A CLEPTOPOLÍTICA E A NECROPOLÍTICA

Como o próprio nome indica, a cleptopolítica é o hábito de se apropriar do erário público através da prática política. E a necropolítica é a prática de fazer política sem respeito à vida e ao bem estar social.

O Brasil, desde sua origem como país, viu e vê essas duas maneiras deformadas da atividade pública serem comuns na sua vida. Ora em menor escala, ora em grandes fenômenos nacionais, a clepto e a necropolítica acompanharam a epopeia nacional.

A cleptopolítica também conhecida como corrupção, propinagem, roubalheira, ladroagem, lambanças, esquemas e outras tratativas, nascem com o Brasil.

Desde a imigração dos deserdados portugueses, a exploração das riquezas naturais da terra, o contrabando, os atos de pirataria e invasão, as roubalheiras reais, as apropriações na velha república, o Ministro 10% da ditadura militar, o 1º presidente da redemocratização impedido por roubalheira, a compra do Congresso pela reeleição, o famoso Mensalão, o gigantesco Petrolão, e atualmente, os muitos imóveis comprados com dinheiro vivo, os dólares nas cuecas, as rachadinhas e rachadonas, e agora o fantasmagórico bolsolão, também conhecido como orçamento secreto.

Esse é o resumidíssimo e compacto exemplo da cleptopolítica, uma mania nacional, que vai decima abaixo, desde o Presidente da República até a propina do guarda de trânsito ou do delegado da D.P.

A outra face da vida nacional é a necropolítica. Essa também é tão antiga como a outra, mas tem sua face cruel mais visível, embora as duas se completem na absoluta infelicidade de todo um povo. A necropolítica se instalou aqui quando os primeiros europeus pisaram essa terra.

Revelou-se na prática de extermínio dos povos indígenas originários, depois com a brutal escravidão dos africanos, que durou 300 anos. Nos diversos massacres internos, como a Guerra dos Canudos, a ditadura de Vargas, depois a ditadura militar de 1964, o surgimento do crime organizado e das milícias, os grupos de extermínio, do esquadrão da morte, das chacinas na cidade e no campo.

Hoje, vivemos a necropolítica institucional, com o descaso absoluto com a saúde pública, o desleixo com as vacinas, o incentivo ao porte e ao uso de armas, o preconceito, as agressões e a violência contra os negros, contra as mulheres, contra pessoas LGBTQIAP+, contra denominações religiosas, fomentando o crescimento de grupos de inspiração nazifascistas e a polarização violenta das concepções políticas.

Vivemos no Brasil a junção nefasta e cruel, institucionalizada da clepto com a necropolítica.

Isso por si já é trágico, mas acompanhado pela falta de lideranças políticas, de estadistas com vida limpa e absoluto compromisso com a Democracia e com as práticas republicanas, colocam o Brasil num dilema perigoso.

Acresça-se a isso o horrível modelo de desenvolvimento econômico concentrador e excludente, onde 45% do orçamento nacional vai para pagar os juros e serviços da dívida pública, mais a enorme desigualdade social e a pobreza extrema do nosso povo.

É óbvio que o Brasil resiste a isso tudo com galhardia e criatividade.

Apesar de tudo, temos uma ciência respeitável, uma cultura riquíssima em criatividade, um esporte heroico, uma produção agropecuária pujante e várias áreas econômicas criativas e promissoras.

A situação de nosso país inspira muitos cuidados.

Está na ordem do dia:

– a defesa inegociável da Democracia,

– a recuperação econômica com sustentabilidade,

– a proteção ambiental,

– o combate decisivo à fome e à pobreza,

– a moralização das relações políticas e institucionais,

– o combate à violência e ao crime organizado,

– o combate ao preconceito e à discriminação e

– o combate à cultura do ódio.

O Brasil precisa encontrar seu caminho e se afastar da barbárie. Para isso os democratas, os verdadeiros patriotas, os humanistas devem estar sempre vigilantes e exigentes. Como sempre estivemos!

Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista

 

 

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