José Serra era presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e Duarte Pacheco Pereira o vice-presidente, quando o Golpe Militar de 1964 derrubou o governo de João Goulart eleito de forma democrática. Começava ali um período de perseguição política, restrição da liberdade, censura, mas também de muita luta pela liberdade.
Para relembrar a data dos 50 anos do golpe militar em 1° de abril, o ex-governador Serra e o jornalista e escritor Pacheco deram depoimento histórico à Comissão Municipal da Verdade Vladimir Herzog em audiência presidida pelo vereador Gilberto Natalini (PV-SP), com a presença do relator Mário Covas Neto e da bancada do PSDB que prestigiou Serra.
Na plateia, que reuniu mais de cem pessoas, além de convidados, 48 estudantes do Colégio Madre Paula Montalt acompanhados pelas professoras de Literatura Rita Ribeiro e de Redação Bárbara Baldarena Moraes. Os alunos vão fazer trabalhos em sala de aula sobre o período da ditadura militar e a UNE.
Serra lembrou que ele e Pacheco tinham 22 anos na data do golpe. Naquela época o movimento estudantil era muito forte e participava ativamente da vida política do Brasil, sem, no entanto, fazer campanha de partidos políticos.
Na avaliação do vereador Natalini, os depoimentos de Serra e Pacheco são importantes para a Comissão Vladimir Herzog. “Os relatos foram muito enriquecedores e não foram no formato de interrogatório, o que não queríamos que acontecesse”, disse.
Por ocasião do golpe Serra foi exilado quando ficou 14 anos fora do país. Em 1976, quando já estava no Brasil foi condenado à prisão pela Lei de Segurança Nacional em vigor à época (Decreto Lei 314/1967). Na opinião de Serra, as prisões arbitrárias deveriam ser também investigadas pelas comissões da verdade. “Em 1976 fui condenado à prisão. O Pacheco também foi. Prisão arbitrária é um absurdo. Isto também é violar direitos humanos”, afirmou.
“Vocês jovens estudantes não sabem o que uma ditadura e perseguição política. Temos de valorizar a democracia e lutar pelos nossos direitos, mas sempre na democracia”, afirmou Serra. “Esse é o desafio das novas gerações”.
Segundo o ex-governador, foi no período de ditadura do regime militar que a corrupção e o patrimonialismo (tomar posse de dinheiro público ou fazer uso da máquina para interesses próprios) se acentuaram. “Na era pré-1964 foi a era de inocência, nem se compara com hoje”.
Sobre a Educação, Serra lembra que há 50 anos, quando presidia a UNE, apenas 1% da população ia pra faculdade. “Hoje são 7 milhões de alunos nas universidades (públicas e particulares) 70 vezes mais do que há 50 anos”, disse. Ele conta que na época só existia a Universidade de São Paulo (USP), e que Unicamp e Unesp surgiram anos mais tarde. “Não havia curso noturno. Eu dava aula particular de matemática para me sustentar”.
Entre as bandeiras da UNE à época estavam a ampliação de vagas e aberturas de novas universidades e a alfabetização da população. E que foi no Centro Popular de Cultura (CPC), um berço de artistas, presidido pelo hoje escritor Ferreira Goulart, tinha nomes como Cacá Diegues e Arnaldo Jabor que se tornariam diretores de cinema.