Nós sabemos que o Brasil vive há muito tempo um desiquilíbrio fiscal, ora menor, ora maior, dependendo do governo de plantão.
Nós sabemos, também, que a carga tributária aqui é brutal, uma das maiores e mais injustas do mundo, onde os mais pobres pagam mais e os mais ricos, menos.
Sabemos também que a sonegação fiscal é enorme, principalmente nos “grandes negócios”.
A dívida pública brasileira é colossal, e quanto mais se paga, mais se deve, pois o governo busca dinheiro no tal “mercado financeiro”, a juros, perdão do termo, pornográficos. São os juros maiores do mundo.
Dessa forma, conforme gráfico abaixo, o Brasil dispõe 43,3% do seu orçamento anual para pagar juros e serviços da dívida pública. Todo ano!
O que sobra do orçamento é dividido apertadamente entre os ministérios, numa conta insuficiente e nefasta.
Assim, o importante Ministério da Saúde fica com 3,8% do orçamento federal anual. Absolutamente insuficiente e um dos mais baixos entre os países.
A preocupação máxima atual dos brasileiros, a segurança pública detém míseros 0,30% do orçamento federal. E vai por aí adiante.
Então, quando o povo reclama: “mas eu pago tanto imposto, e os serviços públicos são muito ruins”, a causa do problema está aí.
De toda produção do país, quase a metade da renda vai, não para pagar a dívida, mas para saldar juros escorchantes e serviços da mesma.
Nenhuma pessoa do povo no Brasil conhece a natureza, o conteúdo dessa dívida. Somente sente o resultado dela, nas mazelas do país, como a desigualdade social extrema, a concentração de renda, a pobreza, a violência, e a desesperança.
Nenhum governo, nem de “direita” e nem de “esquerda”, jamais mexem nessa questão. Pelo contrário, sempre contemporizam.
Agora, o Governo Lula/PT/Haddad, premidos, ou espremidos pelo déficit fiscal, e a enorme pressão do mercado apresentam ao país sua solução econômica: o famoso ajuste fiscal, que no frigir dos ovos vai se resumir em cortes generosos de gastos públicos.
Esses cortes não serão feitos nos ralos da corrupção, das emendas secretas, dos subsídios generosos ao poder econômico, nem ao equacionamento da dívida.
Esses cortes, pelo andar da carruagem, serão feitos nos serviços prestados à população, como a Previdência Social, a Educação e a Saúde Pública.
Mais uma vez o brasileiro vai sentir na carne a tesoura dos economistas de plantão no governo.
“Ao sistema financeiro tudo”!
“Ao povão as migalhas”
Infelizmente!
Para terminar, não se trata de dar calote na dívida! Nunca!! Somos um povo cumpridor de compromissos.
Mas conhecer a natureza da dívida, suas curvas e nuances, sua fome insaciável, seus juros criminosos.
O Brasil precisa tomar coragem e vergonha, e fazer uma auditoria isenta nessa dívida.
Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista