Gilberto Natalini SP

Entrevista para o projeto Trajetória da Saúde em São Paulo

Em entrevista para o projeto Trajetória da Saúde em São Paulo: Instituições, Ideias e Atores, Gilberto Natalini compartilha sua longa caminhada na saúde pública e na política, marcada pela militância desde os anos de estudante até a atuação na institucionalização do SUS. Ele relembra momentos fundamentais de resistência durante a ditadura militar, o trabalho voluntário nas periferias de São Paulo e a articulação junto aos movimentos sociais na luta por saúde pública para todos.  Natalini destaca sua participação ativa nas discussões e na implementação do SUS, ressaltando o papel da articulação com lideranças municipais e estaduais. Sua atuação no Conselho Municipal de Saúde (Cosems) e no Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde (Conasems) foi essencial para impulsionar a municipalização e consolidar o sistema. A entrevista concedida ao coordenador do projeto, Nelson Ibañez, também aborda como ele ajudou a viabilizar a adesão de São Paulo ao SUS, colaborando com vereadores de diferentes espectros políticos, mesmo em posição de oposição ao governo de Marta Suplicy (2001 a 2004).  A conversa ainda traz uma análise crítica do impacto das Organizações de Saúde (OS) na gestão pública e dos desafios enfrentados pelo SUS nos últimos anos, como o enfraquecimento das estruturas institucionais e a falta de controle rigoroso de recursos. Natalini reflete sobre a necessidade de superar a polarização política e reafirma a importância de uma gestão responsável para garantir o funcionamento do sistema. Em um momento de mudanças e incertezas, ele enfatiza que o legado do SUS precisa ser preservado por meio de colaboração e compromisso contínuos com a saúde pública.  Nelson Ibañez: Para começar, gostaria que você contasse um pouco sobre sua trajetória, tanto pessoal quanto profissional, destacando sua inserção na área da saúde.  Gilberto Natalini: Agradeço e parabenizo a dedicação de vocês em organizar a história do Sistema Único de Saúde (SUS) e da saúde pública, junto à luta do povo brasileiro por uma atenção à saúde digna e justa. Vou procurar ser breve, porque minha história é longa e tem muita coisa que aconteceu ao longo do caminho.    Nasci no Rio de Janeiro e, em 1969, vim para São Paulo para prestar vestibular e estudar medicina – um sonho de vida. Desde criança, já tinha essa vontade. Meus avós moravam em São Paulo, então eu tinha parentes por aqui, mas meus pais ficaram em Campos dos Goytacazes, no interior do Rio, onde moravam na Usina São José. Peguei um ônibus da Itapemirim e cheguei a São Paulo apenas com uma maletinha na mão. Me inscrevi no cursinho, estudei intensamente por um ano, fiz o terceiro colegial aqui e passei no vestibular, o famoso  Centro de Seleção de Candidatos às Escolas Médicas (CESCEM), para entrar na Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp).  Minha militância política começou ainda em 1964, no Rio de Janeiro, em meio ao início da ditadura militar, quando eu era estudante secundarista. Mas foi na Escola Paulista que realmente nos organizamos. Formamos um pequeno grupo de oposição ao regime militar. Não éramos muitos – dos 120 alunos da minha turma, talvez 20 participassem desse grupo. A repressão era intensa e a maioria dos alunos vinha de uma classe média mais alta, que em geral apoiava o governo.  Mesmo assim, levantamos nossas bandeiras. Em 1970, começamos a defender o ensino gratuito e público, além de um sistema de saúde que também fosse público. A primeira vez que levantei essa discussão sobre saúde na Escola Paulista foi em uma assembleia de alunos, durante uma crise no Hospital São Paulo. As crises, como você sabe, Nelson, são recorrentes. Naquele momento, propus que a federalização do Hospital São Paulo seria a única solução possível para resolver ou ao menos reduzir os problemas.  Claro, isso causou controvérsia. A federalização significava uma intervenção governamental, e houve resistência, mas muitos sabiam que eu tinha razão. Por conta dessa fala, acabei sendo perseguido pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Passei uma semana correndo deles pelo campus da Escola Paulista, porque o Serviço Nacional de Informações (SNI) tinha uma sala ao lado da diretoria da escola.   Nelson: E como essa luta se materializou na prática, especialmente após sua formatura? Qual foi o impacto direto dessa experiência na sua trajetória profissional?  Natalini: Era uma coisa terrível. Desde aquela época até hoje, tenho lutado por um sistema público de saúde que atenda a população com dignidade e valorize também os profissionais de saúde. Conquistamos muitas coisas, mas a luta começou cedo.  Durante meu tempo na Escola Paulista de Medicina, onde me formei em 1975, fui preso em 1972 e levado ao DOI-CODI, onde sofri tortura nas mãos do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Lá conheci um operário chamado João Chile, da oposição metalúrgica, que vivia no Cangaíba. Na cela, ele nos provocou, dizendo que, após nos formarmos, acabaríamos tratando apenas de ricos e esqueceríamos nossos ideais de estudantes, como muitos fazem.  Decidi provar que ele estava errado. Escondi o endereço dele na barra da calça e, até me formar, juntei um grupo de colegas para transformar nossa formação em ação concreta. Em janeiro de 1976, logo após a formatura, fui com mais 12 pessoas ao endereço do João Chile. Batemos à porta e eu disse: “A burguesia chegou. Cadê o povo para ser atendido?”. João quase desmaiou de surpresa, mas celebrou conosco. Levamos algumas tubaínas e frangos assados, e depois ele nos apresentou aos padres da igreja local, que tinha um ambulatório fechado por falta de médicos.  Começamos a atender ali todos os sábados, e esse ambulatório funciona até hoje, após 48 anos, com o apoio de voluntários e da comunidade. Nosso objetivo sempre foi usar o atendimento e as necessidades individuais para mobilizar a população a melhorar a saúde coletiva do bairro e da região.  Com o apoio de Dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo da região na época e hoje bispo emérito, fortalecemos esse projeto. Criamos grupos de acompanhamento para grávidas, crianças, idosos, diabéticos e hipertensos – uma iniciativa que já antecipava o tipo de assistência comunitária

A VACINA DA DENGUE! Vitória e alerta!

Tivemos há pouco a notícia que a ANVISA aprovou o uso da vacina de dose única contra a dengue do Instituto Butantã. Foram muitos anos de pesquisa para produzir uma vacina genuinamente brasileira. Minha manifestação: Viva a Ciência! Viva o Butantã! Essa vacina prevê quase 80% de sucesso na prevenção da doença e quase 100% da prevenção de casos graves e morte. Um avanço cientifico e social estrondoso! O Ministério da Saúde já sinalizou que vai comprar e distribuir o imunizante a partir de 2026. Um grande ganho sanitário ao conter uma virose que inferniza nossas vidas há muitas décadas. Temos que comemorar muito essa conquista. Mas, para além dessa comemoração, cabe-nos fazer uma reflexão. O Brasil não conseguiu debelar a multiplicação do mosquito, que se reproduz em 80% dos casos dentro dos domicílios e imóveis. Isso demonstra nossa incapacidade, enquanto país, de eliminar os fatores de proliferação do Aedes, que é basicamente os reservatórios domésticos de água parada, por incompetência, desinformação, teimosia ou desleixo mesmo. Além disso, o mosquito que se urbanizou nessas décadas, foi ocupando todo o território nacional, e com as mudanças climáticas já chegou na Flórida (EUA) e caminha para o Sul, rumo à Argentina. Se levarmos em conta que o Aedes, além da dengue também transmite a Zika e a Chikungunya, podemos chegar à algumas conclusões pertinentes. Em que pese o grande avanço da vacina, não podemos, de forma nenhuma relaxar no combate à proliferação do Aedes Aegypti. Isso precisa ficar muito claro. O Ministério da Saúde deve, e vai, comprar e distribuir a vacina anti dengue do Butantã. Mas jamais poderá desleixar ou arrefecer nos programas de conscientização e fiscalização para o combate aos criadouros das larvas, que repito, estão localizados dentro dos nossos quintais. Isso tem a ver com eficiência nos programas de saúde pública, de comunicação social de interesse coletivo e com a participação popular num ato de cidadania. Por fim, reafirmo minha efusiva parabenização ao Instituto Butantã, que nesse e em outros inúmeros casos, tem honrado a ciência e a medicina brasileira. Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista

A MEDICINA E O CLIMA

É sabido de todos que as pessoas vítimas das agressões biológicas, sociais e ambientais acabam caindo nas mãos dos médicos e demais profissionais de saúde. É assim com as pessoas que sofrem de doenças degenerativas como diabetes, hipertensão, tumores, doenças autoimunes e tantas outras. Tem aqueles que sofrem lesões externas como acidentes de trabalho, de trânsito, violências físicas e mentais, também acabam nas unidades de saúde ou nos consultórios médicos. Daí, podem sair recuperados, com sequelas ou mesmo vir à óbito. As poluições ambientais e os desequilíbrios da natureza, são a causa da grande maioria das doenças que atingem os seres humanos. As poluições do ar pelos particulados, os abusos dos produtos de beleza, as más condições de trabalho e de moradia, os excessos de álcool, drogas, tabaco, entre muitos outros, estão entre os fatores causais de 90% das patologias. Agora, exacerba-se mais um fator ambiental como causador de adoecimento e morte entre os humanos. Trata-se das mudanças climáticas, com seus fenómenos extremos, causados pelo aquecimento global. Fenômeno da modernidade, causado pela ação humana na queima de combustíveis fósseis ou pelo desmatamento, esses fatores têm provocado verdadeiras epidemias na humanidade. Seja pelas doenças infectocontagiosas crescentes e ameaçadoras, seja pelas ondas de calor extremo, ou pelos desastres climáticos, como chuvas violentas ou secas prolongadas. As mudanças climáticas estão piorando as condições de saúde de bilhões de pessoas no planeta. Mais uma vez, essas pessoas acabam nas mãos dos médicos e das equipes de saúde. Mas vai aqui um alerta! Os médicos e os demais profissionais de saúde ainda não se encontram conscientizados e preparados para lidar com essa nova realidade. Muitos ainda não ligam a causa ao efeito, e caminham ao largo da etiologia das enfermidades. Trata-se de levar essa realidade à presença da Medicina para que todos conheçam, se aprofundem e ajam na medida que a calamidade sanitária exige. Portanto. Mãos à obra!!! Gilberto Natalini- Médico, Ambientalista e Coordenador de Meio Ambiente da AFPESP

CANGAIBA: 50 ANOS CUIDANDO DE GENTE

Nosso voluntariado médico no Cangaiba faz 50 anos de atendimento ininterrupto. Iniciou-se em 1975 e atende até hoje no ambulatório da Igreja Bom Jesus. Não é um trabalho religioso, é uma atuação humanista, que já tratou cerca de 150 mil pessoas, encaminhou milhares para atendimentos especializados e realizou quase 3 mil cirurgias no local. A partir das consultas e da farmácia realizamos um trabalho de educação popular, mobilização e organização das comunidades em favor de melhor qualidade de vida e saúde. Muitas melhorias foram conquistadas. No decorrer dessas 5 décadas realizamos inúmeras reuniões, palestras, cursos, assembleias e outras atividades coletivas. Produzimos milhares de folhetos, jornais, audiovisuais, filmes, matérias de imprensa, de redes sociais, como ferramentas de educação para a cidadania. Participamos de todas as lutas democráticas do povo brasileiro. Esse trabalho começou com um grupo de 14 médicos e estudantes da Escola Paulista de Medicina – EPM, e hoje lá estão Gilberto Natalini, Henrique Francé e Nacime Mansur, desde o início. Atualmente contamos também com Dra. Gênova, Dra. Jenny, e Dra. Maria do Céu. A farmacêutica Erika e os voluntários leigos Edemir “Coração”, Amaury, Neusa, Ulisses, Marli, estão ali, entre dezenas de outros que por lá passaram. É preciso citar o Padre Luís e muitos amigos da comunidade que nos ajudam. A Associação Popular de Saúde – APS fundada em 1979, é a entidade civil que além do ambulatório administra em convênio um Bom Prato e duas creches.  No caminho do cinquentenário haverá uma solenidade na Câmara Municipal/SP em 15/10/25 as 19 horas e uma missa solene em 13/12 /25 as 19 horas na Igreja do Cangaiba, presidida pelo cardeal D. Odilo Scherer. A sede da APS fica na Rua Domingos de Lucca, 108 e o Ambulatório na Rua Jacira Artacho, 47 (altura do 2.400 da Av. Cangaiba). Temos o livro “Médicos do Cangaiba – Viver é Gostar de Gente”, de Judith Patarra, que conta essa longeva e generosa atividade (online no natalini.com.br) Convidamos você a participar e divulgar a comemoração desse voluntariado médico que atua há meio século e que pretende continuar pelo tempo que for possível. “Viver é Gostar de Gente”. Gilberto Natalini Henrique Francé Nacime Mansur Contatos: (11) 2682.2017 Email: associação.aps@gmail.com Site: www.apsprojetossociais.com.br

OS MÉDICOS SE LIGAM NO CLIMA          

                                                               A humanidade em sua saga de “progresso e bem-estar” está consumindo muito mais recursos naturais do que o Planeta pode oferecer. A degradação do Meio Ambiente é enorme. E ainda estão sendo devolvidos os resíduos do consumo, que está poluindo o ar, a terra e as águas (mar e rios) de uma forma agressiva. A destruição da natureza, da biodiversidade, o aquecimento do Planeta, as mudanças climáticas com seus fenômenos extremos, vêm com força e ameaçam a própria sobrevivência humana. As consequências disso são os desastres naturais frequentes, como enchentes, estiagens, queimadas, calor extremo, frio exagerado, entre outros. O aparecimento de microrganismos patógenos novos, trazendo doenças infecto contagiosas, é cada vez mais frequente. Assim, a vida humana é ameaçada por adoecimento e mortes provocadas por desastres ambientais e doenças que aumentam sua incidência. Todas as pessoas doentes ou mortas por esses fatores caem nas mãos dos médicos e do sistema de saúde. Cada vez mais!! Mas, o que temos observado é que nem o sistema de saúde (público e privado) e nem os profissionais médicos estão alertados e preparados para essa realidade. Ainda há muita desinformação entre os médicos sobre a realidade ambiental atual. Por esse motivo, propusemos, e a Associação Paulista de Medicina – APM aceitou de pronto, a realização do movimento “Médicos pelo Meio Ambiente e pelo Clima”, com o objetivo de conscientizar e mobilizar os profissionais da medicina, para uma ação concreta frente a esse novo cenário da saúde ambiental. Estamos convidando os colegas para participarem do forum que ocorrerá no dia 23 de agosto próximo, sábado, das 8:30h às 12:00h, no auditório nobre da APM, na Av. Brigadeiro Luís Antônio, 278. O assunto tem tido boa aceitação entre todos, e nossa proposta é redigir um documento dos médicos para ser divulgado na COP30. Contamos com a presença dos colegas e pedimos que divulguem esta mensagem. Saudações, Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista

Carta aberta- Médicos pelo meio ambiente e pelo clima – APM

O aquecimento global e as mudanças climáticas são uma realidade presente, que afeta a saúde individual e coletiva de todos, causando adoecimento, agravamento de doenças e mortes. Os impactos na saúde envolvem os desastres naturais, as doenças relacionadas ao calor, as doenças infecciosas, a poluição e a qualidade do ar, a poluição dos oceanos pelos microplásticos, a poluição ambiental por resíduos sólidos, a segurança alimentar, a qualidade e escassez da água e a saúde mental. Cabe aos médicos e aos serviços de saúde, no fim das contas, atender e se encarregar das vítimas e das pessoas afetadas na forma de doenças causadas pelas emergências climáticas e pela degradação ambiental. Os médicos têm credibilidade, legitimidade e autoridade para falar sobre as consequências das alterações ambientais e climáticas sobre a saúde, esclarecendo as pessoas, esclarecendo a opinião pública, esclarecendo os agentes de saúde e propondo políticas de saúde públicas e privadas. Além do mais, o setor saúde, por si só, é um grande emissor de gases de efeito estufa, um grande consumidor de energia e produtor de lixo e como tal contribui para o aquecimento global. É um imperativo ético os médicos se envolverem na luta contra o aquecimento global, seja individualmente na sua prática clinica e profissional, seja nos hospitais e serviços médicos em que trabalham, seja coletivamente através das entidades representativas da classe médica e suas especialidades. Conclamamos a todos os médicos, às entidades de classe, às sociedades de especialidades médicas, aos representantes de hospitais públicos e privados e aos demais representantes do setor da saúde a participação nessa batalha. Vamos juntos cumprir nossa missão e nosso papel na preservação do meio ambiente, na luta contra as alterações climáticas e na preservação e prevenção da saúde individual e coletiva.

ENSINO MÉDICO: perigo de vida!!!

O Brasil possui hoje cerca de 500 mil médicos. A maioria deles concentrada nas grandes cidades, onde existem mais oportunidades de trabalho e maior oferta de serviços e conhecimentos. O interior do Brasil geralmente carece muito de atendimento médico por ausência de profissionais. Em 1975 o país tinha 73 Faculdades de Medicina, a maioria delas públicas como a FMUSP ou a Escola Paulista de Medicina, e poucas privadas, como a Santa Casa de São Paulo, porém de excelente qualidade no ensino. Hoje o Brasil possui cerca de 400 Escolas de Medicina, espalhadas por todo território nacional. Elas formam em torno de 40 mil médicos por ano. O grande problema identificado é a baixíssima qualidade do ensino médico em grande parte dessas faculdades. Muitas dessas faculdades não têm hospital escola, e há grande deficiência de professores de medicina, As mensalidades são pesadas, chegando a 10 e 15 mil reais por mês. Formam-se médicos sem qualificação adequada para atender os pacientes, deixando a população exposta à incompetência e imprudência no ato médico. Cada dia mais, temos contato com casos escabrosos de erros de diagnóstico e de conduta, praticados por esses “médicos” novos malformados em escolas médicas sem condições de formar bons profissionais, que também são vítimas desse processo. A causa desse descalabro na Medicina é a brutal comercialização e mercantilização do ensino e da prática médica. Alguns grandes grupos internacionais de ensino, como por exemplo, a CROTON, se apropriou do ensino superior do Brasil, comprando Universidades e Faculdades e abrindo inúmeras delas, entre essas, Escolas de Medicina. Esses “cursos” são muitas vezes financiados com verba pública, pelo FIES, e esse dinheiro todo vai parar nos bolsos desses “grupos educacionais”. O resultado disso é uma péssima qualidade do ensino superior brasileiro, entre eles a medicina, sendo que nesse caso são vidas humanas que estão no centro dessa barbárie educacional. Diante dessa “catástrofe”, as entidades médicas defendem há tempos o Exame de Proficiência Médica, que avaliaria os formandos de medicina antes de lhes outorgar o diploma profissional, que o autoriza a atender pacientes. Nunca se conseguiu aprovar isso em lei. Há um projeto no Senado (que foi barrado nas comissões) e sete projetos na Câmara Federal, propondo esse exame. Alguns há décadas, mas não prosperam. Os lobbys são intensos e não deixam aprovar. Agora, depois de toda essa situação calamitosa no ensino e no atendimento médico, que perpassou vários governos, após muita pressão das Entidades Médicas, o governo decidiu criar o ENAMED, que é uma prova para avaliar a qualidade do ensino das “Escolas Médicas” com a finalidade de tomar providências diante do descalabro do nível desse “ensino”. Mas, tendo em vista a poderosa pressão dos “grupos educacionais” que comercializam o ensino na maioria das Faculdades de Medicina no Brasil, só mesmo uma mobilização das entidades sérias de saúde e da população, poderão obrigar o Governo e o Congresso brasileiro a agir com firmeza para moralizar a formação médica no Brasil. Em nome da saúde e da vida! Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista

OS MÉDICOS E O CLIMA

Há pouco tempo choveu na Cidade de São Paulo, em 2 dias, o equivalente a 65% de toda chuva do mês de fevereiro. Todos viram o sofrimento de grande parte dos paulistanos, com as mortes, os adoecimentos e os imensos prejuízos materiais das pessoas que perderam tudo, e da municipalidade que arca com os estragos produzidos pelas chuvas. Já se vão décadas que o clima vem mudando, cada vez mais rápido, e mostrando uma cara agressiva com seus fenômenos extremos: secas intermináveis, chuvas violentas, queimadas, tornados, degelo, calor extremo e abrasivo. Afeta  o abastecimento d’água, de eletricidade, impacta as cidades e a produção agrícola, destrói estradas, pontes e caminhos, e principalmente, traz enfermidades diversas, que produzem adoecimento e morte. A humanidade não tem agido à altura desse desafio ameaçador. Mas, existe uma classe de pessoas, importantíssima na sociedade, que se coloca, como categoria profissional, ainda mais alheia a essa realidade: os médicos. Pela própria natureza da profissão, que jura proteger a saúde das pessoas e respeitar os desígnios científicos, os médicos brasileiros, como categoria profissional, seguem alheios, mudos, irresponsavelmente por fora da saga das mudanças climáticas. É claro que muitas personalidades médicas, conhecidas e respeitadas, estão envolvidas profundamente no combate e prevenção às mudanças climáticas. Mas são pessoas, valorosas sim, que agem individualmente. Não vemos um movimento das Entidades Médicas, sobre a questão climática. Nem uma palavra. Nenhum debate ou orientação. Uma omissão irresponsável e idiotizada dessas instituições. Assim  o CFM, os CRMs, a AMB e suas federadas, as sociedades de especialidade, com raras exceções, mantêm-se mudas, omissas, negacionistas, quase criminosamente alheias aos fenômenos climáticos que infernizam a vida dos seres humanos. Uma lástima!!! Milhões de pessoas adoecem pelo mundo afora com doenças surgidas ou potencializadas pelas mudanças climáticas. Ondas de calor matam, principalmente idosos, viroses as mais variadas, como dengue, febre amarela, covid, vírus respiratórios e tantos outros, são potencializados pelas condições climáticas, e espalham-se pelo Brasil e pelo mundo afora. Onde estão os representantes de nós médicos?? Estão escondidos em guetos ideológicos, enquanto o problema se agrava. Em nome de nossos pacientes, em nome de muitos colegas médicos que estão na frente de batalha trabalhando, em nome da ciência, do bom senso, e do juramento de Hipócrates, conclamamos os líderes das Entidades Médicas do Brasil, a saírem de suas tocas ideológicas e negacionistas, e virem para a luz da realidade, cumprir seu papel na luta por um Planeta mais saudável. Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista

P.S. HOSPITAL SÃO PAULO!

Estudei na Escola Paulista de Medicina de 1970 a 1975. O Hospital São Paulo era nosso Hospital Escola.Na época, o Pronto Socorro ficava na esquina da Rua Borges Lagoa com a Rua Napoleão de Barros.Era um local pequeno, acanhado para o volume de atendimentos e a importância do Ensino Médico ali praticado.Depois de bom tempo o P.S. do Hospital São Paulo passou para um prédio maior na Rua Pedro de Toledo, entre as ruas Napoleão de Barros e Botucatu. Foi um ganho enorme, de espaço, comodidade e qualidade no atendimento.Mas com o passar do tempo, o prédio ficou desadequado e deteriorado para a grandeza de sua missão.Foi então interrompido o serviço e começou uma grande reforma e ampliação.O Hospital São Paulo foi criado pela SPDM junto com a Escola Paulista de Medicina há mais de 90 anos, para servir como Hospital Escola. É um Hospital Filantrópico sem fins lucrativos, que faz atendimento SUS de altíssima qualidade e complexidade, exerce Ensino Médico para a Escola e todo Brasil além de fonte inesgotável de pesquisa médica de ponta.É uma instituição absolutamente insubstituível.O Hospital São Paulo sofreu crises de financiamento, que foram sendo resolvidas e nos últimos três anos o hospital voltou ao “azul”, reabriu seus leitos, multiplicou suas internações e cirurgias.O hospital se reergueu, com uma gestão que vem dando certo.A reforma do Pronto Socorro ficou pronta. Ele está apto a voltar a atender a população, com instalações ampliadas, modernizadas e adequadas. A previsão é que tenha 24 especialidades médicas na urgência e emergência.Agora vem a questão: quem vai financiar o custeio???O cálculo é que todo esse complexo custe cerca de 5 milhões de reais por mês.Pelo número de atendimentos, a complexidade dos serviços oferecidos com qualidade e a base de ensino e ciência que existem, esse custo é pequeno para o orçamento público.O SUS é tripartite.Portanto, o Governo Federal, Estadual e Municipal precisam sentar numa mesa, conversar e decidir como e de onde virá o recurso para custear o financiamento do histórico, necessário e urgente funcionamento do Pronto Socorro do Hospital São Paulo da Escola Paulista de Medicina.O povo espera e cobra.Isso é pra já!!! Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista