Saiu no Diario do Comercio

Vereador pede tombamento de cinema ameaçado de fechar 

 

Na sua argumentação, o vereador faz um breve histórico da tradição cinematográfica do local remetendo às suas origens no já distante ano de 1943.
 

No momento, o destino do Cine Belas Artes está entregue às lacônicas 17 linhas de um ofício que o vereador Gilberto Natalini (PSDB) encaminhou ontem pela manhã ao arquiteto José Eduardo de Assis Lefèvre, presidente do Conpresp. O tucano foi bater na porta adequada, pois a sigla identifica o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo, que define e fiscaliza tombamentos na cidade.
 

 

Caso o pleito seja atendido, o conjunto de seis salas de cinema quase na esquina da Rua da Consolação com a Paulista se tornará intocável, isto é, nem mesmo uma simples torneira de seus banheiros poderá ser removida. Portanto, seu anunciado fechamento no início da semana estará cancelado.
 
Na sua argumentação, o vereador faz um breve histórico da tradição cinematográfica do local remetendo às suas origens no já distante ano de 1943, quando ali foi instalado o Cine Ritz. Se todas as poltronas foram ocupadas na sessão de estreia, exatos 915 espectadores assistiram ao clássico "Ser ou Não Ser", estrelado por Carole Lombard, a mítica loira que deixou o ator Clark Gable prematuramente viúvo.
 
A casa daria lugar, em 1952, ao luxuoso Cine Trianon, que podia abrigar a hoje inimaginável, para um cinema, quantidade de 1380 pessoas. Finalmente, em 1967, uma ampla reforma deu ao edifício os contornos que agora conhecemos.
 
Naquela ocasião, o espaço ficou distribuído em três salas destinadas a filmes de arte. Um dos que participaram de sua inauguração foi o célebre "Anjo Exterminador", de Luiz Buñuel. O arrazoado de Natalini evoca um passado agradável e nostálgico que pode ser melhor explorado no livro Salas de Cinema de São Paulo, escrito por Inimá Simões.
 
Portanto, agora, a bola está com o Conpresp. No caso, nem será necessário que o órgão decrete o tombamento. Basta aceitar a sugestão e abrir processo a respeito para que o imóvel passe à categoria dos bens imutáveis da Capital. Ou seja: a partir dessa decisão, nada poderá ser modificado ali. Aguarda-se a próxima reunião, se o assunto entrar em pauta.
Os rumores do fechamento corriam desde meados de 2010, coincidindo com o fim do patrocínio mantido pelo banco HSBS. Na época, André Sturm, sócio-proprietário, advertiu que, sem esse dinheiro, seria difícil manter a casa em funcionamento. Mobilizações feitas aqui e ali não tiveram efeito.
 
É provável que a família Maluf, proprietária do prédio – nada a ver com o conhecido político – não esteja satisfeita com o desfecho. A suspeita nasce do fato de que os cines Ritz e Trianon tiveram com o proprietário Phillippe Azer Maluf longa ligação com o mundo do cinema.
 
Mas também é possível que desta vez a magia das telas tenha encontrado um forte concorrente. Com a instalação de uma estação da Linha 4 do Metrô ao lado, e a poucos metros da Paulista, o lugar se tornou estratégico ponto comercial.
 
Riviera – Caso o fechamento se concretize, aquela esquina perderá sua segunda referência cultural da região. A primeira foi o Bar Riviera, do outro lado da rua, no sentido Paulista, que fervia de paixão, idealismo e debates intermináveis alimentados por sucessivas gerações de jovens que construíram uma ponte no tempo da década de 1960 até o fim do bar, em abril de 2006.
 

 

Fonte: texto de José Maria dos Santos – 11/1/2011 – 20h23 no Diário do Comércio

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