Gilberto Natalini SP

COP-30: BALANÇO PARCIAL

Vim para a COP-30, como membro do GT da Prefeitura SP, representando a Sociedade Civil, em nome da AFPESP. Estive em várias COPs e não poderia faltar em Belém, pelo extenso trabalho ambiental e climático que desenvolvemos em São Paulo, há décadas, seja como parlamentar, seja como cidadão, agora enquanto Coordenador de Meio Ambiente da AFPESP. Temos ciência dos enormes desafios e dificuldades políticas, econômicas, sociais e ambientais que a Humanidade enfrenta. Sabemos também das resistências que vários setores têm para embarcar no caminho da transição energética, da economia verde, da recuperação ambiental do Planeta. Vivemos isso todos os dias. Conhecemos as limitações das COPs, em suas negociações e implementações das políticas ambientais e climáticas. Mas, temos também plena consciência da oportunidade e da necessidade de reunir a governança global, os líderes empresariais e comunitários para debater e produzir avanços na crise que ameaça a própria sobrevivência da vida no Planeta. Foi com esse espírito que vim a Belém. Participei de dezenas de agendas nas Zonas Azul e Verde, governamentais e não governamentais. Eu participei do encontro de lideranças ambientalistas no barco Banzeiro da Virada Sustentável, como palestrante das mesas do Ministério do Turismo sobre turismo sustentável, da rede Internacional e Nacional dos Hospitais Saudáveis, da Plenária de lançamento do Plano Global da Adaptação no Setor Saúde, da Plenária de balanço parcial dos trabalhos e negociações, feito pelo Presidente da COP. Além de diversos eventos nos pavilhões, conversas, encontros pessoais, e outras atividades. Procurei trazer, onde estive, a mensagem dos paulistanos e dos servidores públicos do Estado de São Paulo. Aprendi, convivi, expliquei, divergi, mas sempre buscando o caminho do consenso possível e necessário. A COP-30 contou com a presença de 50 mil pessoas. As instalações são muito amplas, em parte com construções desmontáveis. As distâncias entre os eventos são enormes. A ventilação/refrigeração deixou a desejar diante do imenso calor de Belém. Também a alimentação nas áreas internas foi precária, com pouca oferta e filas enormes. As acomodações foram boas, com salas amplas e confortáveis. E tanto o pavilhão dos países, na Blue Zone, como das entidades civis e empresas, na Green Zone, foram razoáveis. Milhares de reuniões e encontros paralelos foram realizados dentro e fora do local da COP. E também os contatos e as conversas individuais foram incontáveis. O mundo estava ali através de 198 países. Houve vários protestos de grupos, ativistas, povos indígenas, como já era esperado. A agenda central da COP-30, a negociação entre as delegações, começou bem, com um consenso sobre a pauta dos trabalhos. Mas a partir do terceiro dia começaram as divergências. Parece que há mais acordo no avanço das medidas de adaptação. No entanto, no quesito mitigação aparecem as divergências, principalmente dos países produtores de petróleo e seus aliados. Isso atrasa as decisões sobre o avanço da transição energética. A equipe de negociação do Brasil é muito habilidosa, mas isso não basta para convencer os petrolíferos. Temos até o dia 21/11 para acompanhar o desenrolar das conversas. Sem otimismo inocente, mas sem derrotismo. Muitos criticam os resultados das COPs, por não corresponderem aos anseios e necessidades das medidas concretas nas mudanças climáticas. De fato, a velocidade dos fenômenos climáticos é muito maior do que a ação humana para contê-los. Mas não temos outro caminho a não ser nos encontrarmos na trilha da mitigação e da adaptação. E a COP é esse momento que mostra toda a dificuldade de agirmos e toda a capacidade que temos para isso. Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista Coordenador de Meio Ambiente da AFPESP/ Membro do GT COP30 da Prefeitura de SP

A MEDICINA E O CLIMA

É sabido de todos que as pessoas vítimas das agressões biológicas, sociais e ambientais acabam caindo nas mãos dos médicos e demais profissionais de saúde. É assim com as pessoas que sofrem de doenças degenerativas como diabetes, hipertensão, tumores, doenças autoimunes e tantas outras. Tem aqueles que sofrem lesões externas como acidentes de trabalho, de trânsito, violências físicas e mentais, também acabam nas unidades de saúde ou nos consultórios médicos. Daí, podem sair recuperados, com sequelas ou mesmo vir à óbito. As poluições ambientais e os desequilíbrios da natureza, são a causa da grande maioria das doenças que atingem os seres humanos. As poluições do ar pelos particulados, os abusos dos produtos de beleza, as más condições de trabalho e de moradia, os excessos de álcool, drogas, tabaco, entre muitos outros, estão entre os fatores causais de 90% das patologias. Agora, exacerba-se mais um fator ambiental como causador de adoecimento e morte entre os humanos. Trata-se das mudanças climáticas, com seus fenómenos extremos, causados pelo aquecimento global. Fenômeno da modernidade, causado pela ação humana na queima de combustíveis fósseis ou pelo desmatamento, esses fatores têm provocado verdadeiras epidemias na humanidade. Seja pelas doenças infectocontagiosas crescentes e ameaçadoras, seja pelas ondas de calor extremo, ou pelos desastres climáticos, como chuvas violentas ou secas prolongadas. As mudanças climáticas estão piorando as condições de saúde de bilhões de pessoas no planeta. Mais uma vez, essas pessoas acabam nas mãos dos médicos e das equipes de saúde. Mas vai aqui um alerta! Os médicos e os demais profissionais de saúde ainda não se encontram conscientizados e preparados para lidar com essa nova realidade. Muitos ainda não ligam a causa ao efeito, e caminham ao largo da etiologia das enfermidades. Trata-se de levar essa realidade à presença da Medicina para que todos conheçam, se aprofundem e ajam na medida que a calamidade sanitária exige. Portanto. Mãos à obra!!! Gilberto Natalini- Médico, Ambientalista e Coordenador de Meio Ambiente da AFPESP

O CAPITALISMO PREDATÓRIO E A DESTRUIÇÃO AMBIENTAL

Para início do debate, ninguém esconde que é fundamentalmente decisivo entender qual a nova realidade que está surgindo, em tempos de emergência climática (assunto ainda desconhecido para mais de 30% da população brasileira, de acordo com pesquisa recente) e em tempos de muita tecnologia em que o principal fator de produção é o conhecimento.Seja como for, a questão, em linhas gerais, ganha a seguinte formatação: lá fora há um capitalismo devorador de recursos (modo de produção com sua lógica intrínseca de maximização do lucro) que provoca, na base, uma crise civilizatória, e que não hesita em jogar para escanteio a preocupação ecológica.Mais do que isso, pensando primeiramente nos desdobramentos de nossa realidade particular, esse típico, influente e dominante modelo (por certo, o elemento principal que promove a relação destrutiva do potencial ecológico) submete, entre outros, a floresta amazônica aos ditames do agronegócio (no Brasil, nunca é demais frisar, a agropecuária responde por cerca de 96% da área desmatada no Brasil, segundo o Relatório Anual do Desmatamento 2022).Assim sendo, e insistindo no assunto, falamos de uma dinâmica do capitalismo que, no fundo, parece que se especializou em queimar e desmatar a vegetação nativa para facilitar a expansão da fronteira agrícola; que ameaça milhões de espécies de plantas e animais; que transforma a riqueza verde do mundo vivo em commodities.Sem ineditismo, nesse ambiente complexo, importa destacar que a desigualdade explosiva e a crise ambiental devastadora são, sim, em nosso caso, os nossos mais imediatos desafios.Por isso se diz às claras que, num mundo em que as aplicações financeiras rendem mais do que investimentos em produção, a crise do meio ambiente, aqui ou acolá, permanece presente.Recorte feito, é certo que as principais mudanças globais aceleram a crise ambiental (o caos socioambiental).Não por acaso, olhando agora para a economia global e usando outros termos, os 110 trilhões de dólares de bens e serviços produzidos anualmente no planeta colocam em evidência o nível de devastação deixado na natureza, sempre exigida para comportar o tão aclamado crescimento econômico.Mas, vejamos: até certo ponto, trata-se de um crescimento que, com a força das evidências, atende cada vez mais a parte (rica e abastada) acomodada no andar de cima da pirâmide.Os mesmos, como é sabido, que prontamente danificam toda a causa ambiental.Por esse lado, tomando os dados mais atuais e colocando-os em perspectiva, não é segredo o que está devidamente destacado no estudo Climate Change And The Global Inequality of Carbon Emissions (Chancel, 2022): os 10% mais ricos são responsáveis por cerca de 20 vezes mais emissões em comparação com os 50% mais pobres em escala global.Tudo interligado e relacionado. Tudo generalizado em termos de crises ambientais contemporâneas. Exploração, dominação, devastação e acentuada piora do meio ambiente e da qualidade social da vida moderna. Vivemos, pois, uma situação de urgência.Ladislau Dowbor, olhando para a outra ponta dessa mesma história, levanta uma oportuna provocação em seu recente trabalho Os desafios da revolução digital: “apenas as pessoas mais alienadas não se dão conta da catástrofe que representa a convergência de desastres ambientais, desigualdade explosiva, caos financeiro e violência generalizada.Nesse conjunto de relações e ações conturbadas, “tanto a desigualdade extrema quanto a destruição ambiental não são defeitos do sistema, mas a sua característica”, assim reconhece em forma de relatório o Unrisd, Instituto de Pesquisa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Social, criado em 1963 e sediado em Genebra.De toda sorte, vamos lembrar dos aceleradores da crise ambiental reconhecidos pela ONU que inclui, sobretudo, a degradação da natureza, o rápido desenvolvimento de tecnologias como a Inteligência Artificial (transformação digital), a competição por recursos naturais, o aumento das desigualdades e a diminuição da confiança nas instituições.Nessa direção, não se pode perder de vista que o aumento por recursos hídricos e minerais críticos e por elementos de terras raras, de um jeito ou de outro, acabam condicionando novas pressões sobre a base ecológica conhecida.Na maioria dos casos, mesmo que não haja consenso, convém dizer que, pelas mãos da sociedade capitalista (o modus operandi é próprio: mais aumento de extração, mais produção, mais acumulação), degradação (e rupturas) de ecossistemas, perda de biodiversidade (a partir da exploração excessiva de recursos naturais e da eliminação de habitat), alterações nos padrões climáticos e poluição (de todo tipo) são, pesa reconhecer, as consequências mais visíveis de todo esse desajuste aqui mencionado.Portanto, na realidade, não tem como ser diferente. Daí em diante, para falar de modo convencional, nada mais lícito do que afirmar que a mudança climática (cada vez mais chamada de emergência climática pelos especialistas e intensificada em uma escala nunca vista), que está longe de terminar, ameaça de vez o futuro do planeta. Gilberto Natalini é médico-cirurgião, vereador por cinco mandatos na Câmara Municipal de São Paulo. Foi secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente (2017) e candidato a governador do Estado de São Paulo pelo Partido Verde (PV) em 2014. Marcus Eduardo de Oliveira é economista e ativista ambiental. Delegado do CORECON-SP por Osasco. Autor de “A civilização em risco” (Jaguatirica, 2024), entre outros. prof.marcuseduardo@bol.com.br

O CAPITALISMO PREDATÓRIO E A DESTRUIÇÃO AMBIENTAL

Para início do debate, ninguém esconde que é fundamentalmente decisivo entender qual a nova realidade que está surgindo, em tempos de emergência climática (assunto ainda desconhecido para mais de 30% da população brasileira, de acordo com pesquisa recente) e em tempos de muita tecnologia em que o principal fator de produção é o conhecimento. Seja como for, a questão, em linhas gerais, ganha a seguinte formatação: lá fora há um capitalismo devorador de recursos (modo de produção com sua lógica intrínseca de maximização do lucro) que provoca, na base, uma crise civilizatória, e que não hesita em jogar para escanteio a preocupação ecológica. Mais do que isso, pensando primeiramente nos desdobramentos de nossa realidade particular, esse típico, influente e dominante modelo (por certo, o elemento principal que promove a relação destrutiva do potencial ecológico) submete, entre outros, a floresta amazônica aos ditames do agronegócio (no Brasil, nunca é demais frisar, a agropecuária responde por cerca de 96% da área desmatada no Brasil, segundo o Relatório Anual do Desmatamento 2022). Assim sendo, e insistindo no assunto, falamos de uma dinâmica do capitalismo que, no fundo, parece que se especializou em queimar e desmatar a vegetação nativa para facilitar a expansão da fronteira agrícola; que ameaça milhões de espécies de plantas e animais; que transforma a riqueza verde do mundo vivo em commodities. Sem ineditismo, nesse ambiente complexo, importa destacar que a desigualdade explosiva e a crise ambiental devastadora são, sim, em nosso caso, os nossos mais imediatos desafios. Por isso se diz às claras que, num mundo em que as aplicações financeiras rendem mais do que investimentos em produção, a crise do meio ambiente, aqui ou acolá, permanece presente. Recorte feito, é certo que as principais mudanças globais aceleram a crise ambiental (o caos socioambiental). Não por acaso, olhando agora para a economia global e usando outros termos, os 110 trilhões de dólares de bens e serviços produzidos anualmente no planeta colocam em evidência o nível de devastação deixado na natureza, sempre exigida para comportar o tão aclamado crescimento econômico. Mas, vejamos: até certo ponto, trata-se de um crescimento que, com a força das evidências, atende cada vez mais a parte (rica e abastada) acomodada no andar de cima da pirâmide. Os mesmos, como é sabido, que prontamente danificam toda a causa ambiental. Por esse lado, tomando os dados mais atuais e colocando-os em perspectiva, não é segredo o que está devidamente destacado no estudo Climate Change And The Global Inequality of Carbon Emissions (Chancel, 2022): os 10% mais ricos são responsáveis por cerca de 20 vezes mais emissões em comparação com os 50% mais pobres em escala global. Tudo interligado e relacionado. Tudo generalizado em termos de crises ambientais contemporâneas. Exploração, dominação, devastação e acentuada piora do meio ambiente e da qualidade social da vida moderna. Vivemos, pois, uma situação de urgência. Ladislau Dowbor, olhando para a outra ponta dessa mesma história, levanta uma oportuna provocação em seu recente trabalho Os desafios da revolução digital: “apenas as pessoas mais alienadas não se dão conta da catástrofe que representa a convergência de desastres ambientais, desigualdade explosiva, caos financeiro e violência generalizada. Nesse conjunto de relações e ações conturbadas, “tanto a desigualdade extrema quanto a destruição ambiental não são defeitos do sistema, mas a sua característica”, assim reconhece em forma de relatório o Unrisd, Instituto de Pesquisa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Social, criado em 1963 e sediado em Genebra. De toda sorte, vamos lembrar dos aceleradores da crise ambiental reconhecidos pela ONU que inclui, sobretudo, a degradação da natureza, o rápido desenvolvimento de tecnologias como a Inteligência Artificial (transformação digital), a competição por recursos naturais, o aumento das desigualdades e a diminuição da confiança nas instituições. Nessa direção, não se pode perder de vista que o aumento por recursos hídricos e minerais críticos e por elementos de terras raras, de um jeito ou de outro, acabam condicionando novas pressões sobre a base ecológica conhecida. Na maioria dos casos, mesmo que não haja consenso, convém dizer que, pelas mãos da sociedade capitalista (o modus operandi é próprio: mais aumento de extração, mais produção, mais acumulação), degradação (e rupturas) de ecossistemas, perda de biodiversidade (a partir da exploração excessiva de recursos naturais e da eliminação de habitat), alterações nos padrões climáticos e poluição (de todo tipo) são, pesa reconhecer, as consequências mais visíveis de todo esse desajuste aqui mencionado. Portanto, na realidade, não tem como ser diferente. Daí em diante, para falar de modo convencional, nada mais lícito do que afirmar que a mudança climática (cada vez mais chamada de emergência climática pelos especialistas e intensificada em uma escala nunca vista), que está longe de terminar, ameaça de vez o futuro do planeta. Gilberto Natalini é médico-cirurgião, vereador por cinco mandatos na Câmara Municipal de São Paulo. Foi secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente (2017) e candidato a governador do Estado de São Paulo pelo Partido Verde (PV) em 2014. Marcus Eduardo de Oliveira é economista e ativista ambiental. Delegado do CORECON-SP por Osasco. Autor de “A civilização em risco” (Jaguatirica, 2024), entre outros. prof.marcuseduardo@bol.com.br

LULA, O “MENINO” E O CELULAR

Há algum tempo, Lula se manifestou sobre o roubo de celulares. Ele disse que se deveria relevar que “um menino roubasse um celular”. Pois bem! Hoje, é roubado um celular a cada 2 minutos em São Paulo. De forma sorrateira ou a mão armada. Nós sabemos que grande parte das pessoas guardam suas vidas nos celulares. Quando são roubados não é só o valor do aparelho que é perdido, mas arquivos de toda uma vida. É como se levassem uma biblioteca de documentos e lembranças, ou todo o acervo do seu escritório. E, é claro, seus dados bancários, seus investimentos, seus negócios e muito mais. O roubo de celulares nas ruas do Brasil tornou-se a mania da bandidagem. Uma epidemia de furtos e roubos. Mas o que Lula não falou, porque fala demais o que não deve, é que por trás do “menino” que rouba celulares, se organiza uma imensa quadrilha de bandidos, muito organizada e ativa, que recebe os celulares roubados, os manipula, extrai os dados para golpes e desfalques e destina o aparelho para um mercado negro poderoso. A frase de Lula demonstra o quanto os governantes brasileiros são desinformados, alienados, displicentes e coniventes com o avanço da criminalidade que inferniza a vida do nosso povo. Não se trata aqui de condenar à pena de morte o “menino que rouba celulares”, mas sim de expor, denunciar, combater a rede de ladrões envolvidos nesse crime usual no Brasil. Nosso país enfrenta uma pandemia de golpes, falcatruas, corrupção, roubalheira, quadrilhagens, facilitações e ilícitos, físicos e virtuais que transformam o país num campeão mundial dessa competição. O roubo do celular e a fala do Lula são uma faceta desse campeonato macabro. Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista

NO PAÍS DO METANOL

O metanol é a ponta do iceberg da ilegalidade no Brasil. Se formos listar os golpes, malandragens, maracutaias, quadrilagens e todos os tipos de crimes, mais ou menos violentos que acontecem no país, a lista seria quilométrica. Recebemos todos os dias, notícias de dezenas de ilícitos que acontecem por aqui, praticados por pessoas ou grupos de pessoas que atuam para enganar os outros. E isso é o que nos chega ao conhecimento. O número real é infinitamente maior. Podemos dizer, sem medo de errar, que o Brasil se tornou a terra da safadeza, em grande e pequena escala. Seja presencial ou virtual. Vivemos uma pandemia de desonestidade que se organiza e atua por meio de pequenas e grandes quadrilhas, dentro e fora dos poderes públicos, em todo território nacional. Nos tornamos o paraíso da criminalidade, da corrupção e da esperteza. Não é à toa que tivemos 5 Presidentes da República presos desde a redemocratização, inclusive os últimos dois. Isso é sintomático, pois a ilegalidade se inicia na cúpula do país e de forma transversal se espalha até o cidadão comum. Parece que temos um vírus do mal feito, infectando o corpo e a alma do Brasil. Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário dão exemplos diários de mal comportamento, muitas vezes mancomunados com o empresariado, as instituições da sociedade, e as quadrilhas do crime organizado, produzindo tantos escândalos quantos são os dias do ano. Potencializado por uma perversa concentração de renda, uma degradação ambiental sistemática e uma maneira malandra de ser, o Brasil, esse país grande em território, recursos naturais e população, vai patinando na sua própria história. Sinceramente não sei como sair dessa! Estamos estragando nossa Democracia, a tanto custo conquistada. De uma coisa tenho certeza: todas as medidas a serem tomadas devem ser feitas nos marcos dessa mesma democracia. O processo de saneamento será doloroso, mas sem ele jamais poderemos ser chamados de Nação. Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista

TRUMP E LULA: a química

A química é uma ciência exata e que não se enquadra nessa dupla. O jogo aqui está mais para as artes cênicas da geopolítica global. O Brasil sempre se deu bem com os EUA, há 201 anos. Na grande maioria das vezes nosso país se submeteu aos caprichos e ditames dos “yankees”, sempre mais poderosos política, econômica e militarmente. Algumas vezes somos mais “quintal” e outras vezes, menos. O governo Lula, se alinhou a um grupo de países que buscou caminhar à margem dos americanos, competindo com eles. Enquanto pleiteia ser do Conselho de Segurança da ONU e ingressar no G20, o Brasil de Lula participa junto com a China, a Rússia, a Turquia, a África do Sul e mais alguns países do chamado grupo dos BRICS. Quase todos são autocracias ditas de “direita” e de “esquerda”, que cerceiam as liberdades democráticas de seus povos. O Brasil se alinha ao Irã, à Venezuela, à El Salvador à Cuba, à maioria dos ditadores da África e do Oriente Médio e vive às turras com as democracias liberais da Europa. Com a ascensão de Trump ao governo dos EUA, as coisas se complicaram. Trump foi eleito pregando o retorno da hegemonia dos americanos na política global e do “esplendor” interno de seu país. Tem uma visão nacional-chauvinista nesse mundo globalizado. Tem posições muito conservadoras nos costumes, embora não seja um exemplo de boa conduta moral. É um bilionário que mantém sua fortuna com práticas pouco recomendáveis, e prega abertamente o preconceito contra minorias sociais. Porém, Trump é um jogador político. Sua tática principal é o blefe. Assim, ele ameaça ao extremo e depois chama para conversar, a sua vítima já fragilizada por seus ataques, no campo político, econômico e mesmo militar. Foi isso que ele tentou fazer com o Brasil. Ameaçou, taxou, difamou, esculhambou nosso país e o governo, para tentar quebrar as alianças do Lula com os competidores dos EUA. Fechou as portas e de repente abriu uma janela enorme, atraindo o ressabiado Lula para um “papo cabeça”, e uma boa “química”. Há pouco tempo atrás o governo Lula estava nas cordas, com popularidade em baixa. A chamada polarização Lula x Bolsonaro, ia se esvaziando com as repetidas maluquices dos bolsonaristas, que foram colocando essa família num quadrado cercado de ridículo. Mesmo assim, Lula estava se esvaindo num governo com juros de 15% ao ano, cerca de 50 milhões de brasileiros se debatendo na informalidade e 70% na inadimplência, além é claro da criminalidade e violência crescentes, regidas pela batuta do PCC. Foi aí que Trump entrou em cena com sua taxação absurda e esdruxula, sua agressão verbal com o Brasil, seu ataque contra o governo Lula. Foi como um sopro de alento ao petista, que se agarrou com as duas mãos ao discurso da soberania e do orgulho nacional. O circo teatro de Trump injetou apoio interno ao governo Lula, que se levantou das cordas e melhorou nas pesquisas, sem diminuir juros ou melhorar um milímetro na economia, ou na vida do povo. Agora Trump abraça Lula e os dois vão pra galera. Parece até coisa combinada. Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista

O MUNDO GIRA!

               O mundo hoje vai se dividindo entre as democracias liberais e as autocracias. Estas se apresentam como regimes autoritários conservadores, chamados de “direita”, e autocracias populistas ditas de “esquerda”.                As democracias liberais mais tradicionais estão na Europa, em sua maioria na Zona do Euro. Também acontecem em países de outros continentes, como no Chile, no Uruguai, no Canadá, na Austrália, no Japão. Poderíamos dizer que estão em minoria hoje.                As autocracias e as ditaduras têm crescido ao redor do mundo, em graus e intensidades variadas. São implantadas por golpes políticos, armados ou não, e às vezes, pelo voto popular.                As autocracias conservadoras, ditas de “direita”, têm como exemplos a Rússia, a Turquia, a Hungria, El Salvador, a Indonésia, os países árabes do petróleo, e vários outros países da África. E, agora, estão a caminho os Estados Unidos da América, Israel, Argentina.                Os regimes autoritários, geralmente populistas ditos de “esquerda”, são a Nicarágua, a Venezuela, a Colômbia, a China, a Coreia do Norte, Cuba, várias ditaduras da África, entre outros.                O México, a Índia, o Brasil e a África do Sul são regimes eleitos pelo voto popular, com caráter populista e tendência à hegemonia.                O fato é que as chamadas democracias liberais estão em descenso no planeta, por não conseguirem dar respostas rápidas e concretas aos graves problemas da humanidade, como a desigualdade social crescente, com a consequente fome e a miséria, a criminalidade, a violência e a guerra, e a degradação ambiental, com a poluição que só aumenta e as catástrofes climáticas.                Dessa forma, a tal polarização tóxica e nefasta vai dividindo as pessoas e os países em dois campos que não correspondem à realidade e às necessidades da vida humana. São como realidades virtuais, criadas e incentivadas para desviar o foco das atenções políticas, econômicas e sociais dos graves e reais problemas, como a vergonhosa concentração de renda e a desastrosa dilapidação ambiental existente.                Esse quadro mundial avança e não tem sido fácil combatê-lo e modificá-lo.                O bom senso, a tolerância, a coexistência pacífica, as liberdades democráticas, o respeito pela divergência, o desenvolvimento econômico sustentável e mais equânime são necessidades urgentes da vida moderna.                Construir essa agenda humanista e justa é uma tarefa gigantesca que precisa ser enfrentada. Vamos ao bom combate! GILBERTO NATALINI- Médico e Ambientalista

