A relação entre água e mata foi vislumbrada por diversos pensadores do passado. No Brasil, José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, intelectual de renome bem a frente de seu tempo, que defendeu a reforma agrária, o fim da escravidão, a disseminação do ensino, entre outros avanços, assim expressou em 1821 sua visão sobre devastação das mata, associando-a ao sistema escravocrata:
Se os senhores de terras não tivessem uma multidão demasiada de escravos, eles mesmos aproveitariam terras já abertas e livres de matos, que hoje jazem abandonadas como maninhas. Nossas matas preciosas em madeiras de construção civil e náutica não seriam destruídas pelo machado assassino do negro e pelas chamas devastadoras da ignorância. […] e desse modo se conservarão, como herança sagrada para a nossa posteridade, as antigas matas virgens que pela sua vastidão e frondosidade caracterizam o nosso belo país.
Em 1828 voltou ao tema clamando contra o risco de desertificação: “Nossas preciosas matas desaparecem, vítimas do fogo e do machado, da ignorância e do egoísmo. Sem vegetação, nosso belo Brasil ficará reduzido aos desertos áridos da Líbia. Virá então o dia em que a ultrajada natureza se ache vingada de tantos crimes”.
Outros notáveis estudiosos do séc. XIX que o precederam, também se manifestaram sobre o tema:
Januário da Cunha Barbosa, primeiro diretor da SAIN (Soc. Auxiliadora da Indústria Nacional, publicou em 1833 um texto intitulado: “Discurso sobre o abuso das derrubadas de árvores em lugares superiores de vales, e sobre o das queimadas”, associando a destruição das matas à escassez de água De acordo com o autor, cabia escutar: as observações de pessoas encarregadas do encanamento das nossas águas para as fontes públicas, cuja redução poderia ser atribuída ao abate das florestas: “as observações de pessoas inteligentes encarregadas do encanamento das nossas águas para as fontes públicas, que a sua notável diminuição procede em grande parte de se haverem destruído as matas nos terrenos de sua nascença e passagem. O que vemos confirma o princípio de que o abuso da derrubada de árvores, em certas circunstâncias, concorre a esterilizar terrenos que têm sido férteis e que ainda poderão produzir como dantes, se lhes forem conservadas as águas ao abrigo das árvores que o homem tão insensatamente destrói.
Em 1837, Carlos Taunay, irmão do pintor Félix-Émile Taunay, escreveu o Manual do Agricultor Brasileiro, no qual dedicou longas passagens às consequências da destruição das matas nativas para plantio de café, em especial nas regiões em torno do Rio de Janeiro: “a grande extensão que a cultura tomou nas vizinhanças da cidade, e o indiscreto corte de matas que causou, originaram sem dúvida esta alteração. O calor está notavelmente mais intenso. As trovoadas, outrora diárias, são raríssimas, e finalmente, de tantas fontes próximas à cidade, umas já secaram de todo e outras correm mais escassa”.
Convencido disse o Imperador D. Pedro II determinou a reconstituição da Floresta da Tijuca, esforço comandado pelo Maj. Archer e que veio a originar a maior floresta urbana do mundo, o hoje Parque Nacional da Tijuca.
Enfim embora se saiba há séculos que água e floresta precisam uma da outra, segue desenfreada a destruição das nossas matas. Vocé pode fazer alguma coisa: Subscreva a campanha pelo parque nacional na Mantiqueira: http://paneladepressao.nossascidades.org/campaigns/627
Para ler mais: 19&20 – Paisagem, Monumento e Crítica Ambiental na Obra de Félix-Émile Taunay, por Claudia Valladão de Mattos
Gilberto Natalini
Médico e Vereador PV/SP