AS ÁRVORES, O CLIMA E NÓS

Vejo as pessoas dizerem: ”as árvores atrapalham nossa vida”!

Respondo: “acha que está ruim com elas? Muito pior sem elas”!

As árvores hoje, são seres absolutamente necessários para nossa vida.

Trata-se portanto, de ter a árvore certa, no lugar certo e na hora certa.

Mas plantar árvores e cuidar delas é uma questão essencial para a vida humana e do planeta.

A Cidade de São Paulo tem cerca de 700 mil árvores nas ruas, e planta-se cerca de 100 mil por ano,

Nos Parques, matas e áreas verdes da cidade têm uma quantidade muito maior.

O nosso problema é que no decorrer do tempo foi-se plantando nas ruas de São Paulo, árvores erradas, no lugar errado, na hora errada. Isso é a causa dos nossos problemas com as árvores.

Assim, grande número de exóticas (eucaliptos, fícus, e outras espécies) foram importadas e plantadas em locais contraindicados como calçadas, quintais, praças e hoje nos trazem transtornos com seu tamanho, suas raízes e suas doenças.

Só de um tempo pra cá, a Cidade organizou um código de arborização para plantar só árvores nativas e de espécies próprias para os lugares indicados, como por exemplo, de raízes profundas nas calçadas e de porte menor debaixo dos fios elétricos.

Além disso, no decorrer do tempo plantou-se árvores de forma desigual, tendo em vista o desenvolvimento desplanejado da cidade. Assim, temos bairros bastantes arborizados (embora muitas vezes com espécies erradas), como os Jardins, a Lapa, Campo Belo, Brooklin, Santo Amaro, e temos bairros inteiros desérticos de árvores, como Braz/Pari, Cidade Tiradentes e São Mateus na Zona Leste e em outras regiões periféricas da cidade.

Também, foi-se plantando as árvores, ao passar das décadas, mas a avaliação e os cuidados fitosanitários para manter as espécies arbóreas saudáveis não foram feitos. Nosso cálculo é que 20% das arvores do viário de São Paulo estão com algum tipo de doença, seja cupim, fungos, ou erva de passarinho.

E mais: a relação da população com as árvores, sempre foi de amor e ódio. Tem gente que tem a árvore como membro da família, e tem gente que quer derrubá-la de qualquer jeito, porque quebram galhos, soltam folhas, invadem os espaços.

Para tudo isso há tratativas e soluções práticas. Tenho me inspirado em algumas pessoas que entendem muito de arborização para orientar minha conduta.

Um deles é o Professor Marcos Buckeridge da USP, e o outro é o Biólogo Francisco Zorzenon do Instituto Biológico.  Temos também o botânico Ricardo Cardim, o plantador “Seu Hélio” do Tiquatira, a SOS Mata Atlântica, o saudoso Sergio Shigeda, o Movimento Pedra 90, o pessoal de Arborização da SVMA, e tantos outros.

Muitos me ajudaram a elaborar meu dossiê de denúncia da devastação criminosa das áreas de mananciais nas represas de São Paulo. Link:natalini.com.br/dossie-2a-edicao/

Dessa forma, podemos dizer que já temos conhecimento técnico para avaliar e intervir de forma correta na arborização urbana da Cidade.

A primeira parte é fazer o inventário preciso das árvores. Isso vem sendo feito nos últimos anos pela Prefeitura e seus parceiros. Ainda não está pronto mas caminhou bastante.

Em seguida, fazer o manejo certo das árvores: continuar plantando, plantando muito, cada vez mais. Sempre a “árvore certa, no lugar certo e na hora certa”.

Mas plantar e cuidar. A árvore é um ser vivo e precisa de cuidados para manter-se saudável.

Assim, o tratamento de pragas é imperioso. Hoje existem formas práticas e baratas para tratar as pragas, e estão ao alcance dos orçamentos públicos.

O encarceramento do colo da árvore com cimento nas calçadas, é outro costume nocivo nas ruas da Cidade.

Quando é cimentado o caule no chão é como se estrangulasse a árvore. Suas raízes não recebem água, não se aprofundam e a árvore fica frágil, e muito mais fácil de ser derrubada por ventania.

Por isso, é preciso plantar árvores de raízes profundas nas calçadas para que elas cresçam para baixo e não destruam as calçadas. E a base da árvore, precisa ter área livre com terra para sua sobrevivência.

A poda é imprescindível. Há toda uma técnica para podar uma árvore. A Secretaria do Verde e Meio Ambiente produziu um manual de poda.

O que podemos dizer é que hoje as podas realizadas, principalmente daquelas árvores que estão embaixo da fiação, são assassinas de árvores. São causa importante das quedas de árvores.

A Prefeitura de São Paulo fez cerca de 600 mil podas nos últimos 3 anos. Ainda restam 50 mil pedidos de poda, mas a fila andou bastante. É preciso agilizar muito o serviço de poda, obviamente com os cuidados técnicos já bastante sistematizados. Também diminuiu sobremaneira o tempo entre o pedido e a poda, de cerca de um ano para 60 dias.

A companhia de eletricidade da Cidade, a ENEL, é a responsável legal pela poda de árvores que estão embaixo da fiação. Ela tem feito um serviço terrível, tanto na técnica usada, como na demora do atendimento dos pedidos.

Agora, frente a rapidez do avanço da crise climática, com seus fenômenos extremos de secas e estiagens, de calor extremo, de chuvas e ventos violentos, as árvores se tornam nossas principais amigas. Nos dão sombra e conforto térmico, nos dão umidade do ar, nos dão a fauna, além da beleza natural. Melhoram a nossa vida.

Portanto, definitivamente, as árvores não são nossas inimigas.

Se cuidarmos delas adequadamente, e as plantarmos de forma correta vão nos ajudar a sobreviver.

No último vendaval que tivemos há poucos dias em São Paulo, árvores caíram sobre fios e trouxeram o apagão que vitimou 3,5 milhões de paulistanos.

A empresa de eletricidade, a ENEL, responsável pela relação árvores/fios, não teve e não tem capacidade e responsabilidade para fazer o trabalho preventivo e dar rapidez no atendimento durante e após o evento climático.

São Paulo não merece a ENEL!

Gilberto Natalini – Médico e Ambientalista

 

 

 

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