Gilberto Natalini SP

Do descarte ao reaproveitamento: bens patrimoniais

Em diversas ocasiões, podemos encontrar artigos voltados à gestão de resíduos sólidos em instituições públicas e privadas. Ainda assim, é de suma importância discorrer sobre um aspecto não comumente abordado: o descarte e a destinação de equipamentos eletrônicos e bens patrimoniais provenientes de ambientes corporativos. Esta tipologia de resíduos, diferente dos resíduos domiciliares comuns ou recicláveis, podem incluir componentes perigosos em sua composição, como metais pesados e/ou apresentar tamanhos muito superiores, exigindo maior responsabilidade administrativa para a sua correta destinação. No Brasil, a gestão destes itens está legalmente fundamentada na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei nº 12.305/2010, que estabelece as diretrizes para o gerenciamento de resíduos sólidos em todas as esferas administrativas. Adicionalmente, o estado de São Paulo já avançava com esta temática à época, por meio da Lei Estadual nº 13.576/2009, que normatizou o gerenciamento e destinação final de lixo eletrônico. Essas legislações impulsionaram tanto o setor público quanto o privado a estruturar programas e sistemas voltados à gestão de bens patrimoniais, com foco na rastreabilidade, reutilização, descarte e, quando possível, doação ou venda. No setor público federal, diversos programas foram elaborados a fim de atuarem no controle patrimonial e no consequente manejo sustentável de bens patrimoniais, com destaque para: o SIADS (Sistema Integrado de Administração Patrimonial), que permite o controle dos bens móveis da administração direta, autarquias e fundações, e o Portal Doações.gov.br, que facilita a doação de bens inservíveis entre instituições públicas e, em alguns casos, para entidades da sociedade civil. Além dos esforços públicos, empresas especializadas oferecem outras ferramentas para auxiliar na gestão de patrimônio institucional, que permitem desde o controle de inventário até a depreciação e baixa de bens. Na AFPESP, o controle e a destinação de bens inservíveis são conduzidos pela equipe de Patrimônio dentro de um fluxo técnico e criterioso. O processo inicia-se com a solicitação de baixa e segue para validação da destinação por uma Comissão Técnica formada pelo gestor responsável pelo bem, um conselheiro e um representante da Coordenadoria de Patrimônio. Essa equipe tem a função de validar os bens relacionados e definir sua destinação, que pode ocorrer de forma presencial ou virtual. Na sequência, toda a documentação é elaborada, incluindo Relatório de Validação e Atas de Destinação. Os bens que ainda apresentam condições de uso são destinados à doação para instituições de caridade, fortalecendo parcerias sociais. Já aqueles que não possuem utilidade funcional, mas mantêm valor material, são encaminhados para venda como sucata excedente, o que é essencial para a redução de desperdício. Por fim, são descartados os bens para os quais não se identificam quaisquer viabilidades, logicamente respeitando o que diz a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Para se ter uma ideia de toda a logística e do trabalho por trás dessa operação, somente em 2024, a associação doou 611 itens, vendeu 1.691 e descartou apenas 189 (8% do total), o que mais uma vez reforça o compromisso da AFPESP com a responsabilidade socioambiental e a gestão sustentável de seus bens patrimoniais. Tal logística permite que a AFPESP realize o descarte destes materiais, alinhando responsabilidade ambiental, eficiência administrativa e compromisso social, além de garantir a rastreabilidade de todo o processo. O foco está sempre em assegurar que cada item tenha um destino coerente com sua condição, respeitando, além da legislação, os valores institucionais da associação. Conclui-se que a crescente atenção à destinação de equipamentos eletrônicos e bens patrimoniais representa um amadurecimento das instituições frente à sustentabilidade e à boa governança. O exemplo da AFPESP, somado aos programas públicos e privados existentes no Brasil, mostra que é possível estruturar processos transparentes, funcionais e comprometidos com o meio ambiente e a sociedade. Cabe às organizações, públicas ou privadas, reconhecer o valor estratégico da gestão de resíduos e implementar sistemas que promovam não apenas o descarte conforme determina a legislação, mas o aproveitamento inteligente dos recursos que já possuem. Gilberto Natalini e Marcia Fernanda Santos

PARQUE QUE TE QUERO PARQUE

Os parques urbanos são tudo de bom. Em cidades, onde a ocupação do solo é centímetro por centímetro, principalmente nas grandes metrópoles, preservar espaços livres com cobertura verde, áreas permeáveis, fauna, nascentes, lagos e outras paisagens naturais, como os parques públicos, é uma reserva de natureza e de vida, que tem um papel fundamental na construção de comunidade saudável e sustentável. Em 2004, São Paulo tinha 34 parques municipais. Pelo tamanho da cidade era um número modesto e insuficiente. A partir de 2005, Eduardo Jorge esteve como Secretário do Verde e Meio Ambiente, permanecendo lá por 8 anos nas gestões dos prefeitos Serra e Kassab. Nessa ocasião foi estabelecida a meta de entregar a cidade em 2012 com 100 parques. E assim foi feito. Eu estava no mandato na Câmara Municipal e participei ativamente desse processo, defendendo verbas no orçamento, levando reivindicações de vários grupos das comunidades dos bairros, e propondo, por meio de projetos de lei autorizativos, a criação de novos parques. Assim surgiram, em 8 anos, mais 66 novos parques entre 2005 e 2012, muitos deles em locais mais periféricos e carentes de áreas verdes. Também nesse período foram plantadas 1,6 milhões de árvores nativas, cerca de 200 mil por ano. Foi uma época profícua na área ambiental, complementada por projetos importantes como o córrego limpo, a defesa das águas, a ecofrota, a inspeção veicular, e muitos outros. Em 2013, assumiu outro prefeito, e muitos desses projetos ambientais foram interrompidos pela gestão municipal. De 2013 a 2016 foram criados apenas 3 parques, que já vinham encaminhados pela gestão anterior. A ecofrota foi interrompida, assim como a inspeção veicular. O programa córrego limpo e a defesa das águas quase desapareceram. Em 2017, assumi a Secretaria do Verde na gestão do João Dória. Fiquei lá por 7 meses, e nesse período conseguimos plantar 60 mil árvores, retomamos a operação defesa das águas, criamos 3 parques em 6 meses, bem como atuamos para moralizar o licenciamento ambiental. Sai da gestão por grande divergência com o prefeito. Hoje São Paulo tem 120 parques, e até 2028 deverá chegar a 130 parques. O atual Prefeito Ricardo Nunes acaba de decretar a desapropriação do antigo Clube Banespa, para transformá-lo em parque, uma antiga reivindicação nossa na Zona Sul. Uma medida elogiável. Por outro lado, o Prefeito também decidiu desapropriar 32  áreas de mata nativa, num total de 150 milhões de m², para transformá-las em parques municipais. Isso também é um fato excepcional. Em meu dossiê da Devastação da Mata Atlântica nos Mananciais, denunciamos a derrubada de 1,6 milhão de árvores pelo crime organizado e indicamos a necessidade da prefeitura assumir essas áreas de matas para preservá-los o que agora vem sendo feito pelo Ricardo Nunes. São Paulo tem um grande passivo ambiental nos seus 471 anos de existência. Mas há um esforço público e privado para recuperar e proteger o meio ambiente nos últimos tempos. O que tem vindo na contramão desse esforço é o resultado do Plano Diretor, que foi muito permissivo com a verticalização exagerada dos bairros de São Paulo. Todo esforço deve ser feito para regular essa verticalização dentro de parâmetros que respeitem os limites razoáveis de urbanismo e sustentabilidade. Essa é a luta do momento. Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista

Panorama Sustentável AFPESP

No Panorama Sustentável, você acompanha a evolução da gestão ambiental implementada pela AFPESP em suas unidades. Além de manter campanhas contínuas de conscientização e garantir o cumprimento rigoroso da legislação ambiental vigente, a associação amplia suas ações estratégicas rumo à agenda climática global. Nossos próximos passos incluem a participação na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém (PA), em novembro de 2025 — um marco no compromisso da AFPESP com a sustentabilidade e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Leia o panorama no link abaixo. https://www.afpesp.org.br/sede-social/meio-ambiente/panorama-sustentavel

OS MÉDICOS SE LIGAM NO CLIMA          

                                                               A humanidade em sua saga de “progresso e bem-estar” está consumindo muito mais recursos naturais do que o Planeta pode oferecer. A degradação do Meio Ambiente é enorme. E ainda estão sendo devolvidos os resíduos do consumo, que está poluindo o ar, a terra e as águas (mar e rios) de uma forma agressiva. A destruição da natureza, da biodiversidade, o aquecimento do Planeta, as mudanças climáticas com seus fenômenos extremos, vêm com força e ameaçam a própria sobrevivência humana. As consequências disso são os desastres naturais frequentes, como enchentes, estiagens, queimadas, calor extremo, frio exagerado, entre outros. O aparecimento de microrganismos patógenos novos, trazendo doenças infecto contagiosas, é cada vez mais frequente. Assim, a vida humana é ameaçada por adoecimento e mortes provocadas por desastres ambientais e doenças que aumentam sua incidência. Todas as pessoas doentes ou mortas por esses fatores caem nas mãos dos médicos e do sistema de saúde. Cada vez mais!! Mas, o que temos observado é que nem o sistema de saúde (público e privado) e nem os profissionais médicos estão alertados e preparados para essa realidade. Ainda há muita desinformação entre os médicos sobre a realidade ambiental atual. Por esse motivo, propusemos, e a Associação Paulista de Medicina – APM aceitou de pronto, a realização do movimento “Médicos pelo Meio Ambiente e pelo Clima”, com o objetivo de conscientizar e mobilizar os profissionais da medicina, para uma ação concreta frente a esse novo cenário da saúde ambiental. Estamos convidando os colegas para participarem do forum que ocorrerá no dia 23 de agosto próximo, sábado, das 8:30h às 12:00h, no auditório nobre da APM, na Av. Brigadeiro Luís Antônio, 278. O assunto tem tido boa aceitação entre todos, e nossa proposta é redigir um documento dos médicos para ser divulgado na COP30. Contamos com a presença dos colegas e pedimos que divulguem esta mensagem. Saudações, Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista

RETROCESSO DESESPERADOR QUE AMEAÇA FUTURO DO PAÍS

Estamos diante do maior problema multidimensional que afeta o sistema vida. Estamos diante da maior emergência desses tempos atuais – o colapso climático. Estamos num País que, historicamente, sofre com desastres ambientais, pondo em risco direto à vida de milhões de brasileiros, e mesmo assim, na madrugada da última quinta-feira, 17, em votação final, a Câmara dos Deputados, por 267 votos a 116, aprovou o PL, Projeto de Lei n°2159/21, que simplesmente desmonta (flexibiliza) as regras (Lei Geral) de licenciamento ambiental no Brasil. Isso significa renunciar a estudos ambientais e de análises alternativas. Importa esclarecer que foi desmontado o principal instrumento de controle dos impactos ambientais de empreendimentos no país. Por isso foi batizada de PL da Devastação, uma vez que favorece, como é fácil supor, o avanço de empreendimentos alheios à preocupação ambiental. Com a quebra de regras, cria-se possibilidades de procedimentos autodeclaratórios, dispensa (afrouxamento) de licenciamento ambiental. Estamos falando, portanto, de inacreditável retrocesso ambiental (verdadeiro dano ao sistema de proteção ambiental) arquitetado por um Congresso que faz o jogo do quanto pior, melhor. Análise realizada pelo projeto Amazônia Revelada, em parceria com a InfoAmazônia, mostra, pela primeira vez, que milhares de sítios arqueológicos cadastrados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) podem ficar vulneráveis. Patrimônio histórico desprotegido. Terras indígenas não homologadas pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) serão diretamente afetadas. Nada menos do que 86% dos projetos de mineração e suas barragens em Minas Gerais serão aprovados de forma automática. Na base disso tudo, apresentado como um marco de eficiência e desburocratização, o Congresso brasileiro, com a aprovação do PL 2159/21, ecoando uma tragédia anunciada, acaba de incentivar um modelo de desenvolvimento arcaico, inimigo do meio ambiente, gerador de diversos impactos ambientais que, sobretudo, ameaçam a defesa da vida. Por isso, como apropriadamente demonstrou o geógrafo Bruno Araújo, “o PL da devastação é um retrato cruel do que o capitalismo faz quando quer aumentar suas taxas de lucro: acelera sua máquina de destruição, mesmo que isso signifique colocar toda a sociedade em risco”. Em nosso sentir, a aprovação desse projeto – o mais grave ataque dos parlamentares brasileiros ao meio ambiente – faz avançar a lógica da destruição em nome do lucro. Diante desse grave retrocesso, que fique claro: está em jogo a qualidade da Amazônia, do Pantanal e da generosa Mãe Natureza. Diante de um simples apertar de botão, transforma-se todas as licenças ambientais do País. Por isso chegou a hora de unir forças. Organizações da sociedade civil, movimentos sociais, comunidades tradicionais, povos originários. Todos, unidos, pressionando para a reversão desse retrocesso. E que não percamos de vista: é a proteção da vida, do solo, da floresta, do verde, da água, do ar, da biodiversidade que deve falar mais alto. Por justiça social, por justiça ambiental, nosso grito, daqui para a frente, deve ser um só: exigir o veto da Presidência da República. Gilberto Natalini, é médico-cirurgião, vereador por cinco mandatos na Câmara Municipal de São Paulo. Foi secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente (2017) e candidato a governador do Estado de São Paulo pelo Partido Verde (PV) em 2014. Marcus Eduardo de Oliveira é economista e ativista ambiental. Autor de A civilização em risco (Jaguatirica, 2024), entre outros.

