PÁTRIA INJUSTIÇADA

O Brasil é um país desigual. Muito desigual. Se não for o campeão, é o vice-campeão de desigualdade social do mundo. Isso é um fato incontestável, conhecido e reconhecido por todos.

Basta sair na rua em qualquer canto do país para verificar e confirmar esse fato. Mas, pior do que essa realidade é como o povo brasileiro aceita, justifica, convive, participa de toda essa repugnante desigualdade social.

No livro “A curvatura da banana”, Marcos Costa descreve de forma clara e resumida os motivos que fizeram o Brasil ser como é. Recomendo essa leitura. E nós sabemos, empiricamente, porque somos assim.

O caráter predatório de nossa descoberta pelos portugueses. A exploração da terra e dos indígenas. A existência odiosa de escravidão, que cobre de vergonha a nossa história. A atitude descarada e espoliativa de nossa elite política e econômica. A subserviência histórica do Brasil aos portugueses, depois aos ingleses, depois aos norte-americanos, e agora aos grandes conglomerados transnacionais, em particular ao capital financeiro.

E perpassando tudo isso, a carência cultural e a falta de postura do nosso povo.

Esse é o cardápio que compõe o prato pútrido de nossa desigualdade social.

É claro que durante esses 522 anos do Brasil houve incontáveis reações populares a essas iniquidades econômicas e sociais. Foram muitas lutas, revoltas, guerras internas, muitas delas sangrentas, que aconteceram. Houve muitos massacres, genocídios, torturas, violências contra as reações populares.

Mas a nossa desigualdade só aumentou.

Hoje vivemos uma situação inacreditável, onde as 8 pessoas mais ricas do Brasil possuem, somadas, a riqueza de cem milhões de brasileiros.

Hoje o sistema financeiro internacional recebe cerca de 45% do orçamento anual do país, a título dos juros e serviços da chamada dívida pública do Brasil.

Hoje 33 milhões de compatriotas passam fome e 70 milhões estão com o nome sujo por dívidas no mercado.

Hoje o desemprego é enorme e junto com a informalidade atinge cifras assustadoras de nossa força de trabalho.

Ao lado desse quadro o Brasil convive com sua imensa e diversa área territorial, com seus recursos naturais abundantes, que vêm sendo consumidos de forma predatória e criminosa, com sua gigantesca produção agropecuária, que é uma das maiores do mundo.

Não vemos no cenário nacional a possibilidade da implantação de um programa político, econômico, social e ambiental que se proponha a reverter esse quadro.

No tão propalado programa social de compensação de renda, durante os anos ditos mais pujantes, foram distribuídos 300 bilhões de reais aos necessitados e, no mesmo período, os bancos lucraram 3 trilhões de reais.

Parece uma piada, mas é a cruel realidade do Brasil.

Como sair dessa?

Não é fácil ajeitar a “curvatura da banana”.

O Brasil é dominado de cima a baixo, desde seu descobrimento, por um sistema desforme e cruel que criou toda essa desigualdade, hoje acrescida por uma malha capilar do crime organizado e uma cultura de violência pessoal e social mortíferas.

Romper essa iniquidade é tarefa para homens e mulheres que, juntos, possam libertar de verdade a pátria brasileira.

 

Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista

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