O maior desafio hoje, no que se refere ao planejamento reprodutivo no Brasil, é garantir que a informação e as opções de planejamento reprodutivo cheguem às populações de mulheres vulneráveis- como adolescentes, usuária de drogas, moradoras de rua e presidiárias, por exemplo. Preocupado com essa situação, o vereador Gilberto Natalini (PV) organiza o 32º Ciclo de Debate Município Saudável, que abordará o tema Gravidez nas mulheres vulneráveis. Entre os palestrantes está a Dra. Albertina Duarte – Coordenadora do Programa Saúde do Adolescente da Secretaria de Estado da Saúde.
Conforme pesquisa divulgada recentemente em 35 países, publicada na revista especializada “Human Reproduction”, por ano, 15 milhões de mulheres engravidam porque não usam métodos contraceptivos. (veículo O Globo- 4/02/2015). Entre os principais dados da pesquisa, estão:
– Entre 15 e 16,7 milhões de gravidezes indesejadas acontecem todos os anos em 35 países de baixa renda porque as mulheres não fazem uso de métodos contraceptivos considerados modernos, como a pílula e a camisinha.
– O Brasil não foi um dos países pesquisados durante o trabalho, mas, por aqui, as gravidezes indesejadas também não são raras. Um levantamento feito com 24 mil grávidas de 9 meses no país e divulgado ano passado pela Fiocruz revelou que 55% delas não estavam planejando ter filhos naquele momento.
– Segundo os autores, muitas das mulheres que engravidam nesses países enfrentam, no futuro, problemas como morte precoce, deficiências, redução de oportunidades de emprego ou interrupção nos estudos.
– As mulheres mais pobres e com menos grau de educação estão entre as que menos fazem uso desses contraceptivos.
– Em meio as 14,8 mil grávidas da pesquisa que não usavam contraceptivos e não queriam ser mães, a principal razão para não recorrer a métodos de prevenção era o medo dos efeitos colaterais, apontado como motivo por 5,5 mil, ou 37% das mulheres. Oposição, da família ou da igreja, foi o motivo para 22,4% delas. E 17,6% subestimavam o risco de engravidar. Outras razões citadas foram o custo desses métodos e a falta de informação sobre eles.
Sobre algumas mulheres vulneráveis:
Adolescência interrompida
Além das oportunidades de estudo e trabalho reduzidas, a mãe adolescente frequentemente reincide em uma nova gestação. Em 2011, no Brasil, aproximadamente 27 mil meninas entre 10 e 14 anos e mais de 600 mil jovens com idades entre 15 e 20 anos tiveram filhos. Dados de literatura médica apresentam 30% de reincidência de gestação no primeiro ano após o parto e 25% a 50% de reincidência de gestação no segundo ano após o parto.
Descendentes do crack
Outro grupo que pode apresentar baixa adesão ao planejamento reprodutivo é o de dependentes químicas. Dados do Centro Brasileiro de Informações sobre drogas psicotrópicas, da Universidade Federal de São Paulo, revelam que 62% das usuárias de crack se prostituem todos os dias para financiar o vício. Sem o poder de negociação para exigir o uso de preservativo, além da limitação da capacidade de julgamento, devido aos efeitos das drogas, podem ficar expostas tanto à gravidez, quando à contaminação por DSTs.
A pesquisa realizada pela Fiocruz, encomendada pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e divulgada pelos Ministérios de Justiça e Saúde, também revelou que mais da metade das usuárias de crack já engravidaram pelo menos uma vez desde que iniciaram o uso do crack e similares.
Como consequência, o vínculo afetivo com o bebê pode ficar comprometido e assim ocasionar o abandono. Quanto voltam à rotina de consumo de drogas, as mulheres podem engravidar novamente.
Gravidez no cárcere
As pessoas provadas de liberdade também têm o direito à educação e à saúde. Às mulheres presidiárias também é garantido o acesso a métodos contraceptivos, pré natal, atendimento médico, partos e assistência ao puerpério, entre outros.
Apesar das garantias legais, de acordo com relatório elaborado pelo Centro de Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) sobre as mulheres encarceradas no Brasil, o aumento no número de presas não tem sido acompanhado por melhorias estruturais. Os bebês nascidos dentro de presídios podem ficar com a mãe somente até os seis meses de idade. A separação pode acarretar choques psicológicos e emocionais para as crianças. E, muitas vezes, elas são encaminhadas para abrigos. De acordo com números do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), de 2000 a 2006 o número de mulheres presas em todo o país aumentou 135,4%.
Ser mãe é sonho de muitas mulheres. Mas poder escolher quando isso vai acontecer e se vai acontecer, é direito de todas. Isso significa receber orientações sobre a melhor forma de planejar ou evitar uma gravidez, ter acesso a vários métodos anticoncepcionais e poder esclarecer suas dúvidas sobre como usá-los de forma segura.
Serviço:
32º Ciclo de Debate Município Saudável- Gravidez nas mulheres vulneráveis
Data: 23/02
Horário: 18h30
Local: Câmara Municipal de São Paulo- Auditório Prestes Maia
Vd. Jacareí, 100- 1º andar