Nos dias de hoje, a existência humana atingiu uma encruzilhada que nunca tinha sido vista. Uma dualidade, uma contradição, uma perplexidade, um desafio se colocou na vida dos humanos, que estão causando um enorme stress na espécie. Cada um de nós, e todos nós, sentimos essa contradição em nossas vidas.
E qual seria a causa disso?
Vemos na extensão do planeta, com seus cerca de 200 países, sua diversidade étnica, sua organização geopolítica, uma imensa concentração de riquezas, com um grupo de pessoas/empresas acumulando fortunas incalculáveis, ao lado de uma massa humana empobrecida e carente das condições mínimas para sobreviver.
Essa é a principal causa das mazelas humanas na atualidade, que muitas vezes descamba para o fanatismo religioso e político.
A desigualdade social é a mãe das crises, e a madrinha das inseguranças, dos sofrimentos, das violências que temos vivido. E ela vem aumentando a cada dia, como aconteceu durante a onda da pandemia.
Isso, na nossa opinião, é o maior desafio que a humanidade tem que enfrentar: diminuir a desigualdade entre as pessoas, erradicar a pobreza, prover as condições de vida a cada ser humano em cada canto da terra. Uma tarefa gigantesca.
Outra questão que ameaça a humanidade é a devastação ambiental, a exploração irracional dos recursos naturais e da biodiversidade.
Essa atitude insana provocada pelos seres humanos, na sua ânsia de lucro e de consumo, está causando a poluição dos mares, do solo, do ar, a intoxicação dos seres vivos, o esgotamento dos recursos naturais, o aquecimento global pela queima de combustível fóssil, com as consequentes e nefastas mudanças climáticas.
Esses dois eventos descritos acima, são decorrentes da organização econômica do mundo, que é absolutamente insustentável, às vezes irracional e sempre muito desumanizada.
Disso decorre a profunda instabilidade política que os países estão passando, com tensões, guerras, revoltas, invasões, migrações, golpes, e também, desse sentimento de crise individual, existencial, intelectual e emocional que as pessoas estão vivendo.
No outro lado da medalha, nós vivenciamos uma explosão científica e tecnológica, que a humanidade nunca viu.
Numa velocidade enorme, temos descobertas no campo da tecnologia da informação e da biotecnologia, na cibernética, na produção de energia limpa, na produção de alimentos, de maquinas e equipamentos, na comunicação e nas relações sociais.
Nunca a raça humana produziu tanto conhecimento, que por si é capaz de oferecer conforto, saúde e felicidade a todos nós.
Aí está a “esquizofrenia” que os humanos estão vivenciando.
O desafio à nossa frente é construir, ou reconstruir a sociedade humana, e provocar um “freio de arrumação”, onde todo esse potencial criativo, produtivo, intuitivo, emotivo, que é próprio dos seres humanos seja usado para reorganizar o sistema político econômico e social no caminho da sustentabilidade.
Um desafio hercúleo, que muitos acham utópico, mas se for perseguido com persistência, com resiliência, firmeza e diálogo, poderá mudar a realidade.
Não temos outro caminho.
É nossa encruzilhada entre a barbárie e a civilidade.
Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista