As matas do Planalto de Piratininga sofreram vários ataques no decorrer dos séculos. A cidade de São Paulo cresceu sobre ela, exterminando-a de forma desplanejada e agressiva.
Nas últimas décadas o que restou das matas foram sendo derrubadas por especulação imobiliária de loteadores clandestinos, de movimentos populares que, sem ter onde morar foram ocupando terras e criando bairros onde tinha mata.
Mas nenhuma agressão a essa mata remanescente foi tão cruel e criminosa como a que está acontecendo atualmente.
Há alguns anos, quadrilhas do crime organizado resolveram investir em “negócios imobiliários”, nas periferias de São Paulo.
Nas duas edições do dossiê que organizamos, a última lançada em abril de 2020, identificamos com precisão 160 áreas de matas atacadas, derrubadas, loteadas e vendidas. Tudo feito de forma ilegal, clandestina, criminosa e violenta.
Já são 1.300.000 árvores derrubadas, 48 mil lotes criados e se venderam tudo, vão ser arrecadados cerca de R$ 2 bilhões. É o maior crime socioambiental dos últimos tempos.
Os lotes clandestinos não têm documento algum. E aí vem a gravidade do crime: a metade dessas áreas são na zona sul da cidade, justamente sobre as nascentes d´água, os mananciais que abastecem cerca de 4 milhões de pessoas. Lembrando que água é vida.
A rapidez e a violência das derrubadas são totais e muito organizadas. De forma que os muros que cercam os “condomínios” são do mesmo padrão, devendo ser fabricados no mesmo lugar.
Tudo isso acontece sob o olhar inerte, complacente, quase conivente das autoridades municipais, estaduais e mesmo federais.
As ações dos governos são pequenas, insuficientes e inúteis. Parece um teatro.
De minha parte, além de fazer a denúncia com o dossiê, fiz solicitação para mais de 200 autoridades de todos os poderes. Pedi uma CPI na Câmara Municipal, que me foi negada pela maioria governista. Não tivemos uma atitude vigorosa das ONGs ambientais. Parece que o problema não é delas.
A imprensa registrou com certo destaque, por várias vezes o assunto. Portanto, todos sabem sobre esse crime socioambiental, mas pouco se fez.
O que está em risco, além dos prejuízos climáticos e da biodiversidade, é o abastecimento de água de um terço da cidade.
Fiz e estou fazendo a minha parte, mesmo com as ameaças que recebemos. Não tenho medo.
Tenho sim, uma imensa indignação ao ver a devastação criminosa avançando impune na cidade.
Daqui a pouco tempo o resultado vai aparecer. Aí já será tarde.
Gilberto Natalini
Médico, Ambientalista e Vereador