ESCOLAS DE MEDICINA

Quando eu me formei em 1975, na Escola Paulista de Medicina, o Brasil tinha 73 escolas médicas. A grande maioria dessas faculdades eram públicas, e as privadas eram ligadas a instituições de grande tradição na assistência, ou respeitabilidade no ensino.


O exemplo maior é a Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, assim como outras que existem até hoje. Os vestibulares para os cursos médicos eram muito disputados, com grande número de pretendentes para cada vaga. Os cursos eram muito bem estruturados, com professores preparados, laboratórios de qualidade e hospitais escola conceituados.

O Brasil formava cerca de 4 mil médicos por ano, e os estudantes saiam do curso com noções bastante sólidas da medicina geral. Boa parte desses estudantes partiam para uma especialização, buscando as residências médicas, também deveras concorridos, estágios ou iam para a carreira universitária.

Posso afirmar que naquela época o Ensino Médico no Brasil não deixava a desejar para os demais países. Mas, com o passar do tempo essa situação foi mudando para pior, e nas últimas décadas houve uma explosão de escolas médicas no Brasil.

Parte dessas novas instituições são públicas, mas a maioria delas são privadas, fruto de uma política educacional frouxa, que permitiu a transformação do ensino médico numa mercadoria bastante lucrativa. Dessa forma, hoje temos cerca de 400 escolas médicas no país, e a grande maioria, são particulares. As mensalidades de um curso de medicina nessas escolas, pode chegar a 15 mil reais/mês. Os vestibulares são afrouxados e sobram vagas.

Muitas delas não possuem estrutura física suficiente, tem salas de aula e laboratórios precários, um quadro de docentes incompleto e despreparado. Boa parte não possui hospital escola, e muito menos residência médica ou mesmo estágios. Uma parte dos estudantes se financiam através do FIES, dinheiro do governo federal, e a inadimplência é enorme. Outra parte são de famílias de posses ou classe média que se escabela para manter o filho na Faculdade de Medicina.

Como já dissemos, há escolas que cobram até 15 mil reais a mensalidade. Pelo quadro real exposto, pode-se fazer uma ideia da qualidade de grande parte desses cursos e da formação que esse profissional sai para o mercado de trabalho.

Podemos afirmar, sem medo de errar, que muitos desses médicos recém-formados, não consegue usar direito o estetoscópio e tem enorme dificuldade para enfrentar um caso clínico, seu diagnóstico e terapêutica. Após a formatura, a procura por um estágio ou residência é obrigatória. Porém, não há vagas para abrigar toda a demanda, e muitos desses profissionais saem para o trabalho, com o CRM na mão, sem conhecimento básico da medicina. No fim, quem sai prejudicado é o paciente.

Essa é a triste e assombrosa realidade.

O Brasil tem hoje 546 mil médicos e formam-se por ano, nas 400 escolas médicas brasileiras, cerca de 25 mil médicos, tendo 38 mil vagas para graduação e 17 mil vagas para residência médica.
Ao não conseguir vagas de estágio ou residência, esses recém-formados aventuram-se no mercado de trabalho, nos diversos setores de atendimento.

Essa realidade tem sido cruel para o profissional, para o paciente, para os serviços de saúde, para medicina brasileira. Só quem ganha com isso são os donos das escolas de medicina, que transformaram a formação médica num negócio muito lucrativo.

Até quando?

Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista

About natalini