3600 pessoas acompanharam online a 19ª Conferência de Produção Mais Limpa e Mudanças Climáticas

Há 19 anos acontece em São Paulo a Conferência de Produção Mais Limpa e Mudanças Climáticas, que tem como objetivo intermediar o diálogo entre cidadãos, instituições, iniciativa privada e governo, para aprofundar a discussão sobre os três pilares da sustentabilidade: ambiental, econômico e social, além de propor políticas públicas e legislações de caráter mais objetivo e resolutivo. Esse evento é fruto da lei de autoria do vereador Gilberto Natalini (PV), que é o proponente e presidente da Conferência.

Realizada pela primeira vez exclusivamente em plataformas digitais, nesta segunda-feira (01/6), a 19ª edição da Conferência de Produção Mais Limpa e Mudanças Climáticas reuniu diversos especialistas e interessados em temas relacionados ao Meio Ambiente para tratar de “Emergência Climática e a cidade de São Paulo”. Mesmo online, 3600 pessoas participaram do evento.

Ao final das discussões, foi elaborada uma sugestão de carta compromisso que, entre outros pontos, estabeleceu a prioridade da revisão das metas de redução das emissões de gases do efeito estufa, que está vencida desde 2012 na cidade de São Paulo. Outro compromisso é com a defesa da elaboração de um Plano Municipal de Adaptação às Mudanças Climáticas, definindo claramente as ações, as metas e os objetivos para enfrentar as vulnerabilidades da cidade, como muitas áreas sujeitas a enchentes e inundações, áreas de risco geotécnico de escorregamento e a redução das ilhas de calor.

O PR (Projeto de Resolução) 4/2002, de autoria do vereador Gilberto Natalini (PV), deu origem à Lei para realização anual do evento. Logo na abertura, Natalini falou sobre a luta para tornar São Paulo uma cidade sustentável, principalmente para preparar a cidade para enfrentar o aquecimento global e os efeitos climáticos extremos. Ele ressaltou a gravidade da derrubada de árvores e mata, sobretudo nas áreas de mananciais com invasões irregulares.

O encontro contou com apoio e participação do ambientalista e ex-secretário de Meio Ambiente de São Paulo, Fabio Feldmann, do diretor do Instituto de Biociências da USP, Marcos Silveira Buckeridge, secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, da presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB-SP, Glaucia Savin, diretor de desenvolvimento sustentável da Fiesp, Mario Hirose, do presidente da Associação Comercial de São Paulo, Alfredo Cotait, do presidente do SIEMACO, José Moacyr Pereira,  entre outros.

PALESTRA COM CARLOS NOBRE
A Conferência teve início com uma palestra magna, proferida pelo professor Carlos Nobre, um dos mais renomados cientistas e meteorologistas do Brasil. Ele abriu a exposição ressaltando a mudança positiva perceptível durante a pandemia no que diz respeito ao meio ambiente, e disse que chegou a fotografar pela primeira vez um tucano no condomínio onde mora, em São José dos Campos.

Paulistano nascido na Penha, Nobre disse que São Paulo chegou a ter metas importantes na área ambiental, e acabou deixando de lado. O cientista lembrou que as principais fontes de emissão de CO2 na cidade são energia e transportes, além do aumento de desmatamento por ocupação ilegal em áreas de várzea. Pediu atenção para o que chamou de emissão de CO2 importadas, que ocorre, por exemplo, quando o paulistano é um dos maiores consumidores de carne bovina, proveniente sobretudo da Amazônia, local que é um grande vetor de desmatamento de mata atlântica.

TRANSPORTE PÚBLICO ELÉTRICO E ECONOMIA CIRCULAR
Entre as importantes medidas consideradas por ele, está a adoção de biodiesel nos veículos do transporte coletivo, que podem impactar positivamente nas ações e metas de redução de emissão de gases tóxicos. Mas, para Nobre, isso não é suficiente, e que o Brasil precisa avançar no transporte público elétrico. “São Paulo pode ser exemplo se ampliar a implantação imediata de um plano de adaptação, porque as mudanças climáticas já são uma realidade presente e que causam enormes prejuízos econômicos, e que afetam a saúde e qualidade de vida de todo paulistano”, declarou.

Ele ainda defendeu a implementação da economia circular, onde se reduz de maneira drástica o descarte de resíduos, inclusive na geração de energia de forma a reutilizar os materiais de lixo eletrônico, e recarregar com o uso de energia solar e eólica.

MESA DE DEBATES
Na sequência, houve uma mesa de debates com o tema “Políticas Públicas na Agenda Ambiental”. A discussão foi aberta pelo climatologista e meteorologista José Antonio Marengo Orsini, alertando que o município não precisa esperar mais 30 anos para saber que já vive uma situação de emergência climática. Segundo o especialista, basta observar o aumento das chuvas e de desastres como enchentes, alagamentos e deslizamentos de terra. Ele apresentou dados para mostrar como nas últimas décadas o volume de chuvas aumentou exponencialmente na Grande São Paulo, ao mesmo tempo em que vivemos alguns períodos caóticos de seca com prejuízos no abastecimento de água, por exemplo. “A implementação de políticas públicas que colaborem com o meio ambiente, precisa estar em harmonia entre o país, estados e municípios. Mas cada cidade precisa ter um levantamento personalizado das suas necessidades emergentes”, defendeu.

Depois foi a vez da diretora do Projeto ProAdapta da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit – GIZ, Ana Carolina Câmara, que falou de ações de implementação de adaptação no Brasil, e reafirmou a necessidade de projetos personalizados para cada local. Ela deu o exemplo da cidade de Santos que elaborou um plano e criou uma comissão municipal de mudança do clima com representação de várias secretarias, com o intuito de investigar o impacto no município. A partir dessa base foi possível identificar quais são as prioridades. Uma das medidas observadas foi a ação no Morro de Monte Serrat, uma área muito suscetível a deslizamentos. “Estão sendo organizadas medidas de recuperação de áreas que foram desocupadas, e que vão ter a vegetação recuperada para reduzir os problemas de deslizamento, que também ajudam no conforto térmico e embelezamento cênico”, exemplificou.

Sobre a cidade de São Paulo, Câmara defendeu um esforço intersetorial, que envolva o esforço do Poder Público em diversas áreas e a participação da iniciativa privada. “Quando cada gestor coloca a lente climática na visão de suas ações, você coloca a sustentabilidade como prioridade em cada passo a ser dado”, disse.

SAÚDE E MEIO AMBIENTE
Para encerrar, o presidente do Centro de Bioética do Instituto Israelita Albert Einstein, médico Henrique Gruspun, fez uma exposição dos diferentes efeitos que as alterações climáticas podem causar, de maneira prática, na piora do estado de saúde das pessoas. Ele mostrou as diversas situações de extremos de temperaturas ou condições do clima e suas consequências na vida do homem.

No caso de uma onda de calor, por exemplo, acima de 35 graus por dias ou semanas seguidas, o médico disse que se houver umidade no ambiente, a sensação térmica pode passar de 50 graus. Nessa situação, ocorre uma espécie de febre climática, na qual as pessoas têm dificuldade de dissipar o calor do corpo. Numa primeira fase, pessoas expostas a essas condições se desidratam e podem apresentar exaustão térmica. Em casos intensos, crianças e idosos podem entrar em hipertermia com risco de morte. Pessoas expostas ao sol podem apresentar insolação. Em cada diferente tipo de extremo climático, com a queda na qualidade da saúde das pessoas, isso também pode levar a problemas do próprio sistema de atendimento de saúde.

POLÍTICAS PÚBLICAS E BAIXO ORÇAMENTO
Após o debate, o vereador Natalini reafirmou a necessidade de São Paulo avançar no enfrentamento às alterações de clima, defendendo que há muito atraso nesta questão e na adoção políticas públicas neste sentido. “O poder público deixou isso de lado. O orçamento da Secretaria do Verde e Meio Ambiente era 0,3% do total em 2003, subiu para 1,1% em 2012, mas agora e voltou a ser 0,3. Regredimos. Onde não se põe dinheiro, não se vê importância” reclamou.

Assista o evento na íntegra.

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