O (POUCO) VERDE SE TORNA CINZA!

Infelizmente temos visto São Paulo perder grande parte de sua cobertura verde nos últimos 10 anos.

Uma cidade que se desenvolveu sobre um planalto de Mata Atlântica, de forma desplanejada e agressiva, passando de 35 mil habitantes em 1850 para 12,5 milhões em 2022, e avançando sobre recursos naturais de seu território, sem a preocupação de preservá-los, pelo contrário, de forma predatória. Infelizmente esse é o fato!

Assim chegamos até há pouco tempo, com alguns remanescentes da Mata Atlântica, em particular na zona sul (Parelheiros e regiões dos mananciais), zona norte, nas abas da Serra da Cantareira, zona leste, nos extremos com algumas áreas de mata.

A arborização viária da cidade se compõe de cerca de 650 mil árvores, e ainda temos a cobertura verde dos 115 parques urbanos, e, em menor escala, de áreas verdes privadas.

A partir desse diagnóstico, temos a conclusão que São Paulo teria uma tarefa enorme de preservar as matas remanescentes, e plantar árvores em calçadas, áreas livres, margens de cursos d’água, corredores de transmissão elétrica, e aumentar o número de parques públicos. Essa é a tarefa!

O que temos observado na Cidade de São Paulo nos últimos 10 anos?

Depois de 8 anos de avanços significativos na proteção à cobertura verde na metrópole, entre 2005 a 2012, com o plantio de 1,6 milhão de árvores, o aumento de 36 para 100 parques, a revitalização de seus 3 viveiros municipais, a grandiosa e vitoriosa Operação Integrada de Defesa das Águas (OIDA), que começou em 2007, e em 2012 zerou o desmatamento e as invasões das áreas de Mata Atlântica dos mananciais de água da cidade.

Foi um tempo onde a esperança numa São Paulo mais sustentável reviveu, com ações práticas e resolutivas.

A partir de 2013, SP ganhou nova administração.

O que vimos?

A Operação Defesa das Águas foi interrompida.

O plantio de árvores despencou.

As ocupações de áreas livres e verdes disparou e o desmatamento explodiu.

Esses desmatamentos/invasões se fazem de duas formas:

1 – Uma ação agressiva do crime organizado, que a partir do afrouxamento da OIDA, em 2013, começou a atuar no mercado imobiliário ilegal, comprando ou tomando grandes áreas de mata nas áreas de manancial e outros, derrubando as árvores, loteando e vendendo os lotes, à luz do dia, sob a imensa complacência dos poderes públicos, municipal e estadual.

Publicamos um dossiê detalhado em 2020, que identificou a derrubada de 1,5 milhão de árvores, a produção de 49 mil lotes ilegais, que, se vendidos, renderiam 2,3 bilhões de reais às quadrilhas do crime organizado.

Para acessar nosso dossiê, visite o site natalini.com.br.

2 – A outra fonte de desmatamento vem da incorporação imobiliária, isso, nos bairros mais centrais, onde as nesgas de Mata Atlântica remanescente ou mesmo bosques arbóreos plantados, são jogados ao chão, para dar lugar a prédios e edifícios.

Isso feito com a licença da Prefeitura.

Esse processo que motivou minha meteórica passagem como Secretário do Verde de São Paulo, em 2017, por tentar moralizar o licenciamento ambiental da cidade, contrariei os interesses das incorporadoras imobiliárias, que exigiu do Prefeito minha demissão.

Fui demitido por ter excesso de probidade.

E como está a situação hoje?

A Prefeitura está muito vagarosa, ou mesmo omissa na implantação de novos Parques e na manutenção dos já existentes.

O plantio de árvores continua com números pífios, muito aquém das reais necessidades.

A incorporação imobiliária continua derrubando os bosques urbanos, como está acontecendo hoje no bairro do Bexiga, em Itaquera, na Vila Têxtil (pelo Metrô) e em tantos outros lugares.

Quanto ao desmatamento dos mananciais, a Prefeitura criou a SECLIMA – Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas, que tem combatido a devastação e feito ações de desfazimento nos condomínios ilegais. Isso foi positivo, mas, as atuais 2,5 milhões de árvores já derrubadas pelo crime organizado nas matas dos mananciais, no entorno das represas Billings e Guarapiranga já foram para o chão, e as nascentes de água ali existentes já foram assoreadas. O estrago está feito.

Sendo assim, São Paulo consolida uma situação de insustentabilidade em sua cobertura verde.

Derruba-se muito mais do que se planta.

Como paulistano, como médico, como ambientalista, nada tenho a comemorar sobre a preservação do verde na nossa cidade.

 

Gilberto Natalini -Médico e Ambientalista

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