Trabalho escravo, nao!

As manchetes da última semana foram tomadas pela notícia de que oficinas contratadas por uma famosa grife espanhola, parte do maior grupo têxtil do mundo, utilizavam mão-de-obra estrangeira em condições análogas à escravidão. Os trabalhadores vinham de países vizinhos ao Brasil em busca do “sonho brasileiro” e se viam obrigados a trabalhar por meses, sob condições degradantes, apenas para quitar a dívida que contraíram durante a mudança. Não bastassem as jornadas de trabalho superiores de até 16 horas, as oficinas descumpriam normas referentes à saúde e segurança no trabalho. Já os brasileiros empregados nas oficinas tinham carteira assinada e todos os benefícios garantidos.

 

O fato chama atenção para três fatores cruciais. O primeiro é a consolidação do Brasil como líder político e econômico da América do Sul, atraindo imigrantes em busca de oportunidades que não encontram em sua terra natal. Em segundo lugar, serve de alerta para toda a população sobre a realidade do trabalho escravo, que pode estar mais próximo do que imaginamos. Finalmente, o caso expõe o preconceito a que estão submetidos alguns estrangeiros no Brasil.    

 

É triste notar como alguns grupos étnicos vindos de países de fronteira, como Peru e Bolívia, são mal tratados em São Paulo, uma cidade cosmopolita, que vem acolhendo milhões de estrangeiros nos últimos dois séculos. O próprio empresariado fortalece o preconceito, ao empregá-los sob condições diferentes dos trabalhadores brasileiros. Os imigrantes são desrespeitados e marginalizados, o que dificulta ainda mais sua adaptação a um país diferente.        

 

São Paulo precisa estar preparada para acolher os imigrantes, especialmente de países vizinhos, conforme a projeção do país aumenta. Sinalização em vários idiomas e profissionais treinados para lidar com estrangeiros são apenas algumas das iniciativas que devem ser tomadas. O mais importante é combater o preconceito e disseminar a idéia de que todos têm o direito a condições humanas de trabalho e moradia em uma cidade democrática e moderna como São Paulo.       

 

 

Os países da América do Sul devem permanecer unidos no século 21, para garantir um crescimento sustentável que envolva todos os povos do continente. O Brasil deve acolher os imigrantes dos países vizinhos, verdadeiros povos irmãos, e tratá-los com o respeito e a dignidade que todo ser humano merece.

 

Gilberto Natalini é médico e vereador (PV)

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