Na idade média, as pessoas despejavam seus dejetos na rua, ao ar livre e conviviam com isso. Eram tempos estranhos, em que os homens procuravam a salvação divina, mas não sabiam cuidar dos seus excrementos.
Os séculos passaram e grande parte da humanidade passou a dar um destino mais civilizado aos seus dejetos, construindo redes coletivas e destinando o esgoto para tratamento.
O Brasil não acompanhou essa conquista da modernidade, assim como outros países mais pobres e menos desenvolvidos no mundo. Em nosso país, a metade da população, ou seja, cerca de 100 milhões, não possui coleta e tratamento de esgotos.
Os dejetos são jogados em fossas ou diretamente em córregos e rios ou no mar. É uma tragédia civilizatória!
As consequências disso são catastróficas. A contaminação das águas, do solo e mesmo do ar é imensa.
Em São Paulo temos cerca de 500 córregos e 3 rios. Praticamente todos esses cursos d’água e boa parte das águas subterrâneas estão contaminados pelo esgoto domiciliar.
A situação é semelhante pelo Brasil afora. É claro que os rios correm para o mar e, também, muitas cidades litorâneas despejam seus esgotos diretamente no oceano.
A contaminação do solo também acontece de forma disseminada e o ar recebe o gás metano e outros poluentes do esgoto.
Várias afecções, como a hepatite A, as verminoses, as infecções gastrointestinais, doenças de pele e intoxicações acontecem pela falta de saneamento básico. Além disso, 35 milhões de brasileiros bebem água sem tratamento, o que também acarreta doenças e intoxicações.
Temos também, o imenso desperdício de água tratada que acontece nos tubos de distribuição, que chega a 40% do volume de água distribuído. São calculados cerca de R$ 45 bilhões para reduzir esse desperdício. Isso é pouco mais da metade dos recursos das emendas secretas do parlamento.
Não é feito porque não querem!!!!
Portanto, o Brasil, por atraso, desleixo e irresponsabilidade, agride o meio ambiente e a saúde pública, numa situação de carência ambiental, sanitária e civilizatória, por não tratar seus esgotos.
Essa é uma pauta de política pública nacional, que os governos e os políticos não dão prioridade.
E, boa parte do povo, acha natural viver nessa situação.
Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista