O DEBACLE DO ENSINO MÉDICO!

A boa Medicina depende de muitos fatores, porém o mais importante deles é a presença de bons médicos. O profissional médico, para bem exercer sua função, por sua vez, depende de uma série de requisitos. Sua vocação pessoal, a formação técnica e humanista desde a Escola, boas condições de trabalho, um ambiente apropriado, uma remuneração justa, o conhecimento sempre atualizado entre outras coisas.

Isso no Brasil tem se perdido nas últimas décadas, e as consequências são nefastas, para os médicos, mas, principalmente, para os pacientes.

O que temos assistido na degradação do exercício da Medicina no Brasil é uma tragédia progressiva. É claro que temos excelentes profissionais e ótimos serviços, que exercem um trabalho exemplar no atendimento, no ensino e na pesquisa. Mas, quando olhamos o todo, a queda na qualidade da atenção médica no Brasil é aterradora.

O Ensino Médico no país em boa parte, se transformou num grande negócio.

Em 1975, tínhamos 73 faculdades de Medicina no país. Boa parte delas eram públicas, e as privadas tinham tradição e compromisso com a qualidade do ensino, como a Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, entre outras.

Nessas últimas décadas, grandes grupos econômicos que exploram a Educação, muitos deles estrangeiros, compraram ou abriram escolas de Medicina pelo Brasil afora, com a permissão danosa do governo, e oferecem um ensino medíocre da Medicina, muitas sem professores, hospitais-escolas ou currículos adequados.

Várias cobram de R$ 10mil para mais de mensalidades, sem ensinar verdadeiramente a arte da profissão.

Hoje formam-se cerca de 40 mil médicos e médicas por ano no Brasil e podemos afirmar que a maioria deles não tem o preparo mínimo para atender um paciente. Essa é a realidade!

O resultado disso é a queda vertiginosa da qualidade de atendimento, e quem sofre com isso é a população, que muitas vezes não tem noção da falta de conhecimento daquele profissional que a está atendendo.

As barbaridades técnicas que vemos por aí no mau atendimento médico estão se tornando rotina na prática da profissão.

O pior é que tem uma fila de novas “escolas” médicas, esperando autorização do MEC para funcionar. E todas serão autorizadas.

Ao sair dessas “Faculdades de Medicina”, verdadeiros comércios, o médico recém-formado e malformado se depara com a necessidade de se preparar para atender seus pacientes.

Busca uma vaga de Residência Médica, que é escassa. Para os 40 mil médicos formados por ano, o Brasil oferece poucas vagas de Residência Médica.

A saída é buscar um “estágio”, muitos deles sem qualidade técnica e sem o devido controle pedagógico.

Hoje, no Brasil passam de 400 mil médicos trabalhando, e podemos garantir que grande parte deles não tem a formação qualificada para exercer a profissão.

Repito: quem mais sofre com isso é a população que precisa ser atendida.

Agora, vem a próxima derrocada no preparo do nosso profissional médico.

No Brasil, quem outorga o título de especialista são as Sociedades de Especialidades, filiadas à Associação Médica Brasileira.

Para isso, são exigidos, do pretendente ao título, provas de conhecimento e prática naquela especialidade, que qualificou Medicina Especializada no Brasil.

Pois bem! O Governo acaba de editar o Decreto 11.999, que retira das Sociedades de Especialidades essa função, e a delega às Residências Médicas. Com isso, o nível técnico dos especialistas brasileiros vai despencar, mais uma vez, atingindo em cheio a saúde dos pacientes.

É um ataque mortífero à medicina brasileira, já combalida com o péssimo nível das escolas médicas e as péssimas condições de trabalho oferecidas no serviço público e nos convênios.

O Governo brasileiro, no desejo de oferecer médicos ao nosso povo, ao invés de investir na qualidade dos profissionais e dos serviços oferecidos, preferiu nivelar por baixo, com formação médica medíocre, ou importando médicos estrangeiros sem qualificação, e agora formando “especialistas” que não terão o conhecimento necessário.

O povo, na angustia de ser atendido, não percebe isso.

É a forma mais rasteira que o Governo brasileiro escolheu para “atender” a população.

Quando os brasileiros perceberem isso, já será tarde.

GILBERTO NATALINI- Médico e Ambientalista

 

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