O CLIMA NERVOSO: A VIDA AMEAÇADA!

               Nesse universo infinito, obscuro, silencioso e desconhecido para nós, existe um pequeno pedaço chamado Via Láctea. Nele tem um canto com um Sol e nove planetas, entre eles, um diminuto planetinha azul, que foi apelidado de Terra.                Essa tal Terra é composta de matéria incandescente em seu interior, da parte fria que se diz crosta, e é encoberta por de cerca de 71% de água em sua superfície, onde 97,5% é de água salgada.                É aí que, sabe-se lá porque (ainda se afogam em teorias), há 3,7 bilhões de anos surge a capacidade de reprodução de seres, que lutam por sua existência. São chamados de seres vivos.                A diversidade e a quantidade deles são tão grandes no decorrer desse tempo, que não se consegue calcular.                Vivem uns comendo aos outros para sobreviver. Parasitam-se e fazem simbiose. Extinguem-se e surgem outros novos, evoluem no decorrer dos tempos, sobrevivendo os que melhor se adaptam.                No topo dessa cadeia alimentar estão os humanos, que têm maior consciência de sua própria existência, e aprenderam a explorar e modificar a Natureza como ninguém, com ferramentas, tecnologia e planejamentos infindáveis.                Esses, os humanos, estão por aqui há 300 mil anos, segundo consta.                E é aí que mora o perigo!                A vida por aqui é regulada por um equilíbrio fino, onde o maior ou mais poderoso ser vivo depende, por uma teia de conexões, de todos os outros. Cada fio rompido dessa teia faz o sistema tremer e pode extinguir cadeias inteiras de viventes.                Pois bem!                A intervenção exagerada dos humanos, que não param de se multiplicar e já chegaram a 8 bilhões de indivíduos, sobre os recursos naturais e o meio ambiente, tem rompido muitos fios da teia da vida.                Várias espécies vêm sendo extintas pela ação humana, e milhares estão hoje ameaçadas. Tanto no mundo vivo animal e vegetal quanto em todos outros reinos.                Na busca da produção da energia, fundamental para as peripécias humanas, há quase 200 anos descobriu-se o combustível fóssil, usado em larga e principal escala hoje, e extraído do seio da Terra.                Mal sabiam os incautos que a queima desse fóssil iria produzir resíduos gasosos, que acumulados como um cobertor ao redor do Planeta, causariam um efeito estufa, retendo o calor do Sol e aquecendo o ar, a água e a terra.                E mais: esse aquecimento mudaria o comportamento do clima, que rege toda a vida nesse planetinha, produzindo efeitos extremos temerários.                E assim estamos nós hoje em dia!                          Mal sabiam, ainda, os incautos humanos, que tais mudanças climáticas teriam o poder de alterar todo o ciclo da vida, com suas chuvas violentas, suas estiagens prolongadas, seu calor insuportável e seu frio extemporâneo.                O clima indignou-se e veio para cima de nós!                Nessa emergência climática, espécies vivas vão sendo ameaçadas e destruídas, na terra e mar. O urso polar e os corais são paradigmas.                Mas há um mundo minúsculo e desconhecido que surge com importância: os micro-organismos.                Nesse mundo invisível dos “micróbios” o clima também age.                Assim, as bactérias, protozoários, micro fungos, vírus e congêneres mexem-se na clandestinidade da vida, diante do aquecimento global.                Temos visto “o topo da cadeia”, os humanos, debaterem-se diante do adoecimento e da morte, pelo aumento exponencial de doenças infectocontagiosas, como a dengue, a varíola, as viroses respiratórias, as superbactérias comedoras de carne, e a rainha de todas, a Covid-19.                As vacinas e os antibióticos correm atrás do prejuízo.                Mas, pelo que parece, as mudanças climáticas e a devastação das fronteiras ambientais vão liberando micro-organismos conhecidos e desconhecidos que têm como alvo outros seres vivos. Vejam a virose que está dizimando as abelhas nos EUA. Esse é só mais um exemplo.                Mas, na verdade, o grande alvo desses “bichinhos” todos é a carne humana.                E, sinceramente, acho que estamos só no começo. GILBERTO NATALINI- Médico e Ambientalista

