Apesar da lenda de pacifismo, o Brasil sempre foi um país violento, desde o descobrimento.
O extermínio cruel dos povos indígenas, a barbárie da escravidão, a truculência das reações aos movimentos populares e repressão das duas ditaduras do século passado (Getúlio e militares) são fatos concretos da violência institucional no Brasil.
Mas, também convivemos com um estado crônico de violência individual nas casas e nas ruas, com os crimes praticados pelo racismo estrutural, os crimes contra as mulheres, os idosos e as crianças, as brigas de trânsito, das torcidas organizadas, a intolerância religiosa e outras barbaridades cometidas por brasileiros contra brasileiros.
Esse clima de insegurança, de agressões, de ações criminosas, de violência estrutural, acompanha a vida de nosso povo desde o início.
Portanto, os fatos históricos desmentem a fábula da “cordialidade dos brasileiros”, na medida que os crimes e as agressões, acontecem cotidianamente entre nós.
Mas, de alguns anos para cá, esse culto à violência tornou-se mais visível e organizado, transformando-se em uma corrente de comportamentos, que apregoa e pratica esse comportamento abertamente, no dia a dia, através das mídias sociais por declarações de autoridades, de lideranças comunitárias e religiosas, por “influencers”, por ídolos esportivos e artistas.
Verdadeiras falanges organizadas se multiplicam pregando as agressões, a intolerância e o preconceito como um modo de vida.
Isso se caracteriza pelas ofensas sociais, religiosas e ideológicas, com ataques verbais e físicos, com o uso disseminado de armas, com o incremento da truculência policial.
Quanto mais aumenta a desigualdade social (que já é enorme), mais multiplicam-se os atos de ataques interpessoais e coletivos.
As barbaridades praticadas por quadrilhas do crime organizado em todo o país tomou um caráter de guerra urbana.
E por último, estamos vendo repetir-se os ataques às escolas, praticados pelos próprios jovens estudantes.
Meu diagnóstico é que somos uma comunidade bastante doente, do ponto de vista das relações humanas. Além é obvio das doenças físicas que flagelam o Brasil.
Diante desse quadro dramático que vivemos, muitos clamam pela ação policial em si.
É claro que diante da gravidade dos crimes cometidos, precisamos das ações de polícia, que tem que ser valorizada, modernizada e saneada com urgência.
Porém, só a polícia não fará o tratamento das causas de nossas mazelas.
A diminuição efetiva das desigualdades sociais e a melhoria da qualidade de vida, o combate republicano à corrupção, às fake news e às ideias de cunho nazifascistas, terroristas e violentas, o exercício da cultura de paz, o desarmamento físico e mental da sociedade, o combate efetivo ao crime organizado, ao tráfico de drogas e armas, o estímulo à vida comunitária, à espiritualidade e à solidariedade são práticas que ajudam a combater e diminuir a violência na sociedade.
É uma tarefa hercúlea, que deve ser feita pelo governo e por todas as instituições do país.
Esse movimento precisa ganhar as ruas e os corações!
Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista