A vida humana se evolui por crises. Sempre! Mas há momentos que essas crises ficam mais agudas e às vezes insuportáveis. Estamos vivendo um momento desses.
Seja pelo fenômeno do Aquecimento Global, com suas mudanças climáticas, que Guterres, Secretário Geral da ONU, chamou de colapso climático, seja pela extrema desigualdade social do mundo, o estresse dos humanos chegou num ápice.
A crise climática é gravíssima, e não foi por falta de aviso dos cientistas, climatologistas e ambientalistas.
Aqui em São Paulo eu fiz uma verdadeira cruzada de avisos, alertas e propostas a partir de 2000, na Câmara Municipal. Pelo Brasil e Mundo afora muita gente estudou e alertou sobre os fenômenos climáticos extremos, que hoje se repetem em todos os cantos, com resultados catastróficos. A humanidade se mexeu devagar.
No aspecto da desigualdade social, nunca tivemos uma concentração de renda tão grande. Chega a ser obscena.
Cerca de 1 bilhão de pessoas não conseguem se alimentar mais que 1 vez por dia.
A crise social somada à crise climática faz milhões de pessoas se deslocarem de seus locais originários, num grande movimento migratório na busca de comida, de agua, de emprego. Enfim, na busca de vida.
Diante dessa trágica situação as pessoas se dividiram em 2 correntes de pensamento e ação.
A primeira reconhece o problema e busca solucioná-lo de forma inclusiva, tolerante e humanitária. Se dispõe a agir para diminuir os impactos das mudanças climáticas, com ações ainda tímidas para o tamanho do problema, mas se esforça cada vez mais. E tem um olhar humanista e solidário com os vitimados pela miséria, pelas secas cruéis e as chuvas extremas. Vai se construindo no Planeta, embora tardia e vaporosamente, uma corrente humana “do bem”.
A outra vertente de reação das pessoas se faz com preconceito, intolerância e às vezes violência, diante da catástrofe social e climática que vivemos. Querem isolar os excluídos em guetos, pregam a repressão e o abandono aos imigrantes, vociferam contra a colaboração entre as nações, propagam a guerra e atacam a democracia. É fato que esses não são maioria. Mas a virulência, a escandalosa e desumana pregação desses negacionistas do clima e da vida, impacta negativamente no ideário politico, econômico, social e ambiental, trazendo um prejuízo e um atraso fatais, pelo tempo perdido e pelo debate histérico e debochado. São o atraso do atraso!
Assim encontra-se nosso mundo hoje. As ameaças do clima e da miséria se fazem realidades tristes e destrutivas.
Já teríamos muitas dificuldades se todos remassem para mesmo lado. Imagine então, uma parte da humanidade remando a favor da tragédia e destruição.
Essa é a triste realidade!
Gilberto Natalini
Secretário Executivo de Mudanças Climáticas, Médico e Ambientalista