DEIXEM A LEI CIDADE LIMPA EM PAZ

Dividimos as poluições na cidade, didaticamente, em 6: Poluição do ar, do solo, das águas, sonora, visual e climática. Em que pese todo o esforço que São Paulo tem feito para recuperar seu passivo ambiental e evitar novas degradações, a única poluição que sofreu um golpe mortal foi a visual. Os demais 5 passivos ambientais têm tido avanços, as vezes recuos no decorrer do tempo, embora o saldo seja positivo a favor do meio ambiente urbano. Não vou detalhar isso aqui. O divisor de águas do antes e depois na poluição visual foi a Lei 14.223 conhecida como Lei da Cidade Limpa, proposta e implementada pelo Prefeito Gilberto Kassab em 2007, com o apoio de todas as forças vivas da cidade. Quem não se lembra do cenário horrível dos outdoors em São Paulo, dos anúncios em luminosos exagerados, das placas de propaganda, faixas, cartazes e outros, que agrediam os olhos dos paulistanos afetando a saúde mental e a qualidade de vida? A lei veio para ficar e para dar um basta na poluição visual da Paulicéia. Essa foi uma grande iniciativa de política pública que deu certo por aqui. Pois bem! Agora, um “vereador iluminado”, descompromissado com a urbanidade, numa atitude sem noção e atabalhoada propôs o Projeto de Lei (PL) 239/23 que flexibiliza e fere de morte o cenário urbano com o desmonte da Lei da Cidade Limpa. O PL está tramitando na Câmara Municipal e, pasmem, já foi aprovado em primeira votação, com poucos votos contrários. Agora caminha para segunda e definitiva votação. Mário Covas dizia: “não há governo ruim para povo organizado”. Isso vale também para o parlamento paulistano. Portanto, está nas mãos das mesmas forças vivas, que efusivamente fizeram a Câmara aprovar a limpeza visual de São Paulo, mostrarem sua cara mobilizada e indignada para fazer os vereadores da cidade desistirem dessa aventura amalucada e nociva ao tentar poluir visualmente o ambiente urbano. Trata-se da mobilização social por uma causa ambiental, urbanística e de saúde pública. Trata-se do maior parlamento municipal do Brasil, se olhar no espelho e tomar rumo na vida. Trata-se de ganhar a luta entre o bom senso e o despautério. Portanto, repito: Deixem a Lei Cidade Limpa em paz! Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista Valter Caldana- Arquiteto e Urbanista

AS ÁRVORES: mais que os cães, melhor amiga dos homens

Muito se diz que “os cães são os melhores amigos dos homens”. Nos dias de hoje isso ganhou uma proporção gigantesca, diante da solidão e do individualismo que invadiu nossas vidas. Os “pets” ganharam um protagonismo na existência dos humanos. Um enorme número de pessoas possuem “pets”, que são como parte da família, e esses seres ganharam um protagonismo peculiar na vida e no afeto das pessoas. Parece que a tendência disso é aumentar. Mas o mundo gira e a realidade se transforma. Os impactos dos fenômenos ambientais e climáticos sobre a humanidade são cada vez maiores e ameaçadores, haja vista a relação de espoliação predatória que temos com a mãe natureza, por tudo que destruímos e tiramos dela em termos de recursos naturais, e os resíduos e venenos que devolvemos, resultantes do nosso consumo, sob forma de lixo e gases de efeito estufa. Os fenômenos ambientais e climáticos resultantes da nossa relação doentia com o planeta avançam numa velocidade bem maior do que a capacidade de resiliência. Vemos isso todo dia. É aí que surgem esses seres majestosos, que existem por aqui muito antes de nós, e que foram vítimas durante milênios do nosso desprezo, de nossa destruição e exploração desenfreada. As árvores! Sim, nossas velhas conhecidas, as árvores! Depois de devastar trilhões desses majestosos seres, nós vamos caindo na real, que diante da ameaça concreta para a própria existência humana, a árvore vai se revelando o modo mais fácil, mais barato, mais tangível, mais necessário, para nos proteger dos fenômenos climáticos extremos. O Professor José Goldemberg disse que “as árvores são as melhores amigas dos humanos” nas circunstâncias atuais. A árvore certa, no lugar certo na hora certa! Esse é o meu lema e convido a ser o de todos. Uma árvore grande evapora 400 litros de vapor de água por dia (tão necessários para nossos pulmões); seu entorno absorve a água das chuvas torrenciais, infiltrando o lençol freático; sob sua sombra, a temperatura pode ser até 4ºC menos que o ambiente; as árvores abrigam pássaros e pequenos mamíferos, além de insetos, todos importantes na cadeia da biodiversidade; e as árvores dão vida à paisagens, com suas copas e suas flores, além é claro, das frutas. Assim, podemos reafirmar que plantar árvores, ainda é a forma mais fácil, mais barata, mais inteligente de diminuir a depredação da vida no Planeta. Plantemos!!! Plantemos muito!!! Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista

BRASIL: Não ao PL da Devastação!!!

Muito se tem dito que o desmatamento tem diminuído no Brasil. Isso é uma verdade. A derrubada de floresta teve uma queda de 40% nos últimos anos. Mas isso não permite, de forma nenhuma, que estejamos satisfeitos. O Brasil é a maior reserva florestal do mundo, embora tenha perdido grande parte de sua cobertura vegetal no decorrer do tempo, em todos os seus 6 biomas. Da Mata Atlântica, que já foi exuberante, restam míseros 14,5%, e continua ameaçada pelo desmatamento. Nosso cerrado já perdeu 50% de sua área verde, e avança a destruição de sua mata característica. O Pantanal, o maior bioma úmido do planeta, sofreu uma devastação demolidora nas últimas queimadas, grande parte delas provocadas pela mão humana, e potencializada pela estiagem cruel das mudanças climáticas. No Pampa e na Caatinga avança o processo de desertificação, promovido pela mão humana e pelos fenômenos climáticos. A Amazônia, nossa grande floresta, a maior do planeta, já perdeu 25% de sua cobertura verde, com a “construção do progresso do Brasil”. E embora tenha queda no desmatamento, nos últimos 2 anos, a floresta continua sendo derrubada todos os dias, em ritmo agressivo, seja pelo “desenvolvimento” da atividade agropecuária, muitas vezes ilegal, seja pela exploração de venda da madeira, do garimpo e da especulação da terra. É preciso dizer que a “atividade econômica” do desmatamento na Amazônia é conduzida pelas quadrilhas de tráfico de drogas, do crime organizado, de grupos políticos e econômicos corruptos e predatórios que avançam mata adentro, desmatando terras públicas e reservas indígenas. Agora, esse crime contra a humanidade pode ser escrito na letra da lei. Foi aprovado pelo Senado e já está para aprovação na Câmara Federal o PL 2159/21, que flexibiliza drasticamente a licença ambiental e abre a porteira para a “boiada passar”. A “bancada do boi e do agro”, aliadas a outras bancadas da predação querem apoiar essa barbárie, em tempos de aquecimento global e degradação ambiental. O governo federal está dividido. De um lado, a Ministra Marina Silva, que é contra e do outro, Ministros do PT e outros partidos que são simpáticos ao “PL da devastação”. A nós, ambientalistas, empresários conscientes do desenvolvimento sustentável, cientistas e acadêmicos, religiosos comprometidos com nossa casa comum, organizações da sociedade civil, intelectuais e jornalistas, pessoas do povo que são vítimas dos fenômenos climáticos extremos, parlamentares e gestores com senso de responsabilidade, resta conversar com o povo brasileiro, para fazer uma enorme pressão sobre o Parlamento e o Governo brasileiro e enterrar o PL2159/21, e partir para construir um Brasil de progresso, sim, mas com desenvolvimento econômico sustentável, consonante com a preservação ambiental. Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista