Programa Ecofrota em São Paulo: porque parou e como avançar foi o tema da reunião da Comissão do Meio Ambiente, de terça-feira (19) na Câmara Municipal de São Paulo.
“Infelizmente, além de abandonar o Ecofrota, que abrangia 1200 ônibus, a gestão Haddad emitiu edital para renovação da concessão por 20 anos, renováveis por mais 20 e no valor total de R$ 160 bilhões (não tramitou pela Câmara Municipal), mantendo apenas o diesel e sem uma linha sequer em favor de fontes de energia mais limpa”, afirmou o presidente da Comissão do Meio Ambiente, vereador Gilberto Natalini (PV) que já apelou junto ao Ministério Público e ao Conar por propaganda enganosa, já que os ônibus continuam circulando adesivados como “Ecofrota”, quando o programa acabou.
Implantado em fevereiro de 2011, o Ecofrota foi paralisado em abril de 2014, segundo a Prefeitura de São Paulo, por problemas de desempenho e dúvidas sobre a viabilidade e compra de tecnologias de substituição dos ônibus.
Ecofrota é um programa socioambiental de investimentos em combustíveis e tecnologia sustentáveis, no transporte público, com o objetivo de melhorar a qualidade do ar da cidade. São ônibus que usam fontes de energia renovável e menos poluente como biodiesel, diesel de cana de açúcar, etanol e eletricidade. Os recursos seriam provenientes das multas aplicadas no trânsito de São Paulo e do orçamento da Secretaria de Transportes.
Para cumprir a Lei de Mudanças Climáticas de São Paulo, aprovada em 2009, a cidade teria que adotar fontes de energia menos poluentes em 100% de sua frota (15 mil ônibus) até 2018. O programa Ecofrota deveria encontrar um modo de fazer isso, tanto do ponto de vista técnico (o desempenho dos ônibus não poderia piorar) quanto econômico (a solução escolhida teria de caber no Orçamento da SPTrans). Registre-se que já Prefeitura subsidia as concessionárias com R$ 6 bilhões/ano.
A proposta do Ecofrota é substituir a matriz energética dos ônibus municipais, retirando o diesel comum, para dar lugar a fontes mais limpas que reduziriam a emissão de material particulado inalável, de óxidos de nitrogênio e enxofre, monóxido de carbono e hidrocarbonetos despejados na atmosfera da cidade. Pesquisas da Faculdade de Medicina da USP, lideradas pelo professor Paulo Saldiva, apontam mais de 4000 mortes precoces, por ano, associadas a doenças cardiorrespiratórias.
Quarenta por cento da poluição da cidade de São Paulo vem do diesel e os gastos feitos na redução das emissões se revertem em ganho na área da saúde.
A convite da Comissão do Meio Ambiente, presidida pelo vereador Gilberto Natalini (PV) estiveram presentes Ricardo Vallejo, gerente de Marketing da Congás – “Benefícios e infraestrutura para uso de GN em ônibus”, Silvio Munhoz, diretor da Divisão ônibus Scania – “Tecnologias sustentáveis para transporte urbano por ônibus” e Ieda Oliveira, vice-presidente da Associação Brasileira de Veículos Elétricos – “Potencial de uso de ônibus elétricos e híbridos em São Paulo”, além do professor Thiago Brito, da USP/ Instituto de Energia e Ambiente – “Rotas tecnológicas de baixa emissão em ônibus”.
“O gás natural é o que tem menor custo de todos os combustíveis, inclusive diesel e não precisa de subsídio para o passageiro”, explicou Ricardo Vallejo, da Comgás ao informar que o Brasil “caminha para a autossuficiência de gás natural que é bastante competitivo já que é o que tem menor impacto financeiro, além de não poluir o meio ambiente”.
Silvio Munhoz, da empresa Scania assinalou que “o biometano começa a ser produzido no Brasil e o gás natural, por enquanto, é uma ponte para se chegar a ele”. Ressaltou que o gás natural é o combustível ideal em matéria de sustentabilidade e “que entrega à cidade uma solução mais econômica de transporte público”.
“O ideal é tornar o transporte cada vez menos poluente: ao substituir o diesel procura-se a redução de ruídos, viabilidade econômica e segurança no abastecimento, entre outras vantagens”, afirmou Thiago Brito, da Usp ao dizer que “na Usp há experiências com ônibus movidos a ar comprimido, o que, tecnologicamente, existe há cem anos em outros países”.
Na cidade de São Paulo são mais de 300 ônibus elétricos rodando, segundo Ieda Oliveira, da Associação Brasileira de Veículos Elétricos. “São mais silenciosos, têm baixo custo de manutenção e, comparados aos ônibus a diesel, têm redução de 26% no quesito combustível”.
O vereador Natalini, destacou que “há desinteresse da atual gestão que não atenta para a idade dos ônibus paulistanos (quase seis anos) o que aumenta o consumo de combustível e emissões, além do desconforto para passageiros, motoristas e cobradores”.