Há mais de cinco anos eu acompanho muito de perto a devastação dos remanescentes de Mata Atlântica da cidade de São Paulo. Esse processo danoso que havia sido brecado pela Operação Defesa das Águas, que em 2012 quase zerou a devastação dos mananciais, recomeçou em 2013, com a negativa da gestão Haddad em continuar a parceria com o Estado nessa operação.
Dali em diante, o crime organizado entrou com tudo no processo de derrubada, loteamento e venda das áreas de matas e nascentes dos mananciais das represas da cidade. Foi quando eu comecei a acompanhar, compilar, documentar, denunciar e cobrar uma ação dos órgãos públicos (Estado e Município) e da sociedade civil para brecar o desmonte.
Em agosto de 2019 lancei o 1º Dossiê sobre o assunto, identificamos 90 áreas atingidas. Em abril de 2020 lancei o 2º Dossiê e aí já identificamos 160 áreas desmatadas.
O número de árvores derrubadas, chegava a mais de 1,5 milhões e o número de lotes, cerca de 48 mil, o que indica um ganho para o crime organizado de 2 bilhões de reais. Hoje estima-se mais de 200 áreas desmatadas e 2 milhões de árvores derrubadas. Tudo clandestino, ilegal e criminoso. Sem nenhuma autorização ou licença.
Apesar de toda a minha denuncia na Câmara de São Paulo, com discursos e o pedido de CPI, de ter conversado com TODOS os órgãos públicos e a sociedade civil, apesar das dezenas de grandes matérias na imprensa, o Governador e o Prefeito pouco ou quase nada fizeram. E a destruição continuou.
Agora, com a posse do novo Prefeito e a criação da Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas, as ações de combate a esse crime estão voltando. Tenho acompanhado várias ações de prevenção e combate ao desmatamento e loteamentos dos mananciais, com desfazimento dos condomínios ilegais.
As ações envolvem a Prefeitura de São Paulo, a Polícia Ambiental do Estado e o Exército Brasileiro. Apesar de tardias, essas ações são muito bem vindas e devem ser apoiadas. Ninguém vai conseguir repor as quase duas milhões de árvores derrubadas e as inúmeras nascentes assoreadas.
Acredito que as atitudes do poder público deverão inibir novas devastações e proteger as matas e a produção de água na cidade. Fico feliz, junto com os técnicos e colaboradores que me ajudaram a batalhar contra esse grave crime socioambiental.
Nossa luta começa a provocar uma resposta. Sempre vale a pena!
Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista