Um representante do governo federal, acompanhado de agentes da Polícia Federal, chegou à Cinemateca Brasileira na manhã desta sexta-feira, 7, para “pegar as chaves” da instituição. O secretário nacional do audiovisual substituto, Helio Ferraz de Oliveira, da Secretaria Especial da Cultura, foi recebido no local pelo presidente da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto, Francisco Câmpera, que até hoje faz a gestão da entidade. O vereador Gilberto Natalini (PV-SP), que vem acompanhando o imbróglio desde o início, fez questão de acompanhar o processo. Importante enfatizar que o espaço físico pertence à Prefeitura de São Paulo.
O representante do Ministério do Turismo foi questionado se haveria um processo administrativo para realizar a transição da gestão, mas o secretário não respondeu.
Em frente à sede da Cinemateca, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, dezenas de pessoas, de máscaras e com distanciamento social, protestavam contra o governo.
Oliveira retificou a fala de outros representantes do Ministério do Turismo de que um novo contrato de gestão será celebrado nos próximos meses. Ele não soube dizer, porém, como a Cinemateca funcionará até lá.
Funcionários da Cinemateca afirmam não estar recebendo os seus salários. A manutenção do local só foi mantida até abril graças a um caixa da associação dedicado ao órgão, mas que já chegou ao fim. As contas de luz, água, brigada de incêndio, entre outras, também estão atrasadas.
A Justiça Federal negou em caráter liminar um pedido do Ministério Público Federal em São Paulo para que a União renovasse o contrato de gestão da Cinemateca Brasileira com a Associação Roquette Pinto. A ação também pedia o repasse imediato de R$ 12 milhões, recursos já previstos e alocados no orçamento.
A decisão era aguardada com ansiedade entre funcionários e gestores da Cinemateca, bem como entre parlamentares de São Paulo, cineastas e pesquisadores do meio, sendo apontada inclusive como a única solução possível para a instituição neste momento.
Natalini e outros vereadores de São Paulo destinaram emendas parlamentares, totalizando quase R$ 1 milhão, para ações de emergência na Cinemateca. A movimentação do dinheiro agora depende da Secretaria Municipal de Cultura, que tem um convênio com a Sociedade Amigos da Cinemateca.
“É lamentável o que está acontecendo. Estamos falando de um patrimônio cultural que abriga 250.000 rolos de filmes e mais de 1 milhão de documentos entre cartazes, fotografias, roteiro, enfim a memória do audiovisual brasileiro. O Governo Federal vem tomar posse de um equipamento que abandonou há meses, sem nenhum plano imediato, e colocando em risco o futuro desse importante equipamento público. Além do que, eles tem dívidas a pagar, como é o caso do salário dos funcionários. Se essas pessoas que hoje são contratadas pela OS pegarem suas coisas e forem embora, corre-se o sério risco do local pegar fogo e a culpa vai ser do Governo Federal”, enfatizou Natalini.