As chuvas violentas que desabaram por todo o Brasil são fenômenos climáticos extremos.
Vimos Minas e Bahia ficarem embaixo d’água, parte da região sul ser alagada, cidades do Centro Oeste e Sudeste sofreram as cheias e enchentes, com o drama humano e o prejuízo material.
Há pouco, foi a vez da Grande São Paulo. Vários municípios, como Franco da Rocha, Francisco Morato, Embu das Artes, Várzea Paulista, Caieiras, Itapevi, entre outros, e a própria Capital foram vítimas de enchentes devastadoras. Dezenas de mortos e cenas de desabamentos e cheias apavorantes.
Há duas décadas começamos a alertar para esses desastres, seja na Câmara Municipal de São Paulo, seja na Prefeitura, seja junto à sociedade civil, seja nos Governos Estadual e Federal.
Criamos a Conferência de Produção + Limpa e Mudanças Climáticas da Cidade de São Paulo, o maior evento ambiental local, que já está na sua 22ª edição.
Aprovamos diversas leis de nossa autoria, como o Pacote da Água, e tantos outros, e ajudamos a aprovar a Lei 14.933 do Executivo, referente às Mudanças Climáticas do Município de São Paulo.
Tivemos a participação em diversos Programas Ambientais, como o Córrego Limpo, Defesa das Águas, Plantio de Árvores e Criação de Parques e Áreas Verdes Urbanas. Batalhamos por um Plano Diretor mais resiliente. Levantamos e denunciamos o enorme desmatamento nas áreas de nossos mananciais no entorno das represas, feito pelo crime organizado.
Fizemos um imenso trabalho de conscientização e organização popular, com produção de material didático, eventos, divulgação na imprensa e nas instituições nacionais e internacionais.
Participei, como representante da Câmara de São Paulo, de muitos eventos nacionais e internacionais de cidades e países, inclusive três Conferências das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas COP.
Publicamos três livros sobre as mudanças climáticas, muitos artigos, documentos e o Dossiê da Devastação da Mata Atlântica de São Paulo.
Propus e presidi o Comitê de Chuvas e Enchentes da Câmara de SP em 2020, que realizou um estudo profundo e abrangente sobre o assunto na cidade, com um diagnóstico preciso e um elenco de propostas necessárias e factíveis para combater e remediar os 700 pontos de enchentes, e agir sobre as mais de 600 áreas de risco que existem hoje.
Infelizmente, mas infelizmente mesmo, os governos não deram ouvidos aos nosso clamores e propostas. Com exceção do período de 2005 a 2012, quando a Prefeitura de SP, em parceria com o Governo do Estado teve um plano de adaptação às mudanças climáticas do aquecimento global. Mas desde sempre, até hoje, os prefeitos e governadores, pouco ou quase nada têm feito a respeito do problema.
As consequências dessa postura irresponsável e omissa desses governos se refletem nos acontecimentos climáticos de estiagens e cheias que a cidade de São Paulo e a Região Metropolitana vem sofrendo.
A Prefeitura de SP criou agora, a SECLIMA, que nós aplaudimos, mas, que ainda não se empoderou à altura que o desafio merece. Torço para que avance.
O certo, certo mesmo, é que essa grande mancha urbana chamada São Paulo, pelo seu crescimento desplanejado e desigual, e pela falta de visão histórica de muitos de seus dirigentes, está pagando e vai pagar cada vez mais o preço que a natureza vai cobrar. Não é por falta de aviso, de propostas, de cobranças, de denúncias, de trabalho.
O poder público e a população em geral não agiram e ainda não agem na proporção que o problema exige.
Continuo, e devemos todos, continuar lutando para preparar a nossa cidade e a região para os fenômenos climáticos extremos do aquecimento global.
Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista