reforma política, inadiável, aliás.
Não bastam as broncas da Presidente passada aos Bancos em razão dos Impostos, da Energia Elétrica e dos preços dos Hoteis do Rio de Janeiro. É preciso agir positivamente; sair da palavra à ação. A propósito o setor nacional de máquinas e equipamentos, ao contrário de outros países – inclusive do Brics – tem uma carga de impostos de 24%, segundo Joelmir Beting, valor esse que inviabiliza não só a aquisição de maquinário como o aumento e melhoria da produção.