Comissão de Direitos Humanos discutiu o caso de assassinato de Victoria Natalini

Cinco anos após a morte da estudante Victoria Natalini, de 17 anos, a Polícia Civil ainda não concluiu o inquérito do caso. A adolescente morreu durante a excursão de alunos da Escola Waldorf Rudolf Steiner à Fazenda Pereiras, em Itatiba (SP). Peritos particulares contratados pela família afirmam que Victória foi vítima de homicídio.

Por requerimento do vereador Gilberto Natalini, na tarde dessa 4ª feira (2/12), a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de São Paulo realizou reunião para discutir o caso de assassinato da jovem Victoria Natalini, prima do parlamentar. Participaram da reunião os vereadores da Comissão, o pai da vítima João Carlos Natalini e a advogada da família.

Em setembro de 2015, um grupo de alunos viajou para uma fazenda para participar de um trabalho de matemática. Os alunos foram divididos em grupos de três. Durante a tarefa, Victória avisou que precisada ir ao banheiro na sede da fazenda, a 500 metros.

“Ela avisou aos colegas, isso mais ou menos às duas e meia da tarde, ela desceu”, relata João Carlos Nalini, pai de Victória. O tempo passou. A tarefa terminou e a estudante não voltou.

“Quando foi quatro e meia da tarde, então, os colegas dela desceram, perguntaram da minha filha”, diz o pai. “A professora pediu que eles fossem até os alojamentos pra verificar se ela estava lá, ela não estava, e, por mais incrível que pareça, essa… essa professora, essa tutora, ela colocou todos os alunos à caça da minha filha no meio do mato.”

Mas ninguém encontrou Victória. Uma cozinheira que trabalhava na fazenda chamou a polícia. Seis horas depois, o pai foi avisado que a filha estava desaparecida.

“Depois disso, nós empreendemos buscas, o que deu durante a noite, a Defesa Civil fez. Na manhã seguinte, logo ao raiar do sol, todas as pessoas que estavam perto, inclusive pessoas de fazendas vizinhas, o próprio COI foi mobilizado, pela família e não pela escola.”

A busca foi intensa. Ainda pela manhã, o helicóptero Águia da Polícia Militar achou o corpo da adolescente. Junto com a tristeza, começaria uma luta do pai da jovem.

“Buscar justiça pra casos como o que vitimou a minha filha, é uma, um calvário, é um grande sofrimento pra toda e qualquer família, porque, no nosso caso, por exemplo, a investigação criminal, ela não anda.”

O laudo da perícia indicou causa indeterminada para a morte de Victória. A Polícia Civil de Itatiba, de início, tratou o caso como morte natural, por não perceber ferimentos.

“É um absurdo, uma menina que tinha uma alimentação irrepreensível, praticava esporte três vezes por semana, fazia natação duas vezes por semana, era ativa, só tinha bons hábitos, dormia oito horas por noite pelo menos.”

O médico legista Badan Palhares afirma: “Em qualquer ato que você vá trabalhar com um corpo inerte, ou seja, uma morte, você tem que ter como primeiro elemento objetivo, aquilo é um homicídio”.

Inconformado com a falta de respostas, o pai da estudante contratou peritos particulares. Badan Palhares afirma que o trabalho da perícia naquele dia foi muito fora do normal.

“Erros podem acontecer. Mas os erros não podem ser tão graves a ponto de encobrir um fato maior.”

O corpo de Victória foi encontrado de bruços, com os braços cruzados e o rosto dentro dos braços, o que, segundo os peritos, indica que o corpo foi colocado naquela posição e não teria morrido daquela forma.

Segundo fato: a dois metros do corpo da adolescente foi encontrado um saco plástico, que não foi recolhido pela equipe da perícia que esteve no local no dia da morte. E, terceiro: ao lado do rosto da jovem tinha um pedaço de capim com sangue. O capim não foi recolhido pela perícia.

O perito criminal Osvaldo Negrini destaca: “Havia ferimentos, sim, escoriações, um machucado na boca, o pé tinha um sangramento nos dedos, em alguns dedos, nós não verificamos nenhuma análise da meia que ela tava utilizando”.

Badan Palhares acrescenta: “Ao avaliar os lábios, a posição da língua e os dentes sobre a língua, e até ahn, um, o hematoma que existia ao nível do nariz, chamou a atenção”.

Palhares e Negrini fizeram um laudo totalmente contrário ao do estado onde afirmam categoricamente que a adolescente não morreu de causas naturais, e que tudo indicava homicídio.

“Houve uma força que impedisse ela de respirar, tá certo, causando então a morte por asfixia”, diz Negrini.

O novo documento foi aprovado por uma junta de médicos do Instituto de Criminalística, mas a investigação da Polícia Civil não parecia estar no mesmo caso.

“Nós municiamos a polícia desde o início desse inquérito”, afirma o pai. “Em Itatiba, quando nós procuramos fazer com que eles investigassem e não houve nenhum tipo de retorno da investigação do delegado, quanto depois, quando o inquérito passou a ser presidido diretamente pelo DHPP.”

A família não se conforma que um dos principais suspeitos, ex-funcionário da fazenda, não tenha sequer sido investigado.

“A gente tá falando de uma pessoa que tinha, primeiro, passagem pela polícia por tentativa de estupro, segundo, que tinha empreendido o mesmo tipo de violência física, na menina que ele tentou estuprar.”

O pai de Victoria questiona também o comportamento da escola alemã Waldorf Rudolf Steiner, onde a menina estudava. A escola segue o método Waldorf, que diz valorizar o ser humano e trabalhar o aprendizado físico, espiritual, intelectual e artístico.

“Além de eles não terem tomado nenhum tipo de providência pra nos dar suporte, inclusive psicológico, para a minha filha caçula, que era aluna na época, eles não deram suporte nenhum pra família após o ocorrido, não houve nenhum tipo de interesse deles em resolver o caso.”

“Todo e qualquer aluno que iria testemunhar na delegacia, estava sendo acompanhado por um advogado fornecido pela própria escola, que estava orientando o depoimento das testemunhas”, diz o pai.

O processo penal, para apurar o assassinato de Victoria nem começou porque a Polícia Civil não concluiu o inquérito. O Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) afirmou em nota que as investigações seguem em sigilo, e que ainda vão ouvir testemunhas e realizar exames para elucidar os fatos.

Indignados com o ocorrido e a falta de solução por parte da Polícia Civil e do DHPP, a Comissão de Direitos Humanos irá encaminhar uma carta para o Secretário de Estado de Segurança Pública, o Diretor do DHPP e o Ministério Público cobrando providências urgentes.

“Eu gostaria de agradecer a sensibilidade dos vereadores dessa comissão por acatar o requerimento de minha autoria para tratar do caso. A forma como as autoridades responsáveis estão tratando esse assassinato, mancha a história da Polícia Civil do Estado de São Paulo. A perícia deixou claro que foi um assassinato, mas o IML disse que foi morte natural. Em nome dos Direitos Humanos, da Justiça, da dor e do profundo sofrimento da família, espero sinceramente que o DHPP chegue rapidamente numa conclusão do caso”, disse Natalini.

Acesse a íntegra da reunião.

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