Em palestra na Fundação FHC, o ex-ministro Raul Jungmann afirmou que jovens de 15 a 24 anos, moradores da periferia, são o “grande motor da criminalidade” no Brasil. A maioria são rapazes pretos, pobres, desempregados e com baixa escolaridade. 30% dos presos no País têm de 18 a 25 anos. E outros 25%, de 25 a 29 anos.
Jungmann disse que o jovem é preso por pequena quantidade de droga e roubo. Sem condenação pela Justiça, permanece em unidade prisional. Às vezes por anos. Sem programas de ressocialização, vai voltar para a cadeia no futuro. Pior: se não fizer juramento de lealdade à organização que manda no presídio, morre.
O ex-ministro da Segurança Pública apoia a reforma do sistema prisional. Há 750 mil presos e mais 600 mil mandados de prisão em aberto no Brasil. Segundo Jungmann, sem mudanças o País terá de construir 1.300 novas unidades prisionais até 2025. “Precisamos rever a política de combate às drogas e de encarceramento”, afirmou.
Jungmann aponta o paradoxo de o sistema prisional, estatal, ser controlado por facções criminosas. Em São Paulo, 90% das unidades prisionais estão sob o comando do PCC. A organização possui 30 mil membros. Dezenas de advogados. Opera em todo o Brasil e em 5 países vizinhos.
Para Jungmann, o Rio de Janeiro vive uma metástase do crime. 830 comunidades fluminenses, com 1,5 milhão de habitantes, vivem sob o domínio de facções criminosas. “O crime organizado está em todas as instituições do Rio. O nosso risco é o Brasil se tornar o Rio amanhã”.
Em sua palestra, o ex-ministro também defendeu a criação do Sistema Único de Segurança Pública. “É um problema do Brasil, não apenas dos Estados”. Citou a importância da Educação, desde a 1ª infância, e criticou políticas de armamento. “Mais armas, mais mortes”.
Jungmann teme a “mexicanização” do Brasil, um quadro em que a força do crime possa confrontar o Estado e levar pânico à sociedade. Quer penas alternativas à carceragem para evitar que as 70 facções criminosas em atividade no País “formem” os nossos jovens. “Gastamos mais com o regime fechado do que com o ensino fundamental”, consluiu o ex-ministro.