Gilberto Natalini SP

O Mundo está uma confusão. Alguns dizem: “sempre esteve!” E eu respondo: “mas não como agora!”

O ser humano vive o auge de um stress existencial, moral e comportamental, que ainda não havia experimentado antes.

E isso não é por acaso. Há motivos para isso. São múltiplos e variados, mas algumas causas são determinantes para esse “stress da espécie”.

Em primeiro lugar, o avanço cientifico e tecnológico, com sua grandiosidade e rapidez, trouxe conhecimentos e práticas, que por sua inovação e complexidade ainda não deu tempo de ser digerido pela mente humana.

A rapidez das coisas novas é tal, que nos deixa confusos e aturdidos.

É assim com as últimas novidades, como as redes sociais e a inteligência artificial, que ainda não foram metabolizadas pela maioria da humanidade, que as usa de forma atabalhoada, e muitas vezes agressiva e destruidora.

O medo desse mundo novo e desconhecido faz as pessoas perderem o prumo. Causa stress, depressão, agressividade e loucura.

A morte das ideologias, como conhecíamos há quatro décadas, causou o vazio dos sonhos. O socialismo marxista foi vencido pelo capitalismo rentista. Muitas gerações, principalmente os jovens, ficaram sem o sonho da utopia. Isso é mortal para a humanidade.

Os homens sem sonhos se tornam mais animais e menos humanos.

O materialismo da grana foi tomando conta de cada cantinho desse mundo, matando a poesia da vida, combalindo a espiritualidade, liberando os fundamentalismos, radicalismos, fanatismos. Todos eles pseudo ideologias fabricadas para ocupar o lugar dos sonhos libertários e humanitários. E assim segue hoje a sociedade.

Esse capitalismo rentista, sem cara de pessoas, extremamente acumulador e excludente, produz multidões humanas de miseráveis e excluídos, que passam necessidades primitivas, como fome, falta d’água, de moradia, de saúde, de trabalho, de dignidade de vida.

Hoje, contam-se poucas dezenas de pessoas que detém a riqueza de metade da humanidade. E bilhões de outras que mal possuem a roupa do corpo, e nenhuma esperança de melhorar sua existência.

Imagine o impacto que essa situação produz no comportamento das “massas”!
A mortalidade, as doenças, a violência extrema, a criminalidade cada vez mais organizada, a disputa fraticida por um prato de comida ou um emprego, a falta de empatia e a desumanidade, têm terreno fértil nessa imensa desigualdade social.
As consequências desse desenvolvimento econômico insustentável e predatório, excessivamente acumulador, junto com o imenso aumento populacional e o consumo desenfreado, são a exaustão dos recursos naturais do planeta e a deposição de montanhas e ilhas de resíduos de lixo e material contaminante, sólido, líquido e gasoso, nos espaços naturais do mundo.

Consumir a água, o solo, o ar e a biodiversidade da Mãe Terra, e devolver lixo tem sido a nossa prática de vida desde sempre, em nome do “progresso” e do “desenvolvimento”. Mas agora chegamos no limite! 

A poluição ambiental está se voltando diretamente contra nós, trazendo ameaça concreta à própria existência da vida.

Acrescente-se a isso o fenômeno mais recente: o aquecimento global.

Na busca da energia fácil, o homem descobriu o combustível fóssil. Foi uma revolução na produção, nos transportes, no conforto, nas conquistas e nas guerras. Mas há algum tempo descobrimos que a queima do petróleo e do carvão produz os gases de efeito estufa, que aquecem o planeta gradativamente. Somado às grandes destruições das florestas, vem produzindo a maior ameaça, talvez, que a humanidade já enfrentou: as mudanças climáticas.

A rapidez e os efeitos extremos dessa crise do clima estão aí no nosso dia-a-dia, cada vez mais violentos em cada canto do mundo, causando fome, sede, doenças e mortes, além de prejuízos materiais a bilhões de criaturas humanas e outros seres vivos, que coabitam conosco este “planetinha azul”.

Todas essas situações acima descritas, e a aparente incapacidade e inércia para enfrenta-las e resolvê-las, são também causas dessa enorme pandemia de stress humano. 

Derivam daí soluções heterodoxas e nocivas que estamos presenciando. A migração de milhões de pessoas para países e regiões. As guerras, o terrorismo e a violência que vão se tornando rotina. O adoecimento mental, a desesperança, e o desespero de gerações inteiras.

E também a tendência ao enfraquecimento das democracias e ao crescimento de regimes autocráticos e ditaduras, que avançam sobre os povos de forma rápida.
A humanidade sempre resolveu seus desafios, mesmo que a duras penas. Esse é mais um e, talvez, o maior que já vivemos.

Fazer esse diagnóstico é o primeiro passo para enfrentar e superar “o stress da humanidade”.

Os remédios para isso nós conhecemos: Democracia, sempre! Desenvolvimento social com sustentabilidade! Maior equidade social! Moralidade e ética!

Trata-se agora de nos reunirmos em torno da bandeira do bom senso e do humanismo, nos unirmos numa força pacífica e decidida a ganhar corações e mentes para derrotar o que nos oprime.

Tarefa hercúlea!!! Vamos nessa!!!

GILBERTO NATALINI- Médico e Ambientalista