Todos nós conhecemos as dificuldades de financiamento do SUS, desde que foi criado. Hoje o SUS está desfinanciado, pois se somarmos as verbas federais, estaduais e municipais e dividirmos pelo número de habitantes do país, o SUS dispõe de 3,88 reais por pessoa, por dia, para fazer promoção e prevenção em saúde, tratamento e reabilitação. Esse é um dinheiro irrisório e insuficiente.
Soma-se a isso os graves problemas de gestão, com condutas repetidas, não realizadas e os ralos do desperdício e corrupção.
Nesse último quesito, tivemos agora notícia escandalosa de um verdadeiro crime contra a saúde pública, praticado pelo governo de Jair Bolsonaro.
O país tomou conhecimento do descarte e incineração de 29 milhões de doses de vacina da COVID 19, com um prejuízo de 2 bilhões de reais.
Logo em seguida veio outra notícia escandalosa do descarte e incineração de 15 milhões de canetas de insulina, um rombo de 15 milhões de reais.
Isso é gravíssimo, caracterizando crime grave contra a saúde pública.
A gestão do SUS, como um todo, foi ruim no governo Bolsonaro. Ele teve 4 ministros da saúde em 4 anos.
Os dois primeiros, Mandetta e Teich, pediram para sair por se verem tolhidos tecnicamente pelas orientações negacionistas e irresponsáveis do Presidente da República frente à pandemia do coronavírus.
Os dois últimos ministros, Pazuello e Queiroga, entraram para cumprir “um manda e o outro obedece”, mesmo que o mando significasse negar as vacinas, zombar dos pacientes, atentar contra a ciência.
Além disso, durante a gestão desses dois ministros, houve uma grande piora na desorganização do SUS.
O programa de vacinação brasileiro, considerado o melhor do mundo, deixou de sê-lo, ameaçando com a volta de diversas doenças, como a poliomielite.
As áreas de oncologia e cardiologia complexa, entraram numa fase de desassistência por falta de prioridade e de destinação de recursos.
Dessa forma, além dos quase 700 mil mortos pela COVID 19, índice campeão do mundo na proporção populacional, nós tivemos vários outros parâmetros de saúde pública piorados.
O negacionismo, a omissão, o descaso, criou uma péssima relação entre os membros da tripartite do SUS com o Governo Federal, que disputava e combatia os outros entes da Federação, os Estados e os Municípios, desorganizando o pacto federativo que é um dos pilares fundamentais no funcionamento do SUS.
A herança dessa desordem no SUS está aí.
E não deixamos de levar sustos, como esse do descarte e incineração de vacinas e medicamentos vencidos.
Espero que os responsáveis por essa tragédia sanitária sejam julgados e paguem pelo crime cometido.
Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista