A suspeita redução de mortes no trânsito de São Paulo anunciada pelo prefeito Haddad
No afã de justificar a política de redução de velocidade nas ruas de São Paulo, Fernando Haddad anunciou, com pompa, uma diminuição no número de mortes no trânsito de 21,4% em 2015. Segundo estudo “produzido” pela Companhia de Engenharia de Tráfego e divulgado em 10 de fevereiro de 2016, houve 904 mortes de janeiro a novembro de 2015, contra 1.150 mortes no mesmo período de 2014.
Chama-nos atenção o período selecionado por Haddad. Por que delimitá-lo entre janeiro e novembro e não computar o total de 12 meses do ano passado? Como se sabe, o prefeito vinha sendo questionado e criticado por implementar uma “indústria da multa” na cidade – a arrecadação com multas de trânsito subiu de R$ 897 milhões para R$ 1 bilhão entre 2014 e 2015, um crescimento real de 12,9%.
Para se ter uma ideia do alcance dessa “indústria da multa” em São Paulo, a arrecadação com multas de trânsito no bimestre janeiro/fevereiro de 2015 foi de R$ 150 milhões. Nos dois primeiros meses de 2016, entretanto, alcançou incríveis R$ 214,7 milhões – um crescimento de 43%.
Afinal, acreditamos ter decifrado a charada do prefeito. Menos de duas semanas após a Prefeitura divulgar os tais números de mortes no trânsito relativos ao período de janeiro a novembro de 2015, o governo estadual deu conhecimento público, em 23 de fevereiro de 2016, do Infosiga SP – Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo. O relatório técnico deixou claro: morreram no trânsito da cidade de São Paulo em 2015, de janeiro a dezembro, 1.119 pessoas.
Parece-nos pouco provável que houve 215 mortes no trânsito de São Paulo apenas em dezembro de 2015 – a diferença entre os 904 “produzidos” pela CET entre janeiro e novembro e o número final do ano, incluindo dezembro, que chegou a 1.119 mortes. Tudo indica que Haddad se aproveitou de uma maquiagem nas estatísticas produzidas em seu governo para forjar o sucesso de sua administração no trânsito de São Paulo.
Esperto, Haddad vangloriou-se da suposta queda de 21,4% nas mortes no trânsito de janeiro a novembro de 2015, mas, convenientemente, calou-se sobre as 215 mortes que faltavam nas estatísticas, supostamente ocorridas em dezembro – um aumento de 117% em relação às 99 mortes registradas em dezembro de 2014.
Gilberto Natalini é médico e vereador (PV-SP)