Todos já sabem a gravidade dos fenômenos climáticos extremos. As pessoas estão vivendo seus estragos ao redor do mundo.
Também sabemos que as mudanças climáticas, produzidas pela ação humana, na queima dos combustíveis fósseis, caminha muito mais rápido do que as ações que temos feito para preveni-las e combatê-las.
Assim chegamos à 30 ª COP, na esperança coletiva de termos os avanços necessários para virarmos esse jogo.
A COP de Belém foi um evento grandioso. Cerca de 50 mil pessoas e quase 200 países participaram durante quase duas semanas de milhares de negociações, eventos, debates, conversas em grupos e individuais, declarações e discursos.
Mas tivemos dois tipos de problemas: a infraestrutura do local e as conclusões finais.
A área construída para o evento era muito ampla e aparentemente confortável. Mas a refrigeração local sucumbiu diante do calor úmido da Amazônia. Fez um calor enorme lá dentro.
Também a infraestrutura de alimentação, de água, e elétrica, deixaram a desejar, a ponto de termos um incêndio que foi logo controlado.
A cidade de Belém recebeu bem os participantes, oferecendo como pôde sua hospitalidade, sua diversidade cultural e étnica.
Mas, o que importou mesmo foi o conteúdo do evento e seus resultados.
Houve uma grande presença de pessoas na zona verde, onde as ONGs e as diversas representações sociais estiveram. Várias manifestações também aconteceram, inclusive dos indígenas da Amazônia.
Dentro da zona azul, as delegações e os credenciados se desdobravam em assembleias e reuniões bilaterais, foram negociações e contatos pessoais intermináveis.
Tudo indicava que a COP-30 traria novidades ansiadas do chamado Mapa do Caminho para nos livrarmos, gradativamente dos combustíveis fósseis.
Mas, a partir de alguns dias do evento as negociações emperraram.
Os países produtores de petróleo, que tinham lá 1600 credenciados pela ONU, apoiados pela Rússia, pela Índia e pela China, e tendo o ausente EUA manipulando por trás, se colocaram contra qualquer menção a combustíveis fósseis no documento final.
E assim foi!
A COP da esperança se tornou a COP da decepção.
Desviaram toda a atenção para a adaptação, deixando a mitigação de lado. A adaptação é muito importante, mas é consequência.
É como se um paciente com infecção, tratássemos só a febre deixando as bactérias agirem soltas.
Isso foi ruim demais.
Não temos mais tempo para irmos aos tombos, ano após ano.
Sabemos como é difícil fazermos a transição para buscar novas fontes de combustíveis limpos.
Sabemos das dificuldades políticas, econômicas, sociais e tecnológicas para seguir esse “Mapa do Caminho”.
Mas a omissão dessa COP foi um tapa na cara da humanidade.
E a ganância dos petrolíferos falam mais alto que a nossa sobrevivência.
Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista