A história do Brasil caminha em altos e baixos. Tem períodos que se acende uma grande tocha de esperança no povo brasileiro, e a utopia convive nos corações e mentes da nação. Já em outras ocasiões descemos até os últimos degraus da descrença e da indignação, em momentos tormentosos da vida do país.
Tem sido assim, desde que Cabral pisou aqui. Mas, na verdade, apesar dessas oscilações, o Brasil vive, desde o seu descobrimento, um misto de exploração externa, iniquidade, violência e injustiças que persiste até os dias de hoje. E vem piorando!
Apesar de termos um enorme número de brasileiros brilhantes, criativos, sensíveis, afetivos, somos um povo sofrido. Vivemos nossas alegrias dentro do nosso mar de sofrimento.
Essa realidade é bem explicada por Marcos Costa no livro “A Curvatura da Banana”, que eu recomendo.
Vamos exemplificar isso com os últimos 30 anos.
Em 1992, Collor foi cassado, assume Itamar Franco, que fez um governo probo e criou a estabilização da moeda com o Plano Real.
Eleito Fernando Henrique Cardoso, com a economia estabilizada, e o poder de compra do povo refeito, fez um governo liberal na economia e democrático, mas ao final dos 8 anos a euforia foi se esvaindo e o PT venceu a eleição com Lula em 2002.
Veio uma enorme euforia nacional e se depositou as esperanças do Brasil nas mãos do governo do PT.
Logo em seguida, uma enorme decepção surgiu, com a denúncia de compra de apoio do Congresso, com o famoso Mensalão.
Como a economia estava indo bem, pela herança do Plano Real e a conjuntura internacional favorável, Lula e seu governo, não só sobreviveram ao Tsunami, como conseguiu a reeleição.
Mas a mancha ficou!
Ainda no rescaldo da estabilidade econômica, de uma política de créditos e de políticas de compensação social, Lula conseguiu emplacar Dilma, como sua sucessora.
Mas o governo já estava “bichado” pela corrupção, nas alianças com setores fisiológicos da política.
Aí explodiu o “Petrolão”, o maior escândalo de corrupção da história da Brasil, que escandalizou o mundo todo.
A gangrena da roubalheira escorreu por dentro do Governo e com o desarranjo intenso da economia, Dilma foi impedida pelo Congresso, na vigência da Lava Jato.
Assume Temer, seu vice.
Nesse momento, toda a euforia nacional de 2002 havia se esvaído.
Lula foi preso e Temer também, depois de deixar o mandato.
O Brasil estava num inferno astral.
Daí, veio as eleições de 2018, e novamente, um setor da população se encanta com o sonho que virou pesadelo.
Mesmo sabendo do histórico desabonador, das posições retrógadas, autoritárias, as relações espúrias com as milícias, a maioria dos brasileiros, fugindo da roubalheira da era PT, elegeu Bolsonaro Presidente, numa busca alucinada e equivocada por um Brasil melhor.
A escolha logo mostrou sua face trágica.
Bolsonaro faz um governo levando o Brasil para o caminho da barbárie.
Além de exercer com esmero as práticas de fisiologismo e de corrupção, Bolsonaro pratica um governo de desmonte das políticas públicas que o Brasil vem construindo, a duras penas, desde a redemocratização.
Agora, chegando a época da eleição de 2022, o Brasil não conseguiu ainda, construir um caminho democrático, sustentável, equânime e ético para ser eleito em outubro.
Persiste e se coloca a dualidade Lula x Bolsonaro como alternativas.
Essa dualidade vai sendo vista, para a tragédia do Brasil, como fato consumado.
E não é!!!
Há espaço no Brasil para uma via alternativa a isso, que não está conseguindo se construir.
O Brasil não está vivendo um período de esperança.
O Brasil se debate entre dois lados de uma moeda, tendo a barbárie corrupta de um lado e o fisiologismo corrupto de outro.
Ainda temos alguns meses para construir uma alternativa. Não sabemos se dará tempo.
O fato é que precisamos resgatar o Brasil de fosso que ele foi colocado.
Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista