O DESENVOLVIMENTO [IN]SUSTENTÁVEL DO NOVO ANHANGABAÚ

A reforma do Vale do Anhangabaú, que teve início em junho do ano passado, deveria ser entregue em setembro de 2020, mas deverá ser totalmente concluída apenas em fevereiro de 2021. Apesar disso, a gestão municipal fixou uma inauguração (ainda parcial) do local, no dia 30 de outubro de 2020.

As obras, orçadas inicialmente em R$ 80 milhões, já superaram os R$ 94 milhões, e o novo atraso nos serviços deverá elevar ainda mais o custo total da revitalização do Vale. Sabe-se que um novo aditamento está em andamento, já tendo sido aprovado pelos técnicos do Núcleo de Gestão de Execução Contratual da SPObras. Após a conclusão da reforma, a Prefeitura tem planos para conceder a área à iniciativa privada.

Os reiterados aditamentos e prorrogações são apenas alguns dos efeitos de uma grave falta de diálogo nessa jornada toda. Nos últimos anos, a este respeito, o vereador Gilberto Natalini redigiu diversos ofícios solicitando à Prefeitura mais discussões sobre o projeto de revitalização. Recentemente, preocupado com o andamento do processo de concessão em plena pandemia, o parlamentar protocolou mais um documento contendo questões importantes a serem consideradas na proposta de concessão de uso da área.

“Em 2015 nos mobilizamos e conseguimos que o Haddad desistisse da ideia. Agora, quatro anos depois, o Covas tira da cartola o mesmo projeto, que foi submetido a poucas consultas públicas, rápidas, malfeitas e pouco abrangentes. A cidade não opinou”, declarou Natalini à reportagem do G1 em agosto deste ano.

Em defesa de uma solução que contemple a qualidade da intervenção no espaço urbano e o respeito à população envolvida, o parlamentar sempre manifestou-se contrário em relação a esta obra orçada em quase R$ 100 milhões, usados em plena pandemia. Recentemente, o “Novo Anhangabaú” virou alvo de críticas após divulgação de fotos e vídeos que mostram o local, tão emblemático para a cidade de São Paulo, antes e depois da intervenção.

Apesar da reforma ainda não estar concluída, já pode ser observada a aridez desta imensa praça cinza, desprovida dos antigos conjuntos de canteiros, gramados e árvores de grande porte, agora substituídos por novas instalações, constituídas por centenas de fontes d’água distribuídas por toda a extensão do Vale, numa descaracterização urbanística que afeta a relação afetiva e a memória dos cidadãos com o local. As áreas verdes existentes foram removidas em favor de um imenso vazio molhado, completamente impermeável, animado por lâminas e fontes d`água que gerarão desperdício dos recursos hídricos devido aos efeitos da evaporação permanente e às lavagens necessárias para a realização dos eventos públicos previstos nos termos da concessão.

“É inacreditável o que o Vale do Anhangabaú tem se tornado”, lamenta Natalini. ”Ver este marco da cidade tomado pelo cinza, sem mais um pingo de verde e, ainda pior, alagado com as chuvas da semana passada é realmente inaceitável”.

Dessa forma, tendo em vista as decisões recentemente adotadas pela Prefeitura do Município de São Paulo acerca do Vale do Anhangabaú, o vereador reforça sua posição a respeito do caso e lamenta a constante escassez de diálogo e de falta de transparência no processo, além do alto preço da obra frente às imensas carências da cidade.

“Reforço a incompatibilidade do “Novo Anhangabaú” com a situação atual, que não condiz com as atividades de grande porte presentes na modelagem da concessão. Frente às restrições impostas pela pandemia, o funcionamento de espaços públicos como este deveria ser repensado”, concluiu Natalini.

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