Há décadas que os cientistas, os climatologistas, as instituições internacionais e nacionais estão estudando, propondo, alertando sobre o aquecimento global e sua nefasta consequência, as mudanças climáticas.
No Brasil, cientistas como Carlos Nobre, José Goldemberg, Paulo Artaxo, e ambientalistas como Marcio Astrini, Fabio Feldmann, Rachel Biderman, Carlos Rittl, Eduardo Jorge, entre tantos outros, vem levantando essa pauta há muito tempo e buscando mobilizar e organizar governo e população para propor e praticar medidas de mitigação e remediação para as mudanças climáticas.
O Brasil já teve um importante papel no tema.
Sediou a Rio-92, grande reunião da ONU com 175 países, que impulsionou o Mundo no caminho de reduzir o efeito estufa e proteger a biodiversidade.
O Brasil também participou da articulação global, nas conferências (COPs), com um papel de destaque durante vários anos.
Por sua enorme floresta, sua riqueza de água doce, o tamanho de sua orla marítima, sua matriz energética hídrica e sua produção de etanol, o Brasil sempre foi cortejado como um paradigma na pauta ambiental.
E o Brasil respondeu às expectativas, com uma legislação ambiental ousada, com a criação de órgãos de pesquisa e fiscalização ambientais e com ações reais no caminho da exploração racional dos recursos naturais e da preservação da biodiversidade.
Não ficamos devendo nada a ninguém nos quesitos de conhecimento, legislação e ações.
Mas, de algum tempo pra cá, houve um grande retrocesso no Brasil, nos caminhos da sustentabilidade.
Graças a governantes negacionistas, e a conduta predatória de importantes setores empresariais e políticos, o Brasil deixou de lado o objetivo do desenvolvimento sustentável, econômica e socialmente.
As leis vem sendo desobedecidas e mesmo revogadas, os órgãos de controle e fiscalização vem sendo sucateados e mesmo perseguidos, as ações governamentais vão no sentido de incentivar a devastação ambiental. Os resultados já são visíveis.
O desmatamento está batendo recordes, as queimadas batem todos os índices, os agrotóxicos proibidos no mundo foram liberados, a mineração ilegal foi liberada e incentivada, com a maléfica poluição, mesmo em terras indígenas.
O Brasil se afastou da articulação global do clima, e se recolheu a um protagonismo insignificante. De herói ambiental o Brasil hoje é visto como o vilão ambiental.
Enquanto esse negacionismo pernóstico e até criminoso prevalece, os brasileiros, como o resto do mundo, sofrem com os fenômenos extremos das mudanças climáticas, cada vez mais frequentes e cruéis.
As crises hídricas são cada vez mais graves e repetidas, prejudicando a agropecuária e o abastecimento de água nas cidades. Estiagens longas tem acontecido no país, muito mais vezes.
Por outro lado, as chuvas violentas, fruto das alterações do clima, tem castigado o território brasileiro, e vem causando graves tragédias urbanas.
São exemplos disso, cidades como São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Blumenau, Petrópolis, e estados como Bahia, Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte e do Sul, entre outros.
Os prejuízos humanos e materiais são incomensuráveis.
Milhares de vidas perdidas, de pessoas desalojadas, e bilhões de reais de prejuízos materiais, são o resultado da inoperância governamental no Brasil.
Ao ver as águas subindo, provenientes das chuvas violentas invadindo as cidades e as casas das pessoas, fica a pergunta: até quando o Brasil, governo e população, vão subestimar as mudanças climáticas, e desafiar os avisos e castigos que a natureza está nos dando?
Todos já sabem o que deve ser feito. Mas é preciso fazer!
Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista