O Brasil tem 8 milhões de Km². É o quinto maior país do mundo. E somos cerca de 215 milhões de brasileiros. Deste imenso território, sessenta por cento são florestas e biomas que têm que ser preservados e explorados sem devastação. Dezoito por cento da área do país são terras agricultáveis. Somos o segundo maior produtor de grãos do mundo, e essa produção é a nossa principal atividade econômica.
Então, sempre vem a pergunta: Com tanta terra e produção agrícola, por que temos 33 milhões de patrícios passando fome? Por que os alimentos são tão caros e inacessíveis no Brasil?
Na verdade, são cerca de 60 milhões de pessoas que vivem em situação de insegurança alimentar por aqui. Isto é uma das vergonhas nacionais.
A produção de grãos feita pelo agronegócio, como soja, milho e outros, é destinada, em sua maior parte, à exportação, principalmente para a China e Europa, e tem origem em grandes propriedades rurais, tendo todo o apoio técnico e financeiro do Governo e, em boa parte, avançando sobre as fronteiras ambientais do país.
A produção alimentar para o consumo interno é praticada, no geral, por médias e pequenas propriedades rurais, por cooperativas agrícolas, assentamentos e agricultura familiar. Calcula-se em torno de 4 milhões dessas propriedades, cuja colheita abastece a mesa dos brasileiros. Mas, ao contrário do grande agronegócio, esses produtores rurais não têm a mesma proteção governamental, no que diz respeito a maquinário, insumos, financiamento, armazenamento e garantias estáveis de mercado. Assim, quem produz a comida que consumimos é muito mais vulnerável às intempéries climáticas e às variações de mercado. Vivem de crise em crise. A consequência disso é o que vemos no dia a dia: a intensa sazonalidade, as variações cruéis do clima, os altos juros dos financiamentos, o custo absurdo na produção e o alto preço final dos produtos.
Há, também, por falta de apoio governamental no transporte e armazenamento dos alimentos, a presença de todo tipo de atravessadores e especuladores entre o produtor rural e o consumidor, aumentando sobremaneira o preço das prateleiras.
O resultado final desta cadeia de desacertos, se resume na presença de 4 letras: FOME
As soluções oficiais para isso são paliativas, as famosas “cestas básicas”, os cartões das “bolsas”, as redes de solidariedade para os famintos. Mas agir nas raízes da crise, atacar os problemas nas causas, está longe das ações do Governo. Enquanto isso, boa parte dos brasileiros, dentro de um país agrícola, não conseguem fazer suas três refeições diárias.
Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista