Sampa e Jampa sofrem com chuvas intensas
Em São Paulo, no dia 24 de janeiro de 2025, em apenas duas horas, choveu na maior metrópole da América Latina, maior PIB do Brasil, inacreditáveis 125,4 milímetros, o equivalente à metade do volume previsto para todo o mês de janeiro. Foi, talvez, a chuva mais violenta já registrada num pequeno período de tempo. Em tempos de discurso ecológico, a cidade se afogou em água, e em lágrimas. Ruas e praças se transformaram em rios e lagos. Casas, prédios, lojas e bares foram rapidamente invadidos por enxurradas violentas. A mudança climática está presente, não há mais como negar! Até o metrô, excelência de nosso transporte coletivo, teve uma de suas estações invadida pela violência das águas. Lamentavelmente, dadas às circunstâncias, um idoso morreu afogado no quintal de sua casa. Foi assustador! Na capital paulista, apesar do enorme volume da chuva, as cheias se escoaram num tempo rápido. Mas os estragos e prejuízos – graves – ficaram para ser contabilizados. Chuvas e enchentes sempre acontecem em São Paulo, cidade global, megalópole brasileira, e há muito tempo, como também, na secular João Pessoa. Todavia, nos últimos 20 anos, o volume das chuvas tem aumentado e o tempo que a chuva cai tem diminuído, segundo estudo do nosso maior e mais respeitado cientista, Carlos Nobre. Como todos nós sabemos, Sampa tem vários apelidos: “Cidade da garoa”, “Cidade que não pode parar”, “Terra das oportunidades”, “Paulicéia desvairada”, entre outros. Mas, convenhamos, o codinome mais condizente com nosso relevante artigo é, certamente, “Selva de Pedra”. Até porque isso indica o destino da cidade; da nossa, e de tantas outras que seguem buscando a modernidade, como a cidade de João Pessoa. Assim, parece evidente: a cidade de São Paulo, com seus 471 anos, foi crescendo e ocupando o Planalto de Piratininga de forma desplanejada, desordenada e agressiva. Foi derrubada a exuberante cobertura verde de Mata Atlântica e Cerrado. Foram ocupadas as encostas dos morros e as várzeas de seus três rios e cerca de 500 córregos, num urbanismo avesso, nervoso e profundamente desigual. Suas duas mil favelas e seus 3,4 milhões de imóveis, como se sabe, nasceram e cresceram em ruas tortuosas e íngremes, tanto em seu Centro expandido, como nas imensas periferias. Mas, que fique bem claro: a parte mais perigosa nesses tempos desconexos e conflitivos de aquecimento global e desajuste planetário, foi a gigantesca impermeabilização do solo urbano, com asfalto e cimento, que impede a água de drenar para o subsolo, provocando os verdadeiros rios que se formam nas ruas e avenidas quando as fortes chuvas e tempestades chegam. De todo modo, os três Planos Diretores aprovados nos últimos 20 anos só fizeram piorar essa situação, até porque, e isso não é segredo, foram permissivos no adensamento com edifícios, sem nenhum cálculo de suporte que proteja a sustentabilidade dos 96 distritos, que juntos compreendem um total de 472 bairros e com 12,3 milhões de habitantes. Agora, frente a essa triste e preocupante realidade, a Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP) tem tomado várias medidas no sentido de enfrentar os efeitos extremos das mudanças climáticas sobre a cidade mais populosa do Brasil. Em 2009, por exemplo, foi aprovada a Lei Municipal das Mudanças Climáticas, pioneira no Brasil. O número de Parques Públicos Municipais que eram 36 em 2004, hoje são 118, e estão sendo inaugurados outros. Já as matas remanescentes que foram atacadas pelo crime organizado nas áreas de mananciais, com a derrubada de 1,5 milhão de árvores no período de 2014 a 2020, terão cerca de 150 milhões de m² desapropriados pela PMSP, e serão transformados em parques públicos municipais, ficando assim protegidos. A manutenção das galerias pluviais e a limpeza de córregos vêm sendo feitas em bom número, o que tem garantido o escoamento rápido das águas das chuvas. Mas o problema da impermeabilização de ruas, calçadas e áreas construídas permanecem e até piora. Portanto, quando o céu desaba em chuva sobre Sampa, vemos as águas ocupando o espaço urbano e destruindo as “coisas belas”, como canta Caetano Veloso. As chuvas intensas também provocaram o caos em João Pessoa, a capital da Paraíba. No dia 28 de janeiro de 2025, quatro dias depois de fortes chuvas que atingiram Sampa, elas chegaram a Jampa, “E fosses à Paraíba”, como canta Caetano em “Terra”, causando grandes transtornos a capital paraibana. O volume de chuva foi de 93,4 milímetros na cidade, provocando alagamentos, deslizamentos e desabamentos, além de excesso de lama e sujeira nas ruas, nas casas ou muros desabando com a força das águas. Em Jampa, a cidade mais rica e mais populosa da Paraíba, as águas cobriram as rodas de aço dos veículos leves sobre trilhos (VLTs) na Estação João Pessoa da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), que em frente estava completamente alagada, por motivos de segurança dos passageiros e dos funcionários, a CBTU paralisou suas atividades de transporte público coletivo temporiamente no dia 28. A Terra está sofrendo com as mudanças climáticas, afetando cidades como João Pessoa e São Paulo, ambas são as capitais brasileiras como a maior concentração de renda do país, logo, precisam urgentemente adotar medidas sustentáveis para redução da emissão de gases do efeito estufa (GEE); preservação dos biomas; investimentos em infraestrutura urbana adaptada as chuvas intensas nas cidades; e mudança de hábitos de consumo de bens e serviços para proteger o planeta. Finalmente, diante do nervosismo da mudança do clima, desimpermeabilizar é urgente e preciso! E por razões particulares, enfrentar as mudanças climáticas e as outras agressões à Natureza (mãe da Humanidade) é, sim, a nossa mais fundamental tarefa para se pensar no que todos desejam: um futuro ecológico sustentável, um planeta seguro, limpo e habitável. (1) Gilberto Natalini é médico e ambientalista brasileiro.(2) Marcus Eduardo de Oliveira é economista e ativista ambiental brasileiro.(3) Paulo Galvão Júnior é economista brasileiro.
São Paulo: a chuva que cai!
Em apenas duas horas, choveu na maior metrópole da América Latina, maior PIB do país, inacreditáveis 125,4mm, o equivalente à metade do volume previsto para todo o mês de janeiro. Foi, talvez, a chuva mais violenta já registrada num pequeno período de tempo. Em tempos de discurso ecológico, a cidade se afogou em água, e em lágrimas. Ruas e praças, aqui e ali, se transformaram em rios e lagos. Casas, prédios e comércio foram rapidamente invadidos por enxurradas violentas. A mudança climática está presente, não há mais como negar! Até o Metrô, excelência de nosso transporte coletivo, teve uma de suas estações invadida pela violência das águas. Lamentavelmente, dadas às circunstâncias, um idoso morreu afogado no quintal de sua casa. Foi assustador!!! Conquanto, apesar do enorme volume da chuva, as cheias se escoaram num tempo rápido. Mas os estragos e prejuízos – graves, é certo – ficaram. Chuvas e enchentes, não é novidade, sempre acontecem em São Paulo, cidade global, e há muito tempo. Todavia, nos últimos 20 anos, o volume das chuvas tem aumentado e o tempo que a chuva cai tem diminuído, segundo estudo do nosso maior e mais respeitado cientista, Carlos Nobre. Como todos sabemos, Sampa tem vários apelidos: “cidade da garoa”, “cidade que não pode parar”, “terra das oportunidades”, “Paulicéia desvairada”, entre outros. Mas, convenhamos, o codinome mais condizente com nosso assunto aqui tratado é, certamente, “Selva de Pedra”. Até porque isso indica o destino da cidade; da nossa, e de tantas outras que seguem buscando a modernidade. Assim, parece evidente: a cidade de São Paulo, com seus 471 anos, foi crescendo e ocupando o Planalto de Piratininga de forma desplanejada, desordenada e agressiva. Foi derrubada a exuberante cobertura verde de Mata Atlântica e Cerrado. Foram ocupadas as encostas dos morros e as várzeas de seus três rios e cerca de 500 córregos, num urbanismo avesso, nervoso e profundamente desigual. Suas duas mil favelas e seus 3,4 milhões de imóveis, como se sabe, nasceram e cresceram em ruas tortuosas e íngremes, tanto em seu centro expandido, como nas imensas periferias. Mas, que fique claro: a parte mais perigosa nesses tempos desconexos e conflitivos de aquecimento global e desajuste planetário, foi a gigantesca impermeabilização do solo urbano, com asfalto e cimento, que impede a água de drenar para o subsolo, provocando os verdadeiros rios que se formam nas ruas quando as grandes (e fortes) chuvas e tempestades chegam. De todo modo, os três Planos Diretores aprovados nos últimos 20 anos só fizeram piorar essa situação, até porque, e isso não é segredo, foram permissivos no adensamento com edifícios, sem nenhum cálculo de suporte que proteja a sustentabilidade dos bairros. Agora, frente a essa triste e preocupante realidade, a Prefeitura de São Paulo tem tomado várias medidas no sentido de enfrentar os efeitos extremos das mudanças climáticas sobre a Cidade. Em 2009, por exemplo, foi aprovada a Lei Municipal das Mudanças Climáticas, pioneira no Brasil. O número de Parques Públicos Municipais que eram 36 em 2004, hoje são 118, e estão sendo inaugurados outros. Já as matas remanescentes que foram atacadas pelo crime organizado nas áreas de mananciais, com a derrubada de 1.500.000 árvores no período de 2014 a 2020, terão cerca de 150 milhões de m² desapropriados pela Prefeitura, e serão transformados em parques públicos municipais, ficando assim protegidos. A manutenção das galerias pluviais e a limpeza de córregos vêm sendo feitas em bom número, o que tem garantido o escoamento rápido das águas das chuvas. Mas o problema da impermeabilização de ruas, calçadas e áreas construídas permanece e até piora. Portanto, quando o céu desaba em chuva sobre Sampa, vemos as águas ocupando o espaço urbano e destruindo as “coisas belas”, como canta Caetano. Tal e qual, diante do nervosismo do Clima, desimpermeabilizar é urgente e preciso! E por razões particulares, enfrentar as mudanças climáticas e as outras agressões à Natureza (mãe da Humanidade) é, sim, a nossa mais fundamental tarefa para se pensar no que todos desejam: um futuro ecológico sustentável, um planeta seguro e habitável. (*) Gilberto Natalini é médico e ambientalista. (**) Marcus Eduardo de Oliveira é economista e ativista ambiental Imagem de Joel santana Joelfotos por Pixabay
O STRESS DOS HUMANOS
GILBERTO NATALINI- Médico e Ambientalista
Tempos quentes e difíceis.
Tempos quentes e difíceis. https://natalini.com.br/wp-content/uploads/2025/01/Video-do-WhatsApp-de-2025-01-13-as-14.47.39_69b4a65a.mp4 NOTÍCIAS Tempos quentes e difíceis. Ainda estamos aqui A PAZ, ORA A PAZ! Ainda estamos aqui Corrupção: mania nacional !!! 2025: ano imprevisível ??? 2025: UM ANO IMPREVISÍVEL? 2025: UM ANO IMPREVISÍVEL? PAIXÃO PELA MEDICINA! O ANO VAI CHEGANDO AO FIM
A PAZ, ORA A PAZ!
Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista
Ainda estamos aqui
Há semanas atrás, fui com minha família assistir ao filme de Walter Salles, com Fernanda e Fernanda, Selton Mello, e outros excelentes atores. Confesso que há muito tempo eu não sentia um impacto tão forte. Conforme o filme foi passando em sua forma e conteúdo perfeitos, alguma coisa começou a apertar meu peito e minha cabeça, e eu me senti mal. A história da prisão, assassinato e desaparecimento do brasileiro Rubens Paiva em 1971, tão realística e plasticamente retratada, foi desencavando dentro de mim lembranças e sentimentos de 53 anos passados. Não que estivessem esquecidos, mas estavam devidamente guardados dentro de minha existência. Fiz de imediato o paralelo entre o desenrolar do drama e minha própria história de vida, e de milhares de pessoas, muitas que convivi pessoalmente e outros que conheci à distância. Lembrei-me como se fosse hoje, daquele agosto de 1972, quando duas veraneios do DOI-CODI/SP me sequestraram na Rua Guiratinga, Bosque da Saúde, a 50 metros da casa do meu avô Rafael, onde eu morava e cursava o 3°ano da Escola Paulista de Medicina. Eram 6:30h da manhã, e a “ruazinha deserta”, permitiu que ninguém visse minha prisão-sequestro.Fui levado para o DOI-CODI, nos fundos do 36° DP, na Rua Tutoia. Lá, fui recebido pelo “Dr.Tibiriça”, popularmente conhecido como Carlos Alberto Brilhante Ustra.Começou o interrogatório que não vou descrever aqui. Sobrevivi. Só sei que sai de lá, 2 meses depois, deficiente auditivo bilateral, e com a sensação da certeza que nossa luta era justa e repleta de razão. Ali sofri e testemunhei barbaridades. Rubens Paiva morreu na tortura, como Herzog, Benetazzo, Fiel Filho, Alexandre Vannuchi e tantos outros, vítimas da barbárie que se instalou no Brasil, pelas mãos da Ditadura Militar. Hoje, passados mais de 50 anos, ao terminar de assistir “Ainda Estou Aqui”, sai do cinema com uma sensação calma de felicidade. Ao ver a reação do Brasil e do mundo ao filme, entendi o salto do impacto de meu sofrimento inicial à onda de alívio de que fui tomado. Esse filme, contou com perfeição e elegância a História do Brasil e de brasileiros, que como Rubens Paiva, dedicaram sua vida à causa maior da humanidade: a liberdade!!! Gilberto Natalini- Médico e Ambientalista
Corrupção: mania nacional !!!
Corrupção: mania nacional !!! https://natalini.com.br/wp-content/uploads/2025/01/Video-do-WhatsApp-de-2025-01-04-as-08.51.16_97ebc971.mp4 NOTÍCIAS Corrupção: mania nacional !!! 2025: ano imprevisível ??? 2025: UM ANO IMPREVISÍVEL? 2025: UM ANO IMPREVISÍVEL? PAIXÃO PELA MEDICINA! O ANO VAI CHEGANDO AO FIM POR UM BRASIL LIVRE DA POLARIZAÇÃO! UM PAÍS BANDIDO? URUGUAI: livre da polarização, exemplo de Democracia O BRASIL E O MUNDO PENSANDO NA COP-30
2025: ano imprevisível ???
2025: ano imprevisível ??? https://natalini.com.br/wp-content/uploads/2025/01/Video-do-WhatsApp-de-2025-01-04-as-08.50.25_a17f380b.mp4 NOTÍCIAS 2025: ano imprevisível ??? 2025: UM ANO IMPREVISÍVEL? 2025: UM ANO IMPREVISÍVEL? PAIXÃO PELA MEDICINA! O ANO VAI CHEGANDO AO FIM POR UM BRASIL LIVRE DA POLARIZAÇÃO! UM PAÍS BANDIDO? URUGUAI: livre da polarização, exemplo de Democracia O BRASIL E O MUNDO PENSANDO NA COP-30 POLARIZAÇÃO NÃO!
2025: UM ANO IMPREVISÍVEL?
Chegamos no falado Ano Novo! Pelo “andar da carruagem” acho mesmo que não podemos prever como será. As incertezas habitam nossas vidas. A Geopolítica se movimenta rápido demais, recheada de turbulências. A governança mundial, que deveria ser articulada pela ONU, se enfraquece frente aos interesses das nações e blocos de países, numa nova guerra fria, entre os EUA, a China, a Rússia e a Europa. Cada qual defende seus regimes, seus mercados, seus negócios, seus territórios. O Mundo chega nesse novo ano se contorcendo na angústia das incertezas frente aos fenômenos climáticos extremos, à exaustão dos recursos naturais, à colossal montanha de resíduos e dejetos despejados no Meio Ambiente, como restos do nosso consumo frenético e perdulário. A Mãe Natureza paga a conta! A produção econômica é infinita, altamente concentradora de riquezas e produtora de uma desigualdade social gigantesca, que chega a ser pornográfica aos olhos do humanismo mais simples. Pela seca, pela fome, pelos conflitos locais, milhões e milhões de humanos se deslocam em hordas infindas de migrantes, que partem e chegam, buscando vida melhor e criando o fantasma da invasão étnica e religiosa. A espiritualidade e a ética cada vez mais são artigos raros, que vão se transformando em manifestações de fanatismos, muitas vezes acompanhadas de violência e terrorismo. Na incapacidade dos regimes democráticos tradicionais de gerir essa barafunda, surgem lideranças que parecem egressos de hospícios da política: Trump, Putin, Orban, Ortega, Kim, Netanyahu, Khamenei, Maduro, Milei, Bolsonaro. E por aí vai. Todos com milhões de seguidores. É claro que na imprevisibilidade desses tempos surgem tratamentos médicos, vacinas, descobertas de cura para doenças terríveis. A tecnologia avança nas energias mais limpas, na sofisticação da inteligência artificial, na amplidão das redes sociais, nas produções culturais e artísticas, nas descobertas cientificas da biologia, da eletrônica, e de tantas outras. A evolução do conhecimento é revolucionária. Assim, dentro deste planetinha azul chamado Terra, quase 9 bilhões de humanos caminham para um ano novo. E com as pessoas cada vez vivendo mais. “Quem não estiver confuso, não está entendendo nada”, brinca o irreverente. É certo que no turbilhão dessa vida, todos têm, em diferentes graus, algum sofrimento mental, que varia de surtos de euforia à mais profunda depressão. E também presenciamos a escalada da violência, criminalidade, conflitos, guerras e acidentes fatais.Tudo dentro do mesmo caldeirão da nossa vida. Assim, vivendo na dualidade entre o bem e o mal, o criar e o destruir, o amar e o odiar, o esperar e o descrer, chegamos a 2025. Que ele possa nos proporcionar uma realidade mais próxima possível dos nossos sonhos generosos e solidários. Que a vida possa encarnar a alma da paz! Gilberto Natalini -Médico e Ambientalista
PAIXÃO PELA MEDICINA!
Desde os 5 anos de idade eu já dizia pra todo mundo que eu queria ser médico. Conforme o tempo passava mais eu me aproximava dessa ideia. Um tio médico, Dr. Euclides, pediatra, e um amigo da família, Dr. Manuel, clínico geral, foram exemplos bons que fortaleceram minha vontade pela profissão. Eu lia tudo sobre o assunto. Aos 16 anos decidi, para desespero da minha mãe, e apreensão de meu pai, vir para São Paulo, para a casa de “seu” Rafael, avô paterno, fazer o 3º Colegial e o cursinho, juntos, para prestar o vestibular. Todos da família me ajudaram muito, em particular minha tia Edhayr. E assim foi! Aos 18 anos incompletos passei no CESCEM, e entrei na Escola Paulista de Medicina, famosa e disputada, hoje pertencente à UNIFESP. No início foi difícil. Primeiro o Trote, que era torturante. Depois, enturmar não foi fácil. Éramos cerca de 30 alunos mais pobres, mas a turma de 120 tinha maioria classe média alta. Tudo isso foi sendo superado, pouco a pouco. As amizades foram se formando entre nós, e com os alunos das outras turmas. Em alguns meses já “éramos da casa”! Hoje, após 50 anos de formados, somos uma turma de grisalhos amigos. Vários já se foram. Os professores das cadeiras básicas eram mestres: o Prates, o Sasso, o Ribeiro do Valle, o Leal Prado, o Walter Leser, e seus assistentes, nos ensinaram os primeiros e definitivos passos de nossa profissão.Logo formamos um grupo de cerca de 20 alunos mais afinados ideologicamente e começamos a nos relacionar com lideranças de outros anos e de outras Faculdades. Estudávamos bastante, e no geral, passávamos sempre sem precisar fazer exames. Anatomia, Histologia, Fisiologia, Farmacologia, Bioquímica, Biofísica, Patologia, Medicina Preventiva, nos deram as bases da Ciência Médica. Logo no primeiro ano, começamos um grande ativismo na política estudantil, e em seguida fomos para o Centro Acadêmico, fazer o jornal “O Barretinho” e a militância estudantil, sem nunca deixar de estudar. Nunca perdemos um ano. Era a época da Ditadura Militar e eu fui preso em 1972, junto com outros colegas. Passamos o terror do DOI CODI, nas mãos do Major Ustra. Saímos vivos de lá. Mas depois fui preso mais várias vezes. Nada disso atrapalhou minha dedicação aos estudos e à vida acadêmica. A solidariedade dos colegas, dos professores da Escola foi emocionante. Nunca vou me esquecer disso. São muitos relatos e ações solidárias que tivemos. Fui monitor da Farmacologia e depois da Patologia Clínica. Aprendi muito. Lembro-me e sou grato aos Professores de Clínica e Cirurgia, Oswaldo Ramos, Duílio, Emil, Chibly, Milton, Mansur, Sporch, Deláscio, Chacra, Jardim, Rato, Carlini, Jair Guimarães, Michalany, Saul, Horácio, Gallucci, e tantos outros, com seus assistentes e residentes. No 5° ano, veio o internato, e arranjei plantões fora, de obstetrícia e clínica. Trabalhei em vários lugares, como plantonista acadêmico, como Maternidade de São Paulo, e tantos outros. Ganhava a vida e aprendia a profissão na prática. O Hospital São Paulo e seu Pronto Socorro, nosso Hospital Escola, eu nunca vou esquecer. Desde o 3° ano, na Terceira Enfermaria como estudante, até o último dia do 6° ano. Uma escola de prática médica e de humanismo. Me formei em 1975. Eu e mais 14 colegas não fomos à festa de formatura por um ato de protesto político. Nos formamos na sala do diretor, o Professor José Carlos Prates, a quem entreguei o Título de Cidadão Paulistano, depois, quando fui vereador. Aquela foi uma decisão muito forte, mas da qual não nos arrependemos. Ali, na E.P.M., durante 6 anos vi meu sonho de criança se realizar. Aprendi a Ciência Médica e a Prática Médica, o humanismo da medicina, que carrego até hoje, sem deixar de exerce-los nem por um dia. Em 1975, ano da formatura, prestei exame de Residência para Cirurgia. Passei no Hospital São Paulo, no Hospital do Servidor Público Municipal (H.S.P.M.) e no Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE). Optei pelo H.S.P.E., e fiz lá 2 anos de Gastro Cirurgia. Tive como mestres o Professor Goffi, o Nagamassa, o Godoy e tantos outros que me ensinaram a arte do bisturi. Tive como colegas o Ricardo, o Zampieri, o Ferrão, o Helvio, o Massatoshi. Foi uma época rica de aprendizado. Operei muito, e aprendi muito. Saí dali para a vida médica, sem antes liderar uma greve de residentes que obteve muitas conquistas trabalhistas, fundar e ser o 1° Presidente da AMERIAMSPE. Fiz no H.S.P.E. muitos amigos que convivo até hoje. Bons tempos! Ao lado disso tudo, fiz a política estudantil e a política médica, com muita intensidade. Fui também Diretor do Sindicato dos Médicos por 3 gestões, e Delegado da Associação Paulista de Medicina, onde estou até hoje. Fui gestor público também. Secretário de Saúde de Diadema de 1997/2000 e de São Lourenço da Serra em 2000, tendo sido eleito “Presidente do Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde-CONASEMS em 1999/2000, isto na época áurea da municipalização do SUS. Daí me elegi vereador na cidade de São Paulo e fiquei lá por 5 mandatos, quando decidi parar a vida parlamentar. Em janeiro de 1976, fui com mais 14 colegas fundar o Ambulatório Médico Voluntário na Igreja Bom Jesus do Cangaíba, zona leste de São Paulo. Atendemos lá há 48 anos ininterruptos, todo sábado, sendo que de um tempo para cá estamos eu, o Francé e o Nacime, e os voluntários leigos, Amaury, Coração, Neuza, e outros que vão esporadicamente. Ali fundamos a Associação Popular de Saúde, que foi pioneira nas lutas populares por saúde a partir da Zona Leste de São Paulo, com muitas conquistas. Participamos de todas as lutas sociais e políticas do povo brasileiro, por saúde, por qualidade de vida, por Democracia. Em dezembro de 2025, vou fazer 50 anos de formado. Nunca deixei de exercer minha profissão por um dia sequer. Fui médico concursado da Prefeitura de São Paulo, do Estado de São Paulo, do Sindicato dos Motoristas de São Paulo, da antiga Eletropaulo, e tenho consultório em Santo Amaro há quase 40 anos. Operei