DAS MUDANÇAS ÀS CATASTROFES CLIMÁTICAS              

O aquecimento global e os fenômenos climáticos extremos caminham rapidamente num ritmo maior do que a ciência havia previsto. A ciência acertou no diagnóstico mas errou no prognóstico. O que havia sido previsto em matéria de mudanças climáticas para o final deste século, está acontecendo agora com uma intensidade cada vez maior. As chuvas violentas, as longas estiagens, o calor extremo, o frio fora de época, as queimadas extensas, o degelo, as quebras de safra de alimentos, as doenças provocadas pelo clima, sejam infecciosas ou outras, estão cada vez mais presentes em nossas vidas. Hoje não existe nenhum canto do mundo que não tenha vivido ou esteja vivendo uma situação dessas. E o mais grave é que a velocidade com que os fenômenos extremos acontecem é muito maior do que a velocidade das ações humanas para conte-los. As emissões de gases de efeito estufa e a queima de combustíveis fosseis aumentaram no mundo nos últimos anos. Isso é muito grave. Os funcionários públicos federais, estaduais e municipais do Estado de São Paulo não estão fora desse cenário. Seja como vítimas do nervosismo do clima, seja como agentes importantes de transformação dessa realidade. Como indivíduos, cidadãos, munícipes, ou como coletivo profissional pelo seu tamanho, por suas posições estratégicas e sua importância na sociedade. Nós funcionários públicos temos um papel importante na proteção, prevenção, combate, recuperação de todas as agressões ocorridas contra o meio ambiente. Assim, desde uma ação individual, como separar nosso lixo, consumo consciente, economia de água e energia, uso de um combustível mais limpo, plantar e proteger as árvores, educar nossos filhos, famílias e amigos, até no exercício de nossas profissões, na saúde, segurança, educação, transporte, fiscalização, planejamento de políticas públicas, entre outras, nós, funcionários públicos no Estado de São Paulo, jogamos um papel estratégico no caminho de uma sociedade paulista mais sustentável e solidária. A AFPESP, como sempre toma a responsabilidade e a liderança de promover, estimular, praticar as propostas e as ações para que isso aconteça. Vamos juntos nessa nobre e necessária tarefa. Gilberto Natalini- Coordenador de Meio Ambiente da AFPESP

SAI DESSA, BRASIL!!!

Houve sim uma tentativa do Bolsonaro de dar um golpe para impedir a posse do Lula. Tentou de todas as formas, tentando desmoralizar as urnas, desqualificar as eleições, promover um estado de caos com violência de seus seguidores às instituições da república, e editar atos e decretos de exceção. O golpe só não se concretizou porque dois dos três chefes militares recusaram-se a mobilizar suas tropas. Como o golpe flopou, Bolsonaro ficou, junto com sua trupe, um alvo das quatro linhas da Constituição. Merece ser julgado, condenado e preso por sua aventura de aprendiz de ditador. Bolsonaro e seguidores são a cara da barbárie. Lula tomou posse, como devia ser, e vai fazendo um governo sofrível. Ainda não desceu do palanque, governa no gogó. Tem um Congresso hostil à sua gestão e mais da metade do povo o desaprova. Faz gestos de ajuda aos mais pobres com distribuição de benefícios sociais, o que lhe dá uma base de apoio, principalmente no Nordeste. Seu erro grave é se alinhar com ditadores e autocratas pelo mundo afora, como Maduro, o Aiatolá, Kim, Putin, Ortega, Xi, e que tais. Prefere andar com essa gente do com as democracias liberais da Europa. Lula e Bolsonaro alimentam a polarização tóxica e nefasta que infecta a política brasileira. Um precisa do outro para sobreviver em seus populismos de “esquerda” e “direita” (entre aspas mesmo). Do ponto de vista da moralidade pública, os dois devem muito na praça. O mensalão, o petrolão, o emendão, o rachadão, as jóias, os imóveis, o INSS, e outras pérolas da corrupção permeiam a política brasileira. Agora temos o fator Trump. Esse é um bilionário aloprado que não rasga dinheiro, com um histórico cavernoso no campo ético e moral. No governo americano, Trump vai ameaçando o mundo, e agride as liberdades democráticas nos EUA. A última atitude dele contra o Brasil, pautado pelo clã Bolsonaro, serviu para dar discurso ao Lula e melhorar sua posição nas pesquisas. Nós brasileiros, em sua maioria, queremos sair dessa situação de polarização pernóstica, desse populismo medíocre, desse alinhamento com a autocracia internacional, Buscar a construção do centro político democrático e ético é o grande desafio que se coloca para as forças do bom senso no país. Não há tempo a perder! Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista