Surpreendidos por motosserras que com rapidez levaram ao chão cerca de 400 árvores de Mata Atlântica numa área de aproximadamente 20 mil metros quadrados da Rua Comendador José de Matos, 139, no Jaraguá, Índios Guarani de seis aldeias situadas no entorno do Pico do Jaraguá, na Zona Norte de São Paulo, ocuparam o terreno da construtora Tenda em 30 de Janeiro de 2020.
Os Guaranis consideraram-se desrespeitados pela devastação muito perto das aldeias. Não foram sequer consultados. Para eles, as árvores são sagradas. “A árvore é vida. A floresta tem vida. Havia muitos animais aqui”, protestou Ara Mirim, uma das lideranças indígenas.
Reunidos no local, os índios passaram a rezar pelo espírito das árvores. Não se conformavam com o gesto da Prefeitura de São Paulo que autorizou a empresa a derrubar as árvores. “Isso aqui é uma área de preservação ambiental”, afirmou Davi Karaipopygua, líder Guarani. “Não vamos deixar que as árvores cortadas saiam daqui. Agora esta terra é um cemitério de árvores”, declarou ele.
Crédito: Richard Wera Mirim
Os Guaranis também denunciaram o despejo irregular de entulho no terreno onde cinco edifícios seriam construídos no lugar antes ocupado por densa cobertura vegetal de Mata Atlântica. O terreno tinha ao todo por volta de 50 mil metros quadrados e era dividido pelo Ribeirão das Lavras, cuja nascente ficava no Pico do Jaraguá.
Crédito: Richard Wera Mirim
Durante muito tempo, o curso de água formou um lago de cerca de 2 mil metros quadrados dentro da área que agora se tornara alvo da construtora. Aproveitaram-no como pesqueiro, mas, assoreado, transformou-se num brejo. Com um metro de largura, o Ribeirão das Lavras ainda insistia em correr por ali, embora em boa parte da extensão já estivesse canalizado. O seu futuro era uma incógnita.
O vereador Gilberto Natalini (PV-SP) foi chamado pela comunidade e imediatamente foi até o local. Acionou a Prefeitura por meio de ofício e a mesma suspendeu a licença por uma semana para reavaliação. “Estamos falando de uma área verde, com remanescente de Mata Atlântica, lindeira ao Pico do Jaraguá, com árvores de grande porte, com 80/ 90 anos e com 6 aldeias indígenas no entorno. Apesar de ser uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), cercada por Zonas de Proteção Ambiental (ZEPAM), é imoral derrubar aquelas árvores para construir mais prédios. Não tem cabimento. Estamos solicitando que a Prefeitura troque o terreno por potencial construtivo, assim como fez com o Parque da Vila Ema e com o Parque Augusta”, disse Natalini.
No sábado (1/02), a equipe do parlamentar esteve no local com técnicos para um trabalho de resgate das abelhas, tão importantes para a produção dos alimentos. No domingo (2/02), Natalini conseguiu levar para o terreno 200 mudas de Mata Atlântica e 500 Kg de alimentos que foram doados por várias pessoas. Junto com os Guaranis realizaram o plantio das mudas na área desmatada. O ato simbolizou um recomeço para as árvores centenárias mortas naquele lugar.