Gilberto Natalini SP

Nesse mundo enlouquecido, a preocupação com a segurança pública e individual, de longe, tornou-se a “campeã” nas pesquisas de opinião pública em nosso país. É certo, assim, que o povo brasileiro vive uma verdadeira “pandemia de criminalidade e de violência”, o que torna a vida das pessoas um misto de medo e indignação.

Não é de surpreender, nessas condições, que os dados conhecidos sejam desesperadores. Para começar, todos sabemos que as grandes, médias e pequenas cidades do país, em grau maior ou menor, são palcos de crimes de todos os tipos. A internet, e especialmente as redes sociais, como se vê, tornaram-se locais de golpes e falcatruas, também de todos os tipos.

Os governos, os parlamentos, os tribunais, as forças militares e policiais, as Igrejas, as organizações da sociedade civil, viram-se invadidos por grupos e quadrilhas de criminosos, com todo tipo de ameaças, achaques, golpes e corrupção. Assim, o crime organizado, em pouco tempo, tomou dimensões nacionais, e, por conseguinte, tornou-se potência financeira; hoje em dia, ocupa lugar nas instituições públicas e privadas, com seus negócios de tráfico de drogas, de armas, e de pessoas, entre outros.

Mais ainda, diversificou sua atuação para redes de postos de gasolina, de farmácias, de padarias e outros mais. Não há mais limites. Tornou-se, de modo próprio, uma espécie nefasta de Quinto Poder na República, tendo Estados, como o Rio de Janeiro, por exemplo, mas, é claro, vários outros, onde se converte, em larga extensão, no “poder de fato”.

O reflexo disso na vida do povo, fácil de imaginar, é direto e fatal. Vai desde os vários assaltos nas ruas e praças públicas aos arrastões; de latrocínios ao domínio de comunidades inteiras pelas facções; de roubos e furtos generalizados e organizados pela “inteligência criminosa” aos “salves”; do domínio dos presídios, das biqueiras ao tráfico de drogas nas escolas; de crimes mais sofisticados, como os cibernéticos, aos inúmeros golpes comerciais; enfim da corrupção desbragada de agentes públicos e políticos aos homens de negócios, os que mandam e desmandam.

Moral da história: estamos vivendo num “Brasil bandido”, desonesto e inseguro, como nunca tínhamos visto.

Tal e qual, o crime organizado, com a força (e o poder) que tem, vai comprando tudo, incluindo pessoas pelo país afora, e quando não consegue comprar, vem o golpe fatal: simplesmente elimina-se o indivíduo.

De tal maneira, sem espaço a dúvida, vivemos, sim, a explosão de uma guerra urbana que, com efeito, se alicerça na imensa desigualdade social, quer dizer, no peso da miséria humana, e, também, na podridão de caráter daqueles que, em tese, deveriam defender os interesses da população, garantir a plena cidadania, assegurar a harmonia do projeto civilizacional.

Todavia, acontece o contrário e tudo explode em mais violência e mais desagregação social, sendo o Brasil, triste constatação, campeão mundial de assassinatos em número absolutos: 47 mil por ano – o que representa 22,8 mortes violentas a cada 100 mil habitantes. Mortes violentas intencionais (dados de 2023, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública).

Assim sendo, resta perguntar: alguém duvida de que somos reféns de bandidos dentro de um país que se debate desesperadamente na guerra urbana da criminalidade?

Seja como for, premido (ou espremido) por essa situação insuportável, o Presidente da República convocou uma reunião com governadores e os outros poderes para apresentar uma proposta de PEC da Segurança Pública. Demorou muito, dada a gravidade e urgência do assunto. Mas, antes tarde do nunca!!!

Nessa direção, a reunião é mais do que necessária e sempre bem-vinda, e espera-se, pelo senso comum que referencialmente seja acompanhada de propostas e ações concretas. Parece que a proposta do governo Lula, salvo maior engano, ainda tem que ser muito melhorada.

Mas acreditamos, contudo, que, devido a gravidade de “pandemia nacional da criminalidade e violência”, é preciso, antes ainda, convocar uma mobilização cívica dos três níveis de governo, das instituições da República, das organizações da sociedade civil visando assim, de imediato, combater e minar o domínio das organizações criminosas e das múltiplas quadrilhas, abrindo, portanto, ações de ordem política, econômica e social, o que facilitaria enfrentar o mar de corrupção que tomou conta da sociedade brasileira.

A brutal desigualdade social, a inaceitável corrupção generalizada e a impunidade, reflexos direto de sociedades desajustadas, como é fácil de imaginar, são as bases principais, digamos assim, da pandemia do crime.

Mais do que as bases principais, são mesmo, assim acreditamos, os muros altos que impedem que se alcance o tão desejado desenvolvimento, valor esse que, repetindo o filósofo francês Jacques Maritain, é “a promoção de todos os Homens e do Homem com um todo”.

Daí que, como resposta para a mudança de situação, só um mutirão cívico, que envolva toda a nação, para tirar o Brasil desse atual estágio.

Resta saber, por último, se o governo Lula/PT, e os demais dirigentes do país, é claro, tem moral (e disposição maior) na praça, para cumprir tarefa fundamental.

Gilberto Natalini é médico-cirurgião, vereador por cinco mandatos na Câmara Municipal de São Paulo. Foi secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente (2017) e candidato a governador do Estado de São Paulo, pelo Partido Verde (PV), em 2014.

 Marcus Eduardo de Oliveira é economista e ativista ambiental. Mestre em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo – USP (2005). Autor de “”Civilização em desajuste com os limites planetários” (CRV, 2018) E “A Civilização em risco” (Jaguatirica, 2024), entre outros.