Em 2001, primeiro ano do meu primeiro mandato como vereador da cidade de São Paulo, eu apresentei na Câmara Municipal um Projeto de Resolução (PR 04/2002) que criava a Conferência Municipal de Produção Mais Limpa e Mudanças Climáticas (Conferência P+L).
Todo ano, durante 20 anos, eu organizava e presidia, com cerca de 400 parceiros do Poder Público, de empresas privadas, de entidades da sociedade civil, das universidades e dos sindicatos, essa Conferência que passou a ser o maior evento ambiental da cidade e referência nacional do assunto. Por vários anos realizamos os encontros no Memorial da América Latina, lotando os dois auditórios. Por muitas vezes participaram até 5 mil pessoas.
O interessante é que o público participante variava desde renomados cientistas, professores, governantes, parlamentares, empresários, sindicalistas, religiosos, comunicadores, estudantes, até líderes populares de toda a cidade. Essa diversidade era a nossa grande riqueza. Cada ano escolhíamos um tema e a conferência girava em torno dele.
No final dos trabalhos era aprovada uma Carta Compromisso e as conclusões eram levadas para todas as instâncias, inclusive eu apresentava Projeto à Câmara, que se transformava em Lei, para ser aplicada na cidade. Assim, a Primeira Conferência, que aconteceu no Auditório da FIESP, tratou da Água. Foi um sucesso! Dali saiu a Lei do Reuso da Água, que obriga a utilização de água de reuso pela Prefeitura para lavar ruas, calçadas e monumentos, e regar áreas verdes, poupando bilhões e bilhões de litros de água potável nesses mais de vinte anos, além da economia financeira. Repito: um sucesso!
Dentre as demais variadas discussões, tivemos ainda o encontro com o tema dos Resíduos, que ajudou a modernizar o conceito do tratamento do lixo na cidade. E também foi ideia de uma das Conferências a criação da Comissão de Estudos sobre o Aquecimento Global da Câmara Municipal de São Paulo. Proposta e presidida por mim, e aberta com a presença do Professor Carlos Nobre, ela foi pioneira no parlamento paulistano e brasileiro, precedendo a Lei Municipal de Mudanças Climáticas, proposta pelo Executivo e aprovada em 2009, também pioneira na legislação nacional. Outro exemplo foi o tema sobre combustíveis limpos na frota de ônibus, discutido na Conferência de 2004, que resultou no PL nº 260/2004 apresentado por mim, iniciando as discussões do assunto na Câmara e inspirando novo projeto, que se desdobrou na aprovação da Le nº 16.802/2017, dos ônibus elétricos.
A Conferência me levou a representar o parlamento paulistano em quatro COPs e no C40, servindo de exemplo de debate e ação para todo o país. Ela foi a base de aprendizado, mobilização e práticas na área ambiental e de sustentabilidade durante os meus cinco mandatos como vereador de São Paulo. A partir dela escrevemos vários artigos e publicamos dois livros sobre o assunto, que ainda estão muito atuais: “Mudanças climáticas, do global ao local” (Gilberto Natalini/Tatiana Tucunduva – 2008) e “Por uma São Paulo Mais Sustentável” (Gilberto Natalini/Marcelo Morgado – 2017). Mas, o mais importante, é que a Conferência, em suas várias versões, deu base para ações práticas nas lutas e conquistas por parques, por arborização, por uso racional da água, por combate à poluição do ar, por programas de reciclagem e tratamento do lixo, e tantas outras.
São Paulo ainda não é uma cidade sustentável, mas, sem dúvida, avançamos em muitas conquistas. Tenho certeza que nossa Conferência P+L, como é chamada, contribuiu e continua contribuindo para melhorar a qualidade de vida e o meio ambiente da cidade.
Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista