LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA INTERNET

Desde muito jovem, na verdade, a partir dos 12 anos, me meti no ativismo político e social, num sonho poético em defesa das liberdades, da equidade social, da qualidade de vida e da preservação ambiental.

Lá se vão 59 anos e nunca deixei, nem por um minuto, de atuar e defender essa utopia. Inclusive, paguei caro, diversas vezes por isso, com risco de vida e perda da liberdade.  Mas tem valido à pena.

Nessa trajetória aprendi alguns princípios: os direitos e os deveres; minha liberdade pode chegar até onde não agrida a liberdade do outro; para se viver em sociedade é preciso construir o difícil equilíbrio entre o que pode e o que não pode; o diálogo é sempre melhor que a força; a tolerância com as diferenças é primordial. São vários os balizadores que constroem a liberdade com responsabilidade. Por isso, a Democracia é um regime difícil de se construir, mas ela é insubstituível para a boa convivência humana.

Para ordenar esse convívio, criamos um conjunto de regras sociais, de leis, de acordos de conduta. O exemplo maior disto, para nós, é a Constituição de 1988. Todos têm muitos defeitos e precisam ser corrigidos, aprimorados, melhorados, conforme o tempo passa e os costumes mudam. Mas há princípios pétreos que garantem o chamado Estado Democrático de Direito. Isto vale para o dia a dia de nossa vida real, como pessoa e como Nação.

Hoje, estamos vivendo um tempo onde esse equilíbrio entre direitos e deveres está sendo posto em xeque a cada minuto.

O advento da internet deu voz de forma democrática a todos. Através das redes sociais, qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo pode se expressar e se comunicar.  A avalanche de ideias, de sentimentos, de desejos, de solidariedade e de maldade surgiu, invadindo a vida e a privacidade das pessoas.

Nunca uma invenção técnico científica foi tão poderosa na vida dos seres humanos. Como toda revolução no conhecimento humano, as coisas podem ser usadas para o bem e para o mal, ou para os dois concomitantemente.

Foi assim com os combustíveis fósseis, com a biotecnologia, com a indústria química e com a energia nuclear. E com a internet, o mundo virtual, as redes sociais, não é diferente.

Esta poderosa ferramenta aproximou povos e pessoas, expandiu o conhecimento, construiu relacionamentos, promoveu solidariedade, multiplicou o alcance da cultura, permitiu novas formas de trabalho e produção. Nunca tínhamos visto isso antes. Mas, como dissemos acima, o lado ruim da ferramenta também se mostrou poderoso. Pela facilidade de propagação e anonimato, a internet liberou e multiplicou demônios que sempre habitaram a mente humana e que agora, viajando nos fios invisíveis das redes e dos sites, mostram suas caras aterrorizadoras.  Assim, todos os tipos de perversões, delírios, violência, preconceitos e intolerâncias, ficaram ao alcance de um toque no teclado do computador ou do celular. Esta vastidão de conhecimento e de aberrações recebidos e enviados em poucos segundos, em quantidades colossais, mexeram com as mentes das pessoas e estão causando um stress quase impossível de se administrar.

Mas e agora? O que fazer?

A perplexidade tomou conta da sociedade diante do poder destrutivo das fake News, dos discursos de ódio e preconceitos que transitam na internet e atingem a todos, de todas as idades. Algo precisa ser feito!

Como disse no início deste artigo, temos um conjunto de regras que regulam nossa conduta como pessoas. Essas regras devem ser na dosagem certa para, sem cercear a liberdade individual de cada um, permitir a proteção, dignidade e liberdade do outro. Equilíbrio difícil, mas necessário.

Agora, nesse imenso universo virtual que se apresenta para nós, também é necessária uma normatização muito bem discutida que ofereça a liberdade de pensamento e de expressão, sem transformar a internet numa terra de ninguém, que sirva mais para a destruição que para a evolução.

Esta é a tarefa que se mostra urgente para a nossa sociedade. Em nome da civilização!

Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista

 

 

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