Cinemateca Brasileira: ministro estuda solução

A grave crise que se instalou na Cinemateca Brasileira parece estar perto de uma solução. O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e o secretário especial da Cultura, Mário Frias, visitaram as instalações da instituição, em São Paulo, nesta 3ª feira (23). Eles se reuniram com o diretor-geral da Acerp, Francisco Câmpera. A empresa está mantendo a Cinemateca, mesmo sem receber recursos do governo federal.

Desde 2018, a Cinemateca, vinculada ao Ministério do Turismo, está sob responsabilidade da Acerp, fruto de um adendo ao contrato que esta mantinha com o Ministério da Educação para a gestão da TV Escola. No final de 2019, o contrato entre Acerp e MEC acabou e o governo não quis renová-lo. A Cinemateca, cuja situação jurídica tornou-se incerta, ficou formalmente sem gestor responsável.

Depois da reunião, o  ministro Marcelo Ângelo Antônio, divulgou nota em que sinaliza a intenção de sua pasta de solucionar o caso da Cinemateca Brasileira. Gerida pela Acerp até dezembro de 2019, a Cinemateca está parada, com os funcionários – vinculados à organização social gestora – em greve, sem receber salários desde abril. Há débitos com a empresa fornecedora de energia na casa dos R$ 500 mil.

Como o governo já estava em atraso nos repasses desde meados de 2019, seu passivo com a Acerp, que assumiu os pagamentos até abril, é grande. A verba anual da Cinemateca é de R$ 13 milhões.

Ao final da reunião, o Ministro declarou que a intenção é “restabelecer a Cinemateca e dar vida nova à instituição. Podem ter certeza que, junto com o novo secretário de Cultura, estamos fazendo de tudo para resgatar e resolver o impasse dessa instituição tão importante para o Brasil e para o mundo”. Frias acrescentou que a questão reside em como formalizar a relação entre governo e Acerp. “Queremos a solução, tudo dentro da legalidade”.

O vereador Gilberto Natalini (PV), que vem acompanhando o impasse e foi o proponente de uma audiência pública realizada na Câmara Municipal de São Paulo na quinta-feira (18), manteve contato com os representantes da Acerp após o encontro e relatou que eles saíram esperançosos. “Disseram que foi uma boa reunião e que o ministro ficou de apresentar uma proposta, provavelmente na próxima semana”.

Natalini foi responsável pela gestão informal junto à Enel, fornecedora de energia elétrica que havia dado prazo até dia 26 de junho para que os atrasados fossem acertados, para que revissem a posição. Se houvesse um corte de energia, boa parte do acervo (os filmes de acetato) corria o risco de entrar em decomposição, pois são guardados em locais com temperatura e umidade controladas. Outra parte, a dos filmes em nitrato, precisa ser mantida também com temperatura e ventilação adequadas, caso contrário pode entrar em autocombustão.

Na Cinemateca Brasileira estão depositados os filmes mais antigos que resistiram produzidos no Brasil, o mais velho deles, de 2013, Os óculos do vovô. É o maior acervo audiovisual da América Latina, são aproximadamente 250.000 rolos de filmes. Estão sob a sua guarda, também, coleções documentais diversas, como as dos críticos Paulo Emilio Sales Gomes, seu fundador, e Francisco Luiz de Almeida Salles, presidente do Conselho durante muitos anos, e as dos cineastas Glauber Rocha e Carlos Reichenbach, entre outros.

Os funcionários que trabalham na Cinemateca, hoje ligados à Acerp, aguardam ansiosamente que o otimismo da reunião entre autoridades federais e dirigentes da OS se traduzam o quanto antes no acerto dos salários atrasados e na estabilização básica das condições para que possam voltar a cuidar do acervo. Ao lado de cineastas, eles voltaram a fazer uma manifestação com faixas e um carro de som.

 

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