Gilberto Natalini SP

Muito se tem dito que o desmatamento tem diminuído no Brasil. Isso é uma verdade. A derrubada de floresta teve uma queda de 40% nos últimos anos. Mas isso não permite, de forma nenhuma, que estejamos satisfeitos.

O Brasil é a maior reserva florestal do mundo, embora tenha perdido grande parte de sua cobertura vegetal no decorrer do tempo, em todos os seus 6 biomas.

Da Mata Atlântica, que já foi exuberante, restam míseros 14,5%, e continua ameaçada pelo desmatamento.

Nosso cerrado já perdeu 50% de sua área verde, e avança a destruição de sua mata característica.

O Pantanal, o maior bioma úmido do planeta, sofreu uma devastação demolidora nas últimas queimadas, grande parte delas provocadas pela mão humana, e potencializada pela estiagem cruel das mudanças climáticas.

No Pampa e na Caatinga avança o processo de desertificação, promovido pela mão humana e pelos fenômenos climáticos.

A Amazônia, nossa grande floresta, a maior do planeta, já perdeu 25% de sua cobertura verde, com a “construção do progresso do Brasil”. E embora tenha queda no desmatamento, nos últimos 2 anos, a floresta continua sendo derrubada todos os dias, em ritmo agressivo, seja pelo “desenvolvimento” da atividade agropecuária, muitas vezes ilegal, seja pela exploração de venda da madeira, do garimpo e da especulação da terra.

É preciso dizer que a “atividade econômica” do desmatamento na Amazônia é conduzida pelas quadrilhas de tráfico de drogas, do crime organizado, de grupos políticos e econômicos corruptos e predatórios que avançam mata adentro, desmatando terras públicas e reservas indígenas.

Agora, esse crime contra a humanidade pode ser escrito na letra da lei.

Foi aprovado pelo Senado e já está para aprovação na Câmara Federal o PL 2159/21, que flexibiliza drasticamente a licença ambiental e abre a porteira para a “boiada passar”.

A “bancada do boi e do agro”, aliadas a outras bancadas da predação querem apoiar essa barbárie, em tempos de aquecimento global e degradação ambiental.

O governo federal está dividido. De um lado, a Ministra Marina Silva, que é contra e do outro, Ministros do PT e outros partidos que são simpáticos ao “PL da devastação”.

A nós, ambientalistas, empresários conscientes do desenvolvimento sustentável, cientistas e acadêmicos, religiosos comprometidos com nossa casa comum, organizações da sociedade civil, intelectuais e jornalistas, pessoas do povo que são vítimas dos fenômenos climáticos extremos, parlamentares e gestores com senso de responsabilidade, resta conversar com o povo brasileiro, para fazer uma enorme pressão sobre o Parlamento e o Governo brasileiro e enterrar o PL2159/21, e partir para construir um Brasil de progresso, sim, mas com desenvolvimento econômico sustentável, consonante com a preservação ambiental.

Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista