ELGITO NOS DEIXOU! ADEUS, GUERREIRO!

Eu conheci Elgito Boaventura, em 1979, na porta da Fábrica da Alpargatas, na Mooca. Ele era operário têxtil e líder no Sindicato dos Têxteis. Desde lá firmamos uma amizade e uma parceria no movimento de habitação popular.

Em 1981, houve a ocupação de terreno devoluto na Estrada Dom João Nery, em Guaianases, liderada por ele e que hoje é um bairro regularizado, Vila 1° de Outubro. Participei daquele movimento, com muitas outras pessoas, mas o grande líder era o Elgito. A partir dali, desencadeou-se um grande movimento de moradia, tendo no Elgito sua maior referência.

Propusemos e participamos juntos dos mutirões de moradia popular, na gestão do Prefeito Mário Covas e depois da Prefeita Luiza Erundina. Em 1987, no Governo Quércia, devido a grande pressão social por moradia, tivemos uma audiência histórica, liderada pelo Elgito, da qual participei, onde o Governador decidiu destinar 1% do ICMS de SP para a construção de moradias através do CDHU. Dali para frente a luta pela moradia tomou um vulto enorme, tendo sempre o Elgito como um líder incontestável.

Amistoso, sincero, despojado, extremamente corajoso e digno, nosso amigo Elgito Boaventura dedicou toda sua vida a lutar para conquistar a moradia popular e a qualidade de vida para a população mais carente.

Criou, com muitos parceiros, a Frente Paulista de Habitação, que organizou e implantou a construção de milhares de casas pelo método do mutirão, que foi realizado por vários governos tanto pela Prefeitura de São Paulo, como pelo Governo Estadual. Calculo que pela ação direta do Elgito foram entregues mais de 50 mil casas.

Além de toda a longa e vitoriosa luta pela moradia, Elgito participou de todas as lutas democráticas do país desde o final da década de 70. Foi uma liderança, que junto conosco, no decorrer dos anos, esteve nas jornadas pela redemocratização, pela Constituinte, pelos direitos sociais e nas jornadas eleitorais e partidárias.

Durante todas essas 4 décadas, nunca vi o Elgito praticar um ato de desvio moral, de negociar a luta do povo por interesses pessoais. Lutou e morreu íntegro, um fato muito relevante nos tempos atuais.

Com a partida desse irmão, eu perdi um grande amigo, um companheiro das boas causas, e São Paulo e o Brasil, perderam um lutador incorrigível, incorruptível e corajoso. Fica, na sua ausência, a saudade, as lembranças e o exemplo dessa enorme e bonita obra, que o Elgito construiu na vida.

Seu exemplo nos inspira! Descanse em paz, guerreiro!

Gilberto Natalini
Médico e Ambientalista

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