Gilberto Natalini SP

Aqueles, que já viveram mais de 50 anos, esperavam que o século XXI trouxesse tempos melhores. De fato, os avanços técnicos e científicos, da informação, da medicina, da produção, da genética, entre outros, são incontestáveis.

Nesses tempos atuais, cada minuto vale por dias. O conhecimento humano, a comunicação, a produção de bens e serviços, avançam numa velocidade enorme. Isso é uma conquista da humanidade, tanto na longevidade, como na qualidade de vida. Mas nem tudo é coisa boa!

Há, como em tudo na existência humana, o lado negativo das coisas.

Em primeiro lugar, esse “progresso” do século XXI tem sido implementado sobre um cenário de uso abusivo dos recursos naturais do Planeta.

A produção do “conforto” para os humanos, está consumindo e destruindo em velocidade recorde, e em proporção gigante, a água, o solo, o ar, as florestas, a biodiversidade da Terra.

Isso começa dentro de nossas casas, no consumo exagerado dos tempos atuais, e avança na nossa rua, na cidade, nos campos, nos rios e nos mares.

Em resumo: consumimos muito os recursos naturais e devolvemos grande quantidade de resíduos inservíveis e poluentes. Assim, agredimos a Mãe Natureza acima de sua capacidade de recuperação. Por outro lado, nas relações sociais e humanas, nunca produzimos tanta riqueza como agora. Mas, como dissemos, tudo tem o lado negativo. Assim, essa imensa riqueza produzida na economia mundial tem sido cada vez mais concentrada num menor número de pessoas físicas e jurídicas.

Segundo consta, cerca de 26 pessoas detêm metade de toda a riqueza do mundo.

A mecanização/informatização da produção extinguiu empregos, gerando bilhões de desempregados e subempregados.

O sistema financeiro produziu uma multidão de pobres e miseráveis ao redor da terra.  Isso se reflete nas tensões e conflitos entre os países, as regiões e os continentes. Dessa maneira, a fome, a exclusão social, a violência e a criminalidade, mostram sua cara feia em pleno século do futuro.

Essa somatória de crise ambiental com crise econômica e social leva a humanidade a uma crônica crise política em grande número de países, aumentando as propostas autoritárias, intolerantes, preconceituosas, com ameaças e investidas repetidas contra a democracia e a convivência pacífica entre os povos e as pessoas. São tempos difíceis.

Exige, de cada um e de todos nós, uma reflexão sobre o que somos e para onde iremos como seres humanos. Exige calma e determinação, análise e ação, tolerância e indignação. Exige que sejamos, antes de tudo, humanos, no sentido mais nobre da existência.

Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista