Gosto muito de andar pelas ruas de São Paulo. Sempre gostei. Essa cidade tem um encanto que mistura história, criação, sofrimento, trabalho, solidão e pujança.
Já se vão alguns anos que minhas caminhadas pelo centro de São Paulo são motivos de desalento.
Observando o vai e vem de nosso povo, constatamos o quanto ele empobreceu de tempos para cá. Pelas vestes, pelos rostos, pelas mazelas, pela violência e o medo cotidiano, pelo perambular dos desempregados e dos “bicos” fazemos a foto de um povo sofrido, muito sofrido, que não desiste da luta. Além, desse empobrecimento explícito a olhos vistos, temos a expressão da miséria e da exclusão social, pessoas que vivem nas ruas, são milhares.
Homens, mulheres, crianças, idosos e jovens, brancos e negros, morando nas calçadas e praças, ao relento ou sob barracas. Um quadro desolador.
Grande parte dessas pessoas são usuárias de álcool e outras drogas, com sinais de sofrimento e doença mental.
Muitos vêm de bairros de São Paulo, mas boa parte dessa gente vem de outras cidades da Grande São Paulo, de outras cidades do Estado, e de outras cidades do Brasil.
Acredito que as pessoas se jogam para cá, para morar na rua, porque São Paulo tem uma rede de acolhimento melhor, pública e também voluntária, que lhes oferece comida e outras oportunidades para sobreviver.
Cada solavanco na economia do país, cada crise social a mais, joga milhares de pessoas nas ruas.
O consumo de drogas, de álcool, as dificuldades financeiras, a desesperança, a falta de solidariedade, as crises emocionais e familiares vão produzindo uma legião de desalentados que buscam nas ruas algo que não vai ajudá-los na vida.
O poder municipal sozinho, apesar de todos os investimentos feitos, não vai conseguir dominar esse processo.
Esse é um assunto para os três níveis de governo trabalharem juntos.
E mais, é um assunto para toda a sociedade, que acima de qualquer divergência, tenha a vida humana como objetivo.
Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista