Gilberto Natalini SP

Lembro bem quando me formei e fomos atender o povo da periferia em nosso voluntariado médico, em meados da década de 70, andávamos nas ruas, nos bairros, nas favelas e o máximo de crime que víamos era um furto, uma briga de boteco ou de família. A violência era mínima.

Hoje na periferia de São Paulo, um “salve” do PCC, fecha o comércio, esvazia as ruas, assusta todo o povo.

O crime organizado reina entre nós!

O PCC nasceu na década de 80 dentro dos presídios. Saiu dali, ganhou as ruas, os bairros, as cidades, o país. Dizem que é a oitava máfia do mundo e está em quase trinta países.

Seu ramo de negócios original foi o tráfico de drogas, que cresceu, expandiu-se, agigantou-se, e diversificou-se em dezenas de atividades econômicas lícitas e ilícitas. Hoje movimentam muitos bilhões de reais.

Começaram como um pequeno grupo, e se expandiram para uma grande rede de “células” de membros pelo Brasil afora.

Também vimos multiplicarem-se organizações congêneres, adversárias ou não, que inflaram a presença do crime organizado no Brasil. São centenas de siglas, divisões e subdivisões, que compõem o tecido tumoral do crime na sociedade brasileira.

Usaram duas táticas das organizações políticas: “ as células de militantes” e o “entrismo”.

Dessa forma adentraram em todas as instituições públicas e privadas do Brasil. Estão nos três níveis de governo, federal, estadual e municipal, nos três níveis dos parlamentos e no judiciário. Também lançaram suas metástases na sociedade civil, infiltrando-se nos sindicatos, nos partidos políticos, nas associações de bairros, nos clubes esportivos, nas instituições religiosas, nos órgãos de imprensa e nas universidades. Esse é um fato comprovado.

Mas não pararam por aí!

Na diversificação dos seus “negócios”, o crime organizado expandiu-se do tráfico de drogas e armas para o mundo do setor produtivo. Investiram em redes de farmácia, postos de gasolina, padarias, madeireiras, garimpo, fábricas, empresas de serviço e agropecuária.

O ramo imobiliário não foi poupado. Assim, na década passada, o PCC foi comprando ou tomando áreas de mata nativa nas margens das represas Billings e Guarapiranga, as caixas d’água da cidade de São Paulo, assorearam milhares de nascentes, derrubaram 1,6 milhão de árvores, produziram cerca de cinquenta mil lotes e começaram a construir “condomínios” nos locais. Isso lhes renderia dois bilhões de reais.

Nessa ocasião eu produzi o “O Dossiê da Devastação da Mata Atlântica em São Paulo”, denunciando o crime e cobrando das autoridades constituídas as medidas para barrar essa barbárie. Sofri 14 ameaças de morte, mas conseguimos diminuir muito a devastação.

Por fim, agora foi noticiado a presença do PCC na Faria Lima, com negócios bilionários no mercado financeiro. A movimentação do dinheiro do crime organizado chega a 140 bilhões.

Há dias, saiu uma pesquisa dizendo que 27% do nosso povo vive sob comando direto das quadrilhas nas comunidades mais pobres. Mas, por tudo que sabemos e vivemos, a realidade mostra que o crime organizado é muito mais poderoso do que se divulga.

Nosso país vai sendo sequestrado pela força financeira e armada da criminalidade. Portanto, além da vergonhosa desigualdade social que temos, além da predação ambiental e climática existente, convivemos também com uma pandemia de corrupção e com a mão de ferro das quadrilhas do crime organizado.

Somos um país rico em recursos naturais, que tem um povo sensível e trabalhador, uma intelectualidade e uma criação artística respeitadas no mundo inteiro, uma economia forte e uma democracia que busca se consolidar.

Há que se construir um mutirão nacional que separe o joio do trigo, e combata a criminalidade e violência, devolvendo o Brasil para as mãos da legalidade, da moralidade e da ética.

Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista