Quando a Princesa Isabel assinou a Lei Aurea, há 150 anos, o Brasil tinha milhões de negros. Éramos um pais com forte presença de afrodescendentes. De lá para cá as etnias foram se misturando, brancos, negros, índios, e depois, com a imigração vieram os asiáticos, árabes, judeus, latinos, eslavos, e outros povos.
A miscigenação é uma das principais riquezas do povo brasileiro, confirmada por Jorge Amado, Gilberto Freyre e Laurentino Gomes, entre outros. Porém, a mistura dos povos não eliminou o racismo.
O Brasil trouxe milhões de negros da África como escravos desde os tempos de Colônia, numa crueldade bárbara, talvez a maior da história moderna.
O Brasil foi o último país a declarar o fim da escravidão. Porém, o fim da escravidão não significou o fim do imenso sofrimento dos negros no Brasil.
Jogados nas ruas pelos escravocratas, os afrodescendentes se viram repentinamente livres das algemas, mas prisioneiros da miséria, do analfabetismo, da desassistência, do preconceito e do racismo. E, essa condição, de formas variadas, permanece até hoje.
Apesar da mistura genética, da colaboração com sua força de trabalho, sua cultura, sua religiosidade, os afrodescendentes continuam nos dias atuais na condição de mais pobres, mais discriminados, mais excluídos, mais perseguidos, caracterizando-se assim a face hedionda do racismo no Brasil.
A grande maioria do povo brasileiro, mesmo os que tem a pele branca, tem alguma descendência de ancestrais negros. Mas isso também, não é suficiente para livrar o país do racismo. O preconceito da cor da pele se manifesta nos grandes e mínimos detalhes da vida brasileira.
A dívida social que o Brasil tem como Nação com os negros é imensa e vergonhosa. As manifestações de preconceito que vemos hoje se repetir em todo canto do Brasil, é apenas um sintoma da enorme patologia social que permeia o país: o racismo. Ele é intrínseco no dia a dia dos brasileiros, na desigualdade social, na violência, na mortalidade, na frequência às universidades, no acesso à cultura, à renda e ao poder político.
O Brasil precisa se olhar no espelho, se enxergar também como descendente dos mesmos escravos que maltratou por séculos. O país precisa fazer um exame de consciência e se encontrar consigo mesmo.
Já passou da hora, de caminharmos para submeter e vencer o racismo.
Maldito racismo!
Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista