Nós humanos somos 70% de água. As crianças chegam a 80% de água no corpo. Não preciso dizer mais nada sobre a importância da água para nossa sobrevivência. A água é tudo para a nossa vida. Mas parece que a cidade de São Paulo e seus habitantes não se preocupam muito com isso.
Somos aqui 12 milhões de humanos. Vivemos, lutamos, consumimos muita água. Demais. Consumimos e desperdiçamos, como se a água fosse infinita. E não é!
Apesar da punição, ainda vemos muita gente lavando calçadas, molhando jardins, lavando carros, tudo com água potável.
Nos nossos encanamentos, por conta de furtos e vazamentos são desperdiçados cerca de 30% de água tratada.
E ainda tem mais….
Dos 500 córregos e 3 rios da cidade, praticamente todos estão contaminados com esgoto humano, por falta de saneamento básico.
As duas grandes represas que abastecem a metade da cidade, Billings e Guarapiranga, sofrem um processo contínuo de degradação, poluição e invasão de suas margens, pela pressão da ocupação ilegal e criminosa. Além do esgoto que é despejado in natura nos mananciais.
Como vereador e ambientalista, sempre lutei para garantir a oferta e a gestão eficiente dos recursos hídricos na cidade de São Paulo.
Em 2002 apresentei o Projeto de Lei nº 258/01 / Lei n º 13.309/2002, que permitiu a utilização da água proveniente das estações de tratamento de esgoto na lavagem de ruas, praças públicas, passeios públicos, monumentos e outros logradouros, bem como para a irrigação de jardins e praças. Até então esta água, após o tratamento dos dejetos, retornava ao leito dos rios, sem utilização. A aplicação desta lei economizou muitos bilhões de litros de água potável.
Em 2014, com o agravamento da crise hídrica, considerei necessário ampliar o escopo desta lei, tratando três aspectos básicos: 1) Reaproveitamento de água de chuva, 2) Ampliação do reuso de água, 3) Utilização das águas subterrâneas que afloram no solo.
A Câmara não ficou insensível a esta questão. O projeto de lei nº 870/13 de minha autoria, tendo como coautores todos os vereadores; foi aprovado e culminou na Lei nº 16.174/15, considerada pelos técnicos e estudiosos da disponibilidade hídrica, o principal diploma legal de enfrentamento à crise. A lei ficou conhecida como “Pacote da água”.
Ocorre que a Lei aprovada e sancionada em 2014, em plena crise hídrica e até hoje não foi colocada em prática, apesar de todas as minhas iniciativas junto à Prefeitura para aplicação da Lei.
Dessa forma a cidade de São Paulo, os governos em todos os níveis, os moradores, as lideranças sociais e as entidades, devem uma ação mais contundente para o uso racional da água, em que pesem os esforços daqueles que o fazem.
Portanto, São Paulo, tem um caso de amor e ódio por suas águas. E o descaso parece estar prevalecendo.
Gilberto Natalini
Ambientalista, Médico e Vereador (PV/SP)