Coronavírus e a Insustentabilidade

Nos últimos anos, os surtos de doenças infecciosas como a Covid-19, transmitidas de animais para os seres humanos, aumentaram consideravelmente. É o caso do Ebola, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), a gripe aviária, a Dengue, o Zicavírus, a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers), dentre tantas outras que, de alguma forma, estão ligadas à degradação ambiental causada pelo homem.

Devemos nos preocupar imediatamente com a destruição dos ecossistemas e da biodiversidade, com a emergência climática e o consumo desenfreado de recursos naturais. O surto de Covid-19 é o reflexo das intervenções do homem no meio ambiente.

A origem exata do vírus que atinge quase 2 milhões de pessoas ainda está sendo investigada. Os morcegos, responsáveis pela transmissão de epidemias anteriores de coronavírus, como Sars e Mers, são os mais prováveis transmissores da COVID-19. A possibilidade de existir um “hospedeiro intermediário” também não foi descartada. O pangolim, um mamífero parecido com o nosso tatu-bola seria o elo suposto entre o Sars-Cov-2, morcegos e humanos.

A degradação ambiental causada pelo homem, por meio da destruição das florestas, a mineração intensiva, dentre tantas outras atividades humanas, tem feito com que os animais estejam cada vez mais próximos das pessoas, expondo-as a vírus que antes estavam isolados na natureza.

A criação intensiva de animais para consumo de carne também representa risco. A gripe H1N1 por exemplo, surgiu em rebanhos suínos no México em 2009, e o vírus espalhou-se para o mundo inteiro causando uma pandemia mundial. Do mesmo modo, o surto mundial de gripe aviária de 2005, surgiu nos frangos contaminados com as fezes dos animais da gaiola de cima.

O aumento da concentração populacional também se torna uma ameaça, uma vez que, em um mundo globalizado, milhares de mercadorias e pessoas transitam livremente mundo a fora, facilitando que doenças como a Covid-19, originária da China, torne-se rapidamente uma pandemia mundial.

As mudanças climáticas e a nossa capacidade de se adaptar aos eventos climáticos extremos dela decorrentes, também são um grande desafio. O descongelamento do solo do Ártico, por exemplo, poderá liberar antigos vírus e bactérias que estavam adormecidos por milhares de anos.

Os impactos das mudanças climáticas na saúde humana nos tornam mais vulneráveis a esses vírus. Por exemplo, as cidades que apresentam índices de poluição do ar mais graves apresentam uma mortalidade maior pela COVID-19.

Nesse contexto de pandemia, não é apenas o bem-estar humano e animal que estão em risco, há que se considerar que o desenvolvimento econômico, um dos pilares da sustentabilidade, está seriamente ameaçado. O impacto econômico do COVID-19 no Brasil e no mundo é incalculável.

Somos seres habitantes de uma mesma casa, o planeta Terra e fazemos parte de uma mesma comunidade que compreende, além dos humanos, todos os demais seres vivos. Portanto, devemos encarar essa pandemia como uma oportunidade para rever o nosso modo de viver e estabelecer uma relação do homem, em harmonia com a natureza. Afinal, não existe um planeta B.

Gilberto Natalini

Médico, Ambientalista e Vereador (PV-SP